sábado, 26 de junho de 2010

Médicos sem Fronteiras



Espiritualidade de Prosperidade

J. B. Libanio
Os sistemas políticos e econômicos não vivem só de ideologia e dinheiro. Política e economia satisfazem as necessidades básicas do ser humano. Mas deixam em descoberto seu lado espiritual, religioso. Por isso, todo sistema econômico cria sua espiritualidade ou encampa algo já existente, imprimindo-lhe sua marca.

Os ideais socialistas casavam muito bem com a teologia da libertação, assim como com a luta das comunidades eclesiais de base nas suas reivindicações fundamentais. Sem transformar-se em ideologia socialista, a espiritualidade da libertação alimentava e alimenta até hoje as pessoas que se envolvem com as práticas transformadoras da realidade na linha da emancipação e promoção dos pobres.

E agora, que espiritualidade está a responder ao triunfo do neoliberalismo? Onde ele busca apoio espiritual para preencher o vazio que o puro consumismo e o materialismo deixam atrás de si?

Muitas igrejas pentecostais e neopentecostais têm elaborado a espiritualidade da prosperidade e com isso mantido as pessoas nas redes do neoliberalismo, respaldadas por uma visão religiosa da realidade. Em que consiste tal espiritualidade?

Na base está o individualismo neoliberal com sua concepção de concorrência e competição de modo que vencem os mais fortes, os mais sabidos, os mais "vivos". Daí resulta o progresso. Pior para quem fica fora dele. Dito desta maneira rude poderia doer aos ouvidos cristãos. Aí entra uma pitada de espiritualidade que tudo tempera.

Deus quer a felicidade, a riqueza, os bens materiais, a felicidade, a saúde, aqui e agora, para seus filhos. Quem são eles se não os cristãos? Pensar de maneira diferente é cair na alienação tradicional. Esta prometia os bens somente para a vida eterna que se obtinha com os sofrimentos aqui na terra.

Cristo já sofreu no nosso lugar. Agora vem-nos a bênção de Deus. Somos "filhos do Rei". Se vamos para o céu, por que não antecipar um pouco dele nesta vida?

E os pobres? Sempre os haverá entre nós, como diz o Senhor. Eles são os perdidos. São preguiçosos, viciados, idólatras. Se vão mesmo para o inferno, por que não ensaiar um pouco aqui na terra? "O Terceiro Mundo é pobre porque idólatra", pregava Luiz Palau, evangelista argentino, americano naturalizado. Dois irmãos nordestinos sentenciavam, em São Paulo, que a culpa da pobreza do Nordeste é a devoção idólatra ao Padre Cícero.

Se os cristãos não ficarem ricos, isto é falta de fé. Vem de algum pecado oculto. Confessando-os, conhecerão a prosperidade. Mas se mesmo assim, não ficarem ricos, então a culpa é de algum antepassado.

Nessa espiritualidade, não há lugar para a solidariedade nem para a opção pelos pobres. É estritamente individualista. É uma espiritualidade dos resultados. Os ricos já estão abençoados. Encontram nela paz interior, uma vez que já possuem os bens materiais. Os pobres devem buscá-la para si e seus familiares, recorrendo a ritos religiosos, como o de abençoar ou ungir de óleo santo as carteiras profissionais.

Para a Igreja Universal do Reino de Deus a vida espiritual é uma transação financeira com o céu. Quanto maior a oferta, tanto maior a bênção. A espiritualidade da prosperidade é o coração dessa Igreja. Ela incentiva mais que ter carteira assinada é a criação de microempresas. Um bispo seu, trafegando em luxuoso carro do ano, dizia: "Eu ensino a prosperidade e vivo a prosperidade".

Apela-se então para um "poder" nas palavras o qual libera "energias positivas" e combate o baixo astral com efeito sobre as coisas, doenças. A realização dessa espiritualidade é "vida longa e próspera".

Outra expressão é a idéia de que Deus não fez seu povo para ser "cauda" do mundo, mas sua "cabeça". Incentivam-se os cristãos a ambicionar postos de mando na Terra. Aos "perdidos" cabe impor obediência e evitar que façam males maiores.

