sábado, 25 de julho de 2009

Fome de Justiça

Frei Betto
Somam hoje 950 milhões as pessoas ameaçadas pela fome crônica. Eram 800 milhões até 2007. De lá para cá o número aumentou, devido à expansão do agronegócio, cujas tecnologias encarecem os alimentos, e a maior extensão de áreas destinadas ao cultivo de agrocombustíveis, produzidos para saciar a fome de máquinas e não de gente.
A fome é o que há de mais letal inventado pela injustiça humana. Causa mais mortes que todas as guerras. Elimina cerca de 23 mil vidas por dia; quase 1.000 pessoas por hora! As crianças são as principais vítimas.
Quase ninguém morre por falta de alimentos. O ser humano suporta quase tudo: políticos corruptos, humilhações, agressões, indiferenças, a opulência de uns poucos. Até o prato vazio. Por isso ninguém morre da falta completa de alimentos. Os famélicos, quando nada têm para comer, levam à boca, para enganar a fome, restos catados no lixo, lagarto, rato, gato, tanajura e variados insetos. A falta de vitaminas, carboidratos e outros nutrientes essenciais debilita o organismo, torna-o vulnerável às enfermidades. Crianças raquíticas morrem de simples resfriado, privadas de defesas.
Há apenas quatro fatores de morte precoce: acidentes (de trabalho ou trânsito); violência (assassinato, terrorismo ou guerra); enfermidades (aids ou câncer); e fome. Esta produz o maior número de vítimas. No entanto, é o fator que menos suscita mobilizações. Há sucessivas campanhas contra o terrorismo ou pela cura da aids, mas quem protesta contra a fome?
Os miseráveis não fazem protestos. Só quem come entra em greve, vai às ruas, manifesta em público descontentamento e reivindicações. Como essa gente não sofre ameaça da fome, os famintos são ignorados.
Agora, os líderes das nações mais ricas e poderosas do mundo, reunidos no G8, em L’Aquila, Itália, no início de julho, decidiram liberar US$ 15 bilhões para aplacar a fome mundial.
Como o G8 é cínico! Ele é o responsável pelos famintos serem multidão. Eles não existiriam se as nações metropolitanas não adotassem políticas protecionistas, barreiras alfandegárias, transnacionais de agrotóxicos e de sementes transgênicas. Não morreriam de fome cerca de 5 milhões de crianças por ano se o G8 não manipulasse a OMC, não incentivasse a desigualdade social e tudo isso que a aprofunda: o latifúndio, a especulação dos preços dos alimentos, a apropriação privada da riqueza.
Apenas US$ 15 bilhões! Sabem quantos esses senhores e senhoras do G8 destinaram para salvar - não a humanidade - mas o mercado financeiro, de setembro de 2008 a junho de 2009? Mil vezes esta quantia! US$ 15 bilhões servem apenas para oferecer uns caramelos a alguns famintos. Sem contar que boa parte desses recursos irá para o bolso dos corruptos ou servirá de moeda de troca eleitoral. Dou-lhe um pão, dá-me um voto!
Se o G8 tivesse de fato intenção de erradicar a fome no mundo, promoveria mudanças nas estruturas mercantilistas que regem a produção e o comércio mundiais, e canalizaria mais recursos às nações pobres que aos agentes do mercado financeiro e à indústria bélica.
Se os donos do mundo quisessem realmente acabar com a fome, eles tornariam o latifúndio um crime de lesa-humanidade e permitiriam a livre circulação de alimentos, assim como ocorre com o dinheiro. Do mesmo modo, se tivessem mesmo o propósito de erradicar o narcotráfico, em vez de prender uns poucos traficantes, poriam suas máquinas de guerra para destruir definitivamente os campos de plantação de maconha, de coca, de papoula e de outros vegetais, transformando-os em áreas de agricultura familiar. Sem matérias-primas, não há traficante capaz de produzir droga.
Dizer que o G8 intenciona acabar com a fome ou salvar o planeta da degradação ambiental equivale a esperar que, no próximo Natal, Papai Noel traga de presente uma vida digna a todas as crianças pobres. O cinismo é tanto que os líderes mundiais prometem estabelecer bases de sustentabilidade ambiental a partir de 2050.
Ora, se a natureza algo ensina de óbvio é que, a médio prazo, estaremos todos mortos! Se a Terra já perdeu 25% de sua capacidade de autorregeneração, o que acontecerá se a humanidade tiver que esperar mais 40 anos para que se tomem medidas eficazes?
Se aqueles que não passam fome tivessem, ao menos, fome de justiça, virtude qualificada por Jesus como bem-aventurança, então a esperança em um futuro melhor não seria vã.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nada do que é Humano me é Estranho

Mas foi um pouco. E até agora eu não consegui ignorar. Deixar de pensar. Na sala dos professores, um professor me disse: "Eu vou me matar". Uma voz baixa, contida. Totalmente racional. Ele não gritou, não quis chamar atenção, fazer escândalo. Era apenas eu e ele na sala dos professores. E me disse, sereno, firme: "Cara, eu vou me matar". E eu não soube o que dizer. Apenas perguntei: "Por quê?"

