sábado, 10 de outubro de 2009

Transformar o mundo é responsabilidade nossa

Certa vez perguntaram a Bertrand Russell, que era um ateu convicto, o que ele faria se, depois da morte, acabasse encontrando Deus. Consta que Russell teria respondido, “Vou perguntar a ele: Senhor Deus, por que deste tão pouca evidência de sua existência?”. Decerto o mundo apavorante em que vivemos não parece – ao menos na superfície – um lugar em que uma benevolência toda-poderosa esteja no comando. É difícil entender como um ordem mundial compassiva pode incluir tantas pessoas afligidas pela miséria aguda, fome persistente e vidas desesperadas e deprived, e por que milhões de crianças inocentes têm de morrer todos os anos por falta de comida, cuidados médicos ou assistência social.

O tema, claro, não é novo, e foi objeto de uma série de discussões entre teólogos. O argumento de que Deus tem suas razões para querer que nós lidemos com esses problemas por nossa conta tem tido considerável sustentação intelectual. Enquanto uma pessoa não-religiosa, eu não tenho condições de avaliar os méritos teológicos deste argumento. Mas eu posso apreciar a força da alegação de que as pessoas devem ter responsabilidade pelo desenvolvimento e transformações do mundo em que vivem.

Ninguém precisa ser devoto ou não-devoto para aceitar esta conexão básica. Enquanto pessoas que – em sentido amplo – vivem juntas, não temos como escapar da idéia de que as terríveis ocorrências que vemos à nossa volta são, essencialmente, problemas nossos. Elas são nossa responsabilidade – quer sejam ou não de mais alguém também.

trecho de Development as Freedom (Desenvolvimento como Liberdade], de Amartya Sen. Ele recebeu o Nobel de 1998 em Ciência Econômica.

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