A participação na política não visa a uma transformação social, mas a travar a luta do bem contra o mal, sem lugar para o pluralismo. O bem se identifica com os ideais e interesses da própria igreja e de seus dirigentes. Volta-se à velha idéia da batalha espiritual que transforma em inimigo tudo com o que essa espiritualidade não concorda. Divide o mundo em dois campos: o lado de Deus (o lado da igreja) e o lado do mal, do demônio: todas as forças que divergem de sua maneira de ver a realidade.

A espiritualidade da prosperidade é uma resposta ao momento atual. Corresponde muito bem ao clima dominante da cultura pós-moderna a serviço do neoliberalismo. Daí sua sedução. Oferece o caminho rápido do sucesso sem passar pelo trabalho, pela renúncia, pelo esforço. O êxito econômico se faz até mesmo por vias suspeitas. Ele é sinal da bênção de Deus. A riqueza é vista no seu valor em si mesmo, sem nenhuma responsabilidade social. Muito distante da doutrina social da Igreja que defende a hipoteca social sobre toda posse. Os bens materiais são vistos como privilégio e bênção para alguns escolhidos de Deus e não destinados a todos. Produz-se uma identificação rápida entre a bênção de Deus e os bens materiais dos ricos.

Atém-se a uma interpretação literal e unilateral do Antigo Testamento. Esquece-se de que Jesus veio dar-lhe o verdadeiro sentido. Não se tem a mínima sensibilidade pela dimensão social nem pelo amor predileto de Deus pelo pobre. Os verdadeiros bens para o cristão encontram-se retratados por Jesus no sermão da montanha e na sua vida.

Jesus proclama bem-aventurados os pobres e não aqueles que nadam em riqueza e a ambicionam para si. Jesus invectiva aquele rico que só pensava em armazenar ainda mais seus bens. "Insensato! Esta noite mesmo a tua vida ser-te-á reclamada e o que tu preparaste, quem é o que o terá?" E conclui com um dito lapidar: "Eis o que acontece a quem reúne um tesouro para si mesmo, em vez de enriquecer junto a Deus" (Lc 12, 16-21)

Como se vê, é exatamente o oposto da espiritualidade da prosperidade que só pensa em entesourar para si e quanto mais, melhor. Esquece da condição mortal.

Mais ainda. Jesus refere-se diretamente à fragilidade dos bens terrestres que as traças e os vermes corroem; que os ladrões roubam. Conclui: "acumulai para vós tesouros no céu, onde nem as traças nem os vermes causam estragos, onde os ladrões não arrombam nem roubam". E termina com um dito de sabedoria: "onde está o teu tesouro, aí também estará o teu coração" (Mt 6, 19-21).

O ensinamento de Jesus sobre o seguimento situa-se em posição diametralmente oposta à espiritualidade da prosperidade. Na base está o desprendimento e não a acumulação. "Qualquer um de nós que não renuncia a tudo o que lhe pertence não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 33).

Precisa ser de uma absoluta cegueira a respeito do evangelho de Jesus para propor uma espiritualidade da prosperidade como expressão do projeto de Deus. Este se manifestou em sua plenitude na pregação e pessoa de Jesus. As passagens do Antigo Testamento, que parecem identificar a bênção de Deus com a abundância dos bens, revelam um aspecto de seu projeto criador. Os bens criados estão destinados a todos os seres humanos e não a serem privilégio de alguns que se engolfam neles enquanto outros carecem de tudo. O Novo Testamento avança. Relativiza os bens materiais na perspectiva do irmão, do serviço aos outros, da própria missão.

A espiritualidade da prosperidade inverte o sentido cristão. É materialista, pagã. Nada cristã. Não se opondo ao canto de sereia do neoliberalismo, capitula. É a espiritualidade que justifica a injustiça social, tranqüilizando a consciência com tintura religiosa. Camufla a verdade da injustiça social, transferindo para Deus - bênção e maldição - a diferença social entre os humanos, fruto do sistema econômico, ao menos, na forma atual.

[www.jblibanio.com.br (site organizado pelo grupo de amigos e admiradores de JB Libanio. Confira desse autor o livro: Qual o futuro do Cristianismo? São Paulo, Paulus, 2006; 2ª. Ed. 2008)].


* Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano

90 dias

"(...)quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. "
Jesus

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Você se parece com minha avó?

Rubem Alves

Meus amigos que se reúnem comigo para ler poesia resolveram que, nesse Natal, só iremos dar brinquedos e só queremos receber brinquedos. E isso por uma razão teológica.

Todos aprendemos no catecismo que no Natal acontece o mistério da encarnação: Deus, aquele que enche o universo, resolveu que o melhor mesmo era tornar-se criança. E isso para a salvação dos homens. Jesus nasceu para nos salvar.

Salvar do quê? Aqui começam as discordâncias. Porque a teologia ortodoxa diz que ele nasceu para nos salvar do Inferno. Mas você acredita mesmo que Deus é um torturador que mantém seus desafetos numa câmara de torturas, por toda a eternidade? E ainda por cima que ele vê e se alegra com o sofrimento dos infelizes, como dizia Santo Tomás de Aquino? Você poderia amar um Deus assim cruel? Quem assim se alegra com o sofrimentos dos homens não pode ser um Deus de amor. Só pode ser o Diabo.

Salvar de quê? Responde a Adélia Prado: ‘Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande!’ Perdição é ter ficado grande. Quem ficou grande perdeu o rumo, está na direção errada, cada vez mais longe... Pois no Natal Deus mostra onde está a salvação: é preciso voltar a ser criança. As crianças não precisam do Natal porque elas já são crianças. Somos nós, adultos, que precisamos ser salvos. O Natal é para nós, para nos lembrarmos da felicidade perdida. E não existe remédio mais poderoso para transformar os grandes em crianças que um brinquedo.

Já contei que minha mãe era pianista. Ela me ensinou o gosto pela música erudita. Mas não só. Chegou a fazer parte de uma banda que tinha o nome de ‘Os Tangarás’. Tangará é um pássaro que nunca vi. O Aurélio me diz que ele tem também um outro nome: Pássaro Dançador. O Tangará dança enquanto canta. A tal banda ‘Os Tangarás’ existia para animar festas dançantes. Acho tão estranho isso, pensar minha mãe que tocava baladas de Chopin tocando maxixes e chorinhos...

Mas eu me esqueci de contar uma outra coisa sobre a minha mãe: ela brincava comigo. Mais precisamente: fazia brinquedos para mim. Fazer brinquedos para os filhos: arte perdida! Fico a pensar em quem lhe teria ensinado a arte. De uma coisa estou certo: não foi a minha avó. Minha avó não gostava de crianças, o que era o normal, naqueles tempos. Cora Coralina confirma: ‘Criança, no meu tempo de criança,/ não valia mesmo nada./ A gente grande da casa/ usava e abusava/ de pretensos direitos de educação./ Por dá-cá-aquela-palha,/ ralhos e beliscões./ Aquela gente antiga,/ passadiça, era assim: severa, ralhadeira./ Não poupava as crianças...’

Minha avó tinha vocação de cientista, estudava astronomia, espiava as estrelas com luneta. Acho que passou a vida amargurada por ter sido obrigada a casar com um homem que não era nem bonito e nem entendia de astronomia. Nunca me pegou no colo. Nunca me beijou. Nunca me contou uma estória. Gostava de me apertar o braço com força, prá machucar. Assim, não posso imaginar minha avó ensinando minha mãe a fazer brinquedos. Toda criança era ‘gata borralheira’: que tinha de ficar sob o cuidado das pretas cozinheiras, longe dos adultos, muito importantes.

No sobrado continuaram a viver duas escravas: livres, não tinham para onde ir. A Dulce, velha de olhos vermelhos, já estava remando canoa para a ‘terceira margem do rio’: passava o dia rezando terço com um beiço dependurado, numa língua que minha mãe não entendia. Mas a Iaiá gostava da minha mãe. Brincava com ela. Contava estórias que minha mãe depois me contou. Estórias de Angola. Acho que foi ela que ensinou minha mãe a fazer brinquedos.