Foi a melhor pergunta, a melhor frase para a afirmação dele? Eu não sei. Sinceramente, não sou a melhor pessoa para ele dizer isso. Se é que ele esperava algo do tipo: "Cara, não faz isso. A vida é boa." Não, não acho a vida boa. A vida é foda. Fudida, e cheia de sofrimento. Somos todos uns fudidos. Penso isso. Vejo isso. Talvez eu tenha uma visão deturpada das coisas. Por isso eu só consegui perguntar: "Por quê?"

"Tô cansado", ele falou. "Cansado de ser pobre, cansado de me ferrar. É a sina da minha família as pessoas se matarem, ja foram três". Uma mão sobre a mesa, a outra despencando no braço. A cabeça balançando levemente, pra cima e pra baixo. Os olhos baixos, derrotados. E eu não soube o que dizer. Talvez faltou apenas a minha sinceridade em falar: "Amigo, eu entendo". De verdade, eu entendo.

Eu estava de saída. Ele quase de entrada. Ia para a 5ªB. Ainda bem. Fosse a 5ªD, eu temeria. De hoje não passaria. Nesta classe, ninguém consegue trabalhar. Ninguém. A não ser que seja, quase, na base da porrada. Mas aí não é mais educação. Nem aula. É barbárie total. Máquina de moer gente. E tenha certeza: você sai arrebentado.

É demais, galera. A escola está matando muita gente. E não é uma morte abstrata, dizer que sem a Educação os jovens vão para o crime, para as drogas ou qualquer estatística. Aqui não se trata de números, mas de pessoas. Pessoas que eu olho nos olhos, aperto as mãos, digo: "adeus".

Foi o que ele me disse. "Se souber de algo, não se surpreenda." E, de verdade, talvez eu não fique surpreso. Talvez apenas mais revoltado, ou depressivo. Por que estamos nesta situação? Como chegamos ao fundo deste poço? Eu sei. Um pouco eu sei. E por isso que eu prossigo. Por isso que eu arranco forças de onde não tenho mais. Para revidar, para me vingar. Também quero socar, bater, chega só de apanhar. "Não se surpreenda", ele disse. Tudo bem, camarada. Mas se decidir ficar, estamos juntos na parada. Se decidir ir, tudo bem. Já disse alguém, e eu concordo: "Nada do que é humano me é estranho". Eu vou entender...

Fonte: Blog Efeito Colateral - Rodrigo Ciríaco
Dica: Andrea Rissardo

Fora da Zona de Conforto! [24/07/09]

População do Sul do Sudão sofre com minas e projéteis não detonados
A estagnação do financiamento para o programa de HIV/Aids e o alto custo dos novos medicamentos põem a vida de milhares de pacientes pobres em risco.

Gaza: Após meio ano, continua o sofrimento


Um grande número de crianças em Gaza sofre de anemia, principalmente por causa da deficiência de ferro. Yehia Alhassani, que está sendo tratado em um hospital na cidade de Khan Yunis, é uma delas. Sua mãe não pode amamentar porque seu leite secou durante a guerra, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, e sua família não tem dinheiro para comprar o preparado de leite próprio para bebês, a fim de mantê-lo bem alimentado e em boa saúde.

Infância na pobreza, mais vulnerabilidade à violência sexual
A violência sexual não distingue idade, nem nível socioeconômico e, quando ocorre na infância e se conjuga com condições de vulnerabilidade como a pobreza, seus efeitos se acentuam porque meninas e meninos possuem menos elementos para fazer frente.


