quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Conversa de um filho da Terra com um filho do capitalismo

A Bacia das Almas

Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem o trabalho de vir buscar o seu arabutan. Uma vez um velho perguntou-me:



– Por que vêm vocês, mairs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para se aquecerem? Vocês não tem madeira na sua terra?

«E vocês por acaso
 precisam
de muita?»

Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas extraíamos dela tinta para tingir, tal o qual eles faziam com os seus cordões de algodão e suas plumas.



Retrucou o velho imediatamente:



– E vocês por acaso precisam de muita?



– Sim – respondi-lhe – pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que vocês podem imaginar, e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.



– Ah! – retrucou o selvagem – É assombroso o que você me conta.



E acrescentou, depois de compreender bem o que eu lhe dissera:



– Mas esse homem rico de quem você me fala não morre?



– Sim – disse eu – morre como os outros.



 

O missionário calvinista Jean de Léry tenta explicar o espírito do capitalismo a um índio tupinambá, durante sua permanência no Brasil na França Antártica em 1557.

Histoire d’un Voyage Fait en la Terre du Brésil, 1578



























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