Minha mãe fazia petecas, obras de arte. E sabem com o quê? Pois pasmem. Com palha de milho. O milho, mesmo depois de debulhado, tinha mil serventias. Podia queimar no fogão de lenha. Dá um fogaréu bonito que apaga logo, se for deixado só. Como certas pessoas, o milho precisa de um fogo de fora para queimar. Daí a expressão ‘fogo-de-palha’: entusiasmos ardentes - especialmente os amorosos - que são de curta duração. Os sabugos, os meninos brincavam com eles. Viravam boizinhos que puxavam carrinhos. Cada sabugo tinha um nome. As palhas de dentro eram alisadas pelos homens com o canivete e usadas para fazer cigarros de fumo de rolo. Mas houve alguém, artista desconhecido, que olhou para as palhas do milho e viu petecas. Era feitas assim. Primeiro se pegava um cavaco, no monte de lenha cortada, que fosse quadradinho. Depois se envolvia o dito cavaco com várias folhas de palha de milho, apertadas, formando uma almofadinha. A seguir, mais palhas iam sendo colocadas sobre essa almofadinha, sem enrolar, deixando as pontas soltas para cima, como se fossem um pescoço. O pescoço, bem amarrado e aparado, a peteca estava quase pronta. Faltavam as penas que a gente procurava no galinheiro. Se não houvesse penas soltas, pobres galinhas: a gente arrancava as de que se precisava. São as penas que garantem que a peteca vá cair do jeito certo. Enfiavam-se as penas na ponta do pescoço aparado - e eis uma peteca! É uma arte perdida. Encontrei uma, numa loja de artesanato em Florianópolis, que comprei. Não é tão perfeita como aquelas que minha mãe fazia. Olho para a peteca, me lembro da minha mãe.

Ela fazia também corrupios. Um corrupio se faz assim. Procura-se um botão bem grande, que tenha pelo menos dois furos. Várias vezes roubei botões dos paletós do meu pai. Ele nunca reclamou ou nunca percebeu. Era distraído, não se importava com um paletó sem botão. Imagino que os netos do senador Sarney, em virtude do seu hábito de usar jaquetões, têm a grande felicidade de dispor de muitos botões a serem roubados. Ele nunca vai notar. O fato, entretanto, é que as crianças de hoje não são como as de antigamente. Não se entusiasmam com botões de paletó. Mas, voltando ao corrupio. Toma-se o botão. Passa-se um fio de barbante de 40 centímetros por um dos furos e outro igual pelo outro. O botão fica no meio. Dão-se nós nas pontas dos barbantes. Aí, segurando as pontas dos barbantes amarrados, a gente gira os barbantes no mesmo movimento de ‘pular corda’. Os barbantes ficam enrolados. Aí a gente puxa firme os barbantes, no sentido do exterior. Os barbantes desenrolam e o botão gira. Gira tão rápido que chega a zunir. O ar, passando pelos furos, assobia. É terapêutico brincar com corrupio.

Me ensinou também a fazer chapéus de Napoleão e barquinhos com dobraduras de papel. Chapéu de Napoleão na cabeça e um pedaço de bambu na mão: eis um guerreiro! Barquinho de papel na enxurrada: eis o Soldadinho de Chumbo de uma perna só apaixonado pela bailarina, do conto de Andersen!

Fico comovido lembrando-me dos brinquedos que minha mãe fazia. Imagino que Maria também deve ter feito brinquedos para o menino Jesus. Pena que não haja uma tela que represente esse momento sublime! Que brinquedos teria ela feito?

