quinta-feira, 15 de julho de 2010

Jornada menor e taxação de fortunas. Radicais? Uma pinóia!

Leonardo Sakamoto - http://blogdosakamoto.com.br/

Alguém me explique, por favor, eu imploro, por que a taxação de grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho estão sendo consideradas ações radicais? Aliás, radical na opinião de quem? Dos trabalhadores e da imensa maioria da população que se beneficiaria com essas medidas?

Primeiro, a Organização Internacional do Trabalho divulgou, recentemente, um estudo mostrando que a redução do teto da jornada para 40 horas semanais, como defendem as centrais sindicais, beneficiaria um contingente de 18,7 milhões de trabalhadores brasileiros.

(Enquanto isso, ao fundo, o coro das carpideiras do mercado canta: “Radicalismo! Radicalismo! Radicalismo! Esse povo quer destruir, com seus anseios de ficar mais tempo com a família, descansar, investir em formação pessoal, os fundamentos da democracia brasileira! Vão trabalhar, seus vagabundos! Só o trabalho liberta!”)

Há estudos que apontam que o PIB brasileiro comportaria um aumento até maior do salário mínimo, desde que houvesse uma real distribuição de renda, de direitos e de justiça. Ou seja, redução da desigualdade. Alguns perderiam para muitos ganharem. Da cobrança de altos impostos sobre grandes fortunas até a taxação de heranças seguindo um modelo americano ou europeu, passando pelo aumento no imposto de renda de quem ganha bastante. Se alguns pagarem mais imposto, a maioria pode pagar menos, considerando que, hoje, proporcionalmente, os muito ricos não pagam tanto imposto quanto os mais pobres.

(Enquanto isso, ao fundo, o coro das carpideiras do mercado canta: “Radicalismo! Radicalismo! Radicalismo! Cobrar dos que têm mais para desonerar os que têm menos? Isso só é bonito nos filmes de Robin Hood. Na vida real, isso é comunismo! Qual o próximo passo? Tomar nossa casa e vender nossos filhos como escravos? Que culpa eu tenho de ser rico?”)

O então senador Fernando Henrique Cardoso, antes de pedir que esquecessem o que ele escreveu, defendeu a taxação de grandes fortunas no Congresso Nacional. Luiz Inácio Lula da Silva, antes de se tornar o queridão do mercado, também defendia a redução na jornada de trabalho. O poder muda as pessoas, é fato. O pior é ter que ouvir dos próprios que eles não mudaram, apenas ganharam uma consciência ampliada a partir do cargo em que ocupam/ocuparam.

Pior, ainda mais, é que talvez isso seja, de fato, verdade. E que nenhum dos dois principais partidos políticos hoje no país, que se dizem progressistas, tenha coragem de escancarar propostas como essas em seus programas de governo. Dando, com seu silêncio, anuência ao coro das carpideiras.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Haiti diz que recebeu menos de 2% da ajuda internacional prometida

Os dois lados de uma moeda... de um lado a beleza da cristandade, que se mostra dedicada a ser feliz...



...do outro lado, a busca pela sobrevivência.


Haiti Six Months After (43 pics)
- Nas Nações Unidas

A enviada especial do Haiti na ONU, Leslie Voltaire, disse hoje que o país recebeu menos de 2% dos cerca de US$ 10 bilhões que a comunidade internacional se comprometeu a investir na reconstrução do país após o terremoto de 12 de janeiro.

Durante uma reunião do Conselho Econômico e Social (Ecosoc), Leslie afirmou que, seis meses depois do terremoto, as tarefas de reconstrução ainda não puderam começar.

"Ainda não saímos da fase de recuperação", lamentou a representante haitiana no encontro, dedicado à ajuda e ao desenvolvimento no país.

Segundo Leslie, "muitos resultados positivos" foram obtidos no último semestre, mas ainda não há soluções para as 1,5 milhão de pessoas que estão sem casa e vivem em tendas de campanha.