Abandonada e com poucas opções de tratameto, Chagas debilita e mata
Cem anos após a descoberta da doença de Chagas, 100 milhões de pessoas permanecem sob risco de contrair a doença, que continua a debilitar e matar populações extremamente empobrecidas.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Prioridades


Sempre gostei de futebol. Adoro jogar uma partida de futsal ou futebol society, apesar de não jogar muito bem. Mas também gosto de ver uma partida de futebol bem disputada. Jogos da seleção, finais de campeonatos ou jogos europeus. Escolher um bom time de futebol pra torcer, tem que ter duas situações importantes: a primeira, alguém pra você zoar caso o seu time ganhe, e a segunda, um time que ganhe. Não foi o meu caso em nenhuma das duas. Escolhi torcer para o Atlético Mineiro. Ou seja, não sei ainda o que é ganhar um grande título e não tenho como zoar os torcedores dos outros times. Triste destino que escolhi.

Mas não estou perdendo a admiração pelo futebol por causa do meu time. Hoje minha indgnação é outra. É a movimentação de pessoas em busca de um lugar neste paraíso, sem que isto realmente atinja a grande maioria dos desportistas. Quem assistiu o filme "Linha de Passe" (assista o trailer), do brasileiro Walter Salles, vai entender porque esta imagem que o futebol trás de grande oportunidade para os pobres moradores de favelas do Brasil ou da África é insignificante. São alguns que conseguem uma oportunidade no milionário futebol europeu, e um pouco mais nos 20 poucos grandes times do país. A grande maioria esmagadora, não passa nem das "peneiras", e quando entra num pequeno clube é melhor ter outro trabalho pra sustentar sua família.

Outra indgnação é o valor milionário que alguns desportistas recebem. Que merecem ganhar um dinheiro bom, não é o problema. Isto vale para qualquer profissão. Mas você já imaginou se este dinheiro fosse mais bem dividido entre os outros atletas e clubes? Com certeza não se formaria estas grandes discrepância entre outros clubes tornando o futebol até mais competitivo. O que ainda não transparece tanto esta diferença é que as vezes um time pequeno apronta pra cima dos clubes mais abastados. Mas a maioria é decidido por quem tem dinheiro pra investir mais em melhores jogares e estrutura de clube.

O alcance é insignificante se comparado ao dinheiro que este esporte movimenta. Se alguém merecia receber um salário destes seria os profissionais de educação, saúde, sociais e outras que realmente contribuem para a formação do homem e da sociedade.

Muitas vezes temos diante de nós momentos de fazermos escolhas. E elas muitas vezes são difíceis. Quando tenho que faze-las procuro ir pela prioridade. Hoje a prioridade no mundo deveria ser a de melhorar a vida dos 2/3 da humanidade que vivem abaixo da linha da pobreza, e que estão excluídos da oportunidade de se formarem homens e mulheres que possam viver bem e dar o melhor para seus filhos. E se considero isto a prioridade para mim, vou tentar levar a vida valorizando isto. Por isto prefiro hoje que todo o dinheiro que está sendo investido nestes estádios para o Brasil atender a Copa de 2014 sejam investidos primeiramente em melhores escolas e melhores unidades básicas de saúde e hospitais. Quando isto tudo estiver resolvido e antendendo a todos, então podemos construir nossos estádios.

Se um dia o futebol se tornar uma oportunidade real para a maioria dos jovens que adoram este esporte, e vêem nele a chance de se integrar à sociedade, voltarei a prestigiá-lo. Mas enquanto não passa de mais uma das representações da sociedade excludente que vivemos, prefiro apenas praticá-lo.

Suênio Alves

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Fora da Zona de Conforto! [20/07/09]

Aids: Estagnação de financiamento ameaça vida de pacientes A estagnação do financiamento para o programa de HIV/Aids e o alto custo dos novos medicamentos põem a vida de milhares de pacientes pobres em risco.

Interrupção no abastecimento de ARVs ameaça vida de pacientes HIV na África A interrupção do abastecimento de medicamento antirretrovirais (ARV) e outros itens médicos essenciais em pelo menos seis países africanos está pondo em risco a vida de pacientes soropositivos

Sudão: detidos são transferidos sob os auspícios do CICV
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ajudou hoje na entrega de 60 detidos para as autoridades sudanesas em Kutum, norte de Darfur. Eles haviam sido presos pelo Movimento de Justiça e Igualdade (MJI), após os recentes confrontos armados.


Paquistão: pessoas deslocadas que voltam para casa devem ser protegidas e ter acesso a comida e serviços básicos
À medida que milhares de pessoas deslocadas voltam para casa, é fundamental que possam viver de forma digna e segura. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) continua a prestar assistência às pessoas atingidas pelos combates, incluindo milhares de deslocados, mas sua capacidade depende do acesso livre e seguro.

GAM divulga relatório sobre situação dos direitos humanos
De acordo com o relatório, somente neste primeiro semestre, 1.908 pessoas foram vítimas de mortes violentas no país.
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