Natal é o tempo do acriançamento. É preciso dar brinquedos de presente. Sugiro que você pense nos brinquedos que você sabe ou pode fazer. As Bordadeiras de Brasília, enquanto papeiam, fazem lindos bordados! Que tal você começar a fazer bonecas de pano enquanto vê televisão? Eu mesmo tenho duas, feitas por uma pobre mulher do nordeste. Armar quebra-cabeças é um ótimo brinquedo e uma excelente terapia. Contrariamente ao nome, o quebra-cabeças deveria se chamar ‘conserta-cabeças’. Enquanto se arma o quebra-cabeças, a cabeça para de pensar aflições. E é um jeito de a gente estar junto com os filhos. Cada peça que se encaixa é uma felicidade! E, com isso, sem saber, as crianças vão desenvolvendo o pensamento lógico. E a felicidade de empinar pipas? A felicidade começa quanto a gente faz a pipa. Não me esqueço do que senti quando, menino de pés descalços, consegui por uma pipa lá em cima pela primeira vez! Fazer pipas é uma arte. Empinar pipas é um prazer! Que tal levar seus filhos a empinar pipas na manhã de Natal? Vá passear na feira hippie. Lá você encontrará brinquedos artesanais deliciosos e baratos: a Mancala, jogo africano; piões de todos os tipos; bibloquês. Confesso um fracasso: nunca consegui acertar o pino no buraco da bola!

Mas o melhor mesmo seria se você começasse a fazer brinquedos. Eu fazia brinquedos com caixinhas de fósforo, carretéis vazios de linha, bambús, talos de aboboreira (com eles se fazem divertidos instrumentos musicais!), rolhas, dobraduras de papel. Você poderá até fazer um rebanho de carneiros usando batatas e palitos.
Você achou tudo isso bobagem? Então, você se parece com a minha avó. Trate de se salvar. Repita comigo a reza da Adélia: ‘Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande...’
(Correio Popular, Caderno C, 17/12/2000.)

Quem usa vidas para defender uma verdade é um demônio

A teologia calvinista, interpreta alguns textos bíblicos, conforme algumas premissas antigas, onde diz que:

"Eles devem sofrer com paciência em plena confiança que o Deus que está no controle de todas as coisas lhes dá a vida eterna e que ninguém poderá arrancar seus filhos de suas mãos"

Deus tinha traçado planos para os homens e as nações, e os mesmos iriam se cumprir inevitavelmente. Estes planos não poderiam ser frustrados por homem algum (Jó 42.2; Pv 19.21; Is 14.27; Is 43.13; Is 46.10b-11).

"Tais acontecimentos estavam tão inexoravelmente determinados que Deus dava conhecimento deles de antemão, através dos profetas."

"...o meio pelo qual Deus realizava seu propósito final."

Você consegue acreditar nesta teologia, de que há um Deus que determina todos os acontecimentos, para cumprir seus propósitos finais, mesmo diante do choro de uma criança que está morrendo por uma guerra, e por ter visto sua irmãzinha estuprada?

Quem usa vidas para defender uma verdade é um demônio. Toda a verdade deve estar a serviço da vida, nunca o contrário.
Ricardo Gondim






Tradução:
um dos nossos médicos está tratando um menino de 5 anos
milicias acabaram estuprando suas duas irmãs
então espancaram seus pais até a morte.
Não podemos operar sem a sua ajuda
visite msf.org.uk

quarta-feira, 23 de junho de 2010

As contradições da prosperidade

Paulo Brabo - Bacia das Almas

Escrever sobre a teologia da prosperidade me deixou desconfortável e inquieto; não por achar o assunto irrelevante ou meu próprio tratamento dele impertinente, mas pela intuição de alguma contradição oculta que demorei quatro ou cinco dias para saber precisar.

A primeira coisa que me inquietou, e disso eu tinha consciência mesmo enquanto escrevia contra ela, foi ver o quanto a teologia da prosperidade é fácil de refutar. O testemunho da Bíblia como um todo e do Novo Testamento em particular pesam irresistivelmente contra todos os pressupostos dessa doutrina e contra todas as suas conclusões, com uma ênfase que espero ter sido capaz de pelo menos sugerir.

Mais difícil, e tenho pensado nisso nesses últimos dias, é explicar de que modo uma doutrina tão desconcertantemente contrária ao espírito cristão (e uso a expressão no sentido de “espírito de Jesus”) alcançou a popularidade que alcançou dentro de tantas facções da igreja formal. Nada é mais avesso à postura do Filho do Homem, como apresentado nos evangelhos, do que a ganância proposta por homens, justificada em nome de Deus e usada como ferramenta de manipulação.