Uma das dificuldades é a falta de capacidade das entidades haitianas para absorver a ajuda recebida pelo país, o que espera que se resolva com a Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti (CIRH), copresidida pelo enviado da ONU para o Haiti, Bill Clinton.

"O povo está cansado da situação", disse a representante haitiana, reconhecendo que os problemas de comunicação dentro do Governo do país dificultaram a coordenação da ajuda.

De acordo com Leslie, engenheiros avaliaram o estado de 150 mil imóveis, mas seus proprietários não podem voltar aos considerados como estruturalmente seguros porque não se sabe se há perigo de deslizamento de terra em diversas áreas.

Além disso, explicou que a população também reclama de que não participa da preparação dos planos de reconstrução, mas ao mesmo tempo as autoridades são reticentes a anunciar compromissos que não têm certeza de que poderão cumprir.

A prioridade do Governo ao longo dos próximos seis meses é a reconstrução de estradas, escolas e hospitais.

O coordenador de Assuntos Humanitários da ONU no Haiti, Nigel Fisher, reconheceu em seu discurso que o país se encontra em uma situação de transição delicada após a catástrofe.

Houve avanços no fornecimento de refúgios de emergência, assim como na reabertura de portos, aeroportos e escolas.

Ao mesmo tempo, acrescentou Fisher, se agravou a carência de acesso a serviços básicos e empregos que ocorria antes do terremoto e que são os dois assuntos que mais importam aos desabrigados.

Em 31 de março, a comunidade internacional se comprometeu em uma conferência de doadores a fornecer US$ 9,9 bilhões para a reconstrução do Haiti. Mais da metade desse valor deveria ser entregue nos próximos três anos.

Seis meses depois do terremoto, as organizações humanitárias asseguram que as condições de vida no Haiti continuam péssimas.

A catástrofe deixou 230 mil mortos, 300 mil feridos e destruiu 60% da infraestrutura do Governo. Além disso, quase 200 mil casas ficaram inabitáveis.

O valor total das perdas chega a US$ 7,8 bilhões, mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) do Haiti em 2009.


Haiti Six Months After (43 pics)


Haiti - 6 meses depois (43 fotos)

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Haiti Six Months After (43 pics)

Fonte: http://acidcow.com/pics/11487-haiti-six-months-after-43-pics.html

Há mais pobres na Índia do que na África

India slum girl
A nova medida de pobreza avalia a pobreza das famílias

Em oito estados indianos vivem as pessoas mais pobres do que nos 26 países mais pobres Africano, de acordo com uma nova medida de pobreza global.

Os estados indianos, incluindo Bihar, Uttar Pradesh e West Bengal, tem 421 milhões de pessoas "pobres", constatou o estudo.

Isso é mais do que os 410 milhões pobres que vivem nos países mais pobres Africano, disse.

O Índice de Pobreza Multidimensional (MPI) usa uma série de medidas de "privações" a nível doméstico.

Desenvolvido pela Oxford Pobreza e Desenvolvimento Humano (Iniciativa OPHI) com o apoio da ONU, que apresentará no próximo Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD.

A medida avalia uma série de "privações" nos lares - a educação, a saúde, bens e serviços.

"O MPI é como uma lente de alta resolução, que revela um espectro vivo dos desafios das famílias mais pobres", disse o diretor da OPHI, Dr. Sabina Alkire.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Loucos de raiva com a fome



Para assinar a petição: www.1billionhungry.org/faobrasil/.




Selvino Heck *

Adital -
"1.000.000.000 de pessoas vive com fome crônica e eu estou louco de raiva". Com um apitaço, bandeira do Brasil na mão, conselheiros e conselheiras do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), o representante regional da FAO para a América Latina e Caribe José Graziano da Silva e uma delegação de 40 conselheiros de segurança alimentar da América Latina e Caribe lançaram a campanha "1billionhungry" (um bilhão com fome, na tradução literal) esta semana em Brasília.

A campanha "1billionhungry" usa imagens e mensagens fortes para chamar a atenção para o problema e pedir um basta à fome. Um dos destaques é o vídeo promocional estrelado pelo ator britânico Jeremy Irons, no qual ele interpreta um personagem baseado na famosa cena do filme Rede de Intrigas (Network).