Já foi observado que a teologia da prosperidade é manifestação de um cristianismo estelionatário populista; tudo nela foi projetado para atingir, manipular e defraudar as camadas mais pobres da população com a promessa de riqueza. Todos querem ficar ricos, mas em geral são os pobres ingênuos o bastante para comprar a promessa da riqueza incondicional – e parecem tornar-se especialmente vulneráveis à aquisição se a promessa vem embalada e adoçada com o discurso da devoção.

O que em geral deixamos de enxergar é que a teologia da prosperidade é apenas a versão menos sofisticada – e portanto mais honesta – de uma ideologia tão entranhada na postura da igreja ocidental que tornou-se em muitos sentidos indistinguível dela. Porque, numa igreja absolutamente rendida aos ideais do liberalismo econômico, todos querem ser ricos e não veem nada de errado nisso. Se de um lado as vítimas pobres da teologia da prosperidade perseguem a riqueza crendo que ela virá sem escalas da mão divina, os ricos e burgueses perseguem precisamente a mesma riqueza – apenas recusam-se a rebaixar-se à ilusão ou à fé de que ela virá de Deus e não de sua própria performance.

Nós que condenamos a imaturidade do mecanismo toma-lá-dá-cá da teologia da prosperidade buscamos sem cessar o mesmo resultado por outros meios. A maioria de nós nem perde o seu tempo associando a riqueza a Deus; estamos ocupados demais perseguindo uma e ignorando o outro. Da expressão “teologia da prosperidade” os mais articulados dentre nós sentem-se preparados para invalidar a parte da teologia, mas nosso modo de vida endossa sem equívoco a parte da prosperidade.

Dito de outra forma, a teologia da prosperidade só alcançou penetração entre os pobres porque a ideia subjacente – de que para um cristão ser rico é coisa honrosa, desejável e reverte em glória a Deus – estava há muito (digamos, desde a Reforma) presente na postura e nos discursos dos cristãos ricos e de classe média. Com nosso modo de vida fornecemos o fim; a teologia da prosperidade limita-se a vender os meios.

Porque não há como esconder: grosso modo, há duas posturas na relação do ser humano com a riqueza. A primeira é acumulativa, e pressupõe isolamento e escassez; a segunda é distributiva, e pressupõe comunhão e abundância. Se enxergamos com clareza a mesquinharia dos que seguem e propõem a teologia da prosperidade, não temos como negar que nossa postura é pelo menos tão acumulativa quanto a deles. Os cristãos mais ricos fornecem o modelo elitista e dinheirista que a teologia da prosperidade vem oferecer aos mais pobres.

Em conformidade com isso, há duas maneiras de se ler o Novo Testamento; a primeira finge encontrar nele justificativa para o modo acumulativo de viver e de lidar com a riqueza. Sua modalidade mais comum enfatiza a sabedoria e a soberania de Deus. Quem é rico, sustenta essa visão de mundo, não deve absolutamente sentir-se culpado por não participar da miséria do mundo; ao contrário, quem acontece de estar rico foi agraciado pelo favor insondável de Deus e incorre em grave erro se sentir-se inclinado a repartir o que tem. A tentação de abrir mão dos privilégios da riqueza equivale à tentação de resistir à vontade de Deus.

Segundo essa linha de pensamento, nenhum privilégio é injusto, porque são todos patrocinados pela soberania divina. Em vista disso, não cabe aos ricos assumir uma postura distributiva em relação à riqueza1, porque isso denotaria falta de fé na divina capacidade de transformar o mal em bem. Não sabemos os motivos da miséria do mundo, mas não devemos duvidar da bondade divina. É portanto por razões de devoção e fé, sustentam esses proponentes da prosperidade calvinista, que é necessário abrir mão de qualquer tentativa de corrigir o mundo. Mudar o mundo é, na verdade, rebeldia contra a divindade. Talvez pareça injusto que você seja rico e o seu próximo pobre, mas quem é você para julgar? Quem é você para questionar a soberania divina, que estabeleceu a distinção em primeiro lugar?