Uma petição on-line pede que os governos façam da erradicação da fome sua principal prioridade. E que as pessoas fiquem indignadas com o fato de que cerca de um bilhão de pessoas no mundo viva com fome.

O símbolo da campanha é um apito amarelo. A idéia é encorajar as pessoas a apitar contra a fome. "Deveríamos estar furiosos com o vergonhoso fato de que seres humanos ainda sofram de fome", disse o Diretor Geral da FAO, Jacques Diouf. "Se você se sente assim, quero que você dê voz à sua raiva. Todos vocês, ricos e pobres, jovens e idosos, em países em desenvolvimento e desenvolvidos, devem expressar sua raiva sobre a fome mundial assinando a petição global."

Se o mundo continuar no mesmo ritmo de redução da fome, o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade o percentual de pessoas com fome até 2015 não será alcançado. De cerca de um bilhão de pessoas com fome, 642 milhões vivem na Ásia e no Pacífico, 265 milhões na África Subsaariana, 53 milhões na América Latina e Caribe, 42 no Oriente Médio e Norte da África e 15 milhões em países desenvolvidos.

Segundo José Graziano, América Latina e Caribe é a única região do Mundo que teve retrocessos em número de pessoas com fome por causa da crise econômica. Nesta região, "quem não trabalha não come". O único país que gerou empregos durante a crise foi o Brasil. "É um milagre".

Houve queda dos preços agrícolas no período, mas não houve queda de preços dos insumos. A cesta básica dobrou com a crise na maioria dos países. Assim, recrudesceu a pobreza, que vinha diminuindo em número de pessoas e em percentual. Hoje, América Latina e Caribe têm mais pobres e miseráveis que nos anos oitenta. São hoje 53 milhões de famintos quando eram 45 milhões em números absolutos. "Perdemos em três anos o que levamos quinze para avançar". Na Guatemala, há uma criança desnutrida para cada duas. Ao mesmo tempo, aumenta o sobrepeso. "Comemos pouco e comemos mal."

Segundo Graziano, os países com maiores recursos são os que têm maiores programas de segurança alimentar. Os que gastam mais têm menores índices de desnutrição infantil.

As razões deste quadro são principalmente três. Há pouca capacidade de reação dos países à crise econômica, o que tem a ver com os processos de privatização dos tempos neoliberais. Os países não têm, por exemplo, armazéns para armazenar os produtos ou bancos públicos para financiar a produção. O sistema tributário latino-americano é o mais injusto do mundo. Poucos países têm um mínimo de impostos sobre a propriedade, os chamados impostos diretos. Como a maioria dos impostos incide sobre o consumo, os impostos indiretos (ICMS, por exemplo), quando há crise, cai o consumo e cai a arrecadação de impostos. Na América Latina a redistribuição de renda, arrecadado o imposto, é de apenas 2% em média; na Europa chega a cerca de 30%. E, terceiro, "contam-se nos dedos os países que têm institucionalidade sobre segurança alimentar e nutricional". Poucos países têm leis que garantam o direito à alimentação ou conselhos e participação social na definição das prioridades. Os que têm, as leis são recentes, dos anos 2000.

Se olharmos o futuro, diz Graziano, as perspectivas não são boas. "Se repetirmos o padrão de recuperação da crise dos anos oitenta, os indicadores sociais levam o dobro do tempo para se recuperarem em relação aos indicadores econômicos. Como se estimam 12 anos para a recuperação econômica, seriam 24 para a retomada dos indicadores sociais."

A fome tem pressa, dizia Betinho Por isso, a urgência da campanha lançada para a FAO em todo o mundo, que deve recolher um milhão de assinaturas até o dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação. O CONSEA já está engajado. Falta agora engajar governos e sociedade. As assinaturas podem ser feitas por meios eletrônicos assim como haverá listas de assinaturas circulando em todos os lugares.

Informações: ascom@consea.planalto.gov.br
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