Em absoluto contraste com esse pensamento, o modo genuíno de se ler o Novo Testamento é encontrando nele um apelo constante e incontornável para que abracemos um modo distributivo de lidar com a riqueza. Assim falaram os profetas antes dele (“reparta o seu pão com o faminto, e cubra ao nu com vestido”), assim falou João Batista (“quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma”), assim falou Jesus (“tive fome e não me destes de comer”), assim fizeram os pioneiros do reino no livro de Atos (“tinham tudo em comum; e vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um”). Em cada caso e em todos os casos, a posição neo-testamentária com relação à riqueza é distributiva; que no Novo Testamento essa distribuição seja voluntária apenas contribui para confirmar a sua centralidade.

Semelhantemente, no Novo Testamento o impulso de reformar a sociedade não é jamais visto como rebeldia contra a vontade de Deus. Ao contrário; como vimos há pouco, o sentido mais essencial de “arrependimento” em Lucas/Atos é o de abraçar a vocação de mudar o mundo, no sentido de corrigir suas injustiças e anular os seus mecanismos de exclusão e de manipulação. A vocação do reino está em que somos enviados para corrigir a miséria do mundo com a mesma paixão que Jesus mostrou-se disposto a corrigir a nossa: esvaziando-se, repartindo-se, distribuindo-se – de modo a estar sempre conosco na mesa universal. Nossa conformidade com o espírito de Jesus corresponde rigorosamente à nossa disposição em seguir o trajeto dele em direção à generosidade e à pobreza. O Apóstolo disse-o da seguinte forma:

Vocês, que destacam-se em tudo, vejam que passem também a destacar-se na generosidade. Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vocês se fez pobre, para que pela sua pobreza fossem enriquecidos.

O que encontramos nesse “enriquecidos” diz absolutamente tudo sobre nós.

Leia também:
O que havia sido usurpado
Os recursos necessários

NOTAS

1. Naturalmente, a postura distributiva é sempre descartada e condenada como “esquerdista” pelos proponentes dessa linha. [?]


terça-feira, 22 de junho de 2010

Sem sentido

Segundo a interpretação bíblica feita pela Teologia Calvinista:

"Os autores do Antigo Testamento sempre descrevem eventos que aconteceram aparentemente ao acaso como sendo o meio pelo qual Deus realizava seu propósito final."

16 de Junho de 1976 - Hector Pieterson, morto na África do Sul, durante o Apartheid

Particularmente, eu acho a teologia calvinista e suas nuances a respeito do controle de Deus sobre tudo, um negocio tão absurdo que todas as justificativas caem por terra diante do primeiro cadáver de uma criança.

Chuva no NE deixa 38 mortos

Dentro do aquário, a teologia clássica, da época dos reis déspotas, diz que Deus tem tudo sobre controle, e dá graça a quem ele quizer, e que as tragédias estão dentro dos seus desígnios, ele faz o que quizer dos humanos, ao seu bel prazer...

"Tanto a edificação quanto a destruição estão debaixo do senhorio de Cristo, e nisso reside a centralidade da Palavra, de Gênesis a Apocalipse, além de nosso consolo maior: o sentido da vida e da história está em Deus."
Esta frase pode ser interpretada desta forma...

Todas as crianças que morrem de fome, o estuprador da menina de 9 anos, o político que roubou milhões e deixou o sistema de saúde falido, o domínio secular das nações ricas sobre os países pobres... estão debaixo do senhorio de Cristo. Ele tem todo o controle soberano sobre estas ações.

Distante dos teólogos da reta doutrina... a tragédia em si não responde esta teologia dos previlegiados e do "sorteio de dados", e doe muito sobre os filhos das injustiças...

"...porém tudo depende do tempo e do acaso." Ec. 9

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Em que mundo você vive?

Ed René Kivitz

Como você completaria a frase “eu vivo num mundo…”?

Não sei em que mundo você vive. Talvez o seu mundo seja descrito com palavras como belo, maravilhoso, perfeito. Ou, quem sabe, palavras como caótico, assustador, injusto. Não sei em que mundo você vive. Mas eu vivo em um mundo marcado pelo sofrimento humano.

Deus tem uma resposta para esse mundo marcado pelo sofrimento, e a resposta de Deus é a igreja de Jesus Cristo. A primeira resposta de Deus não é uma explicação teórica, teológica ou filosófica. A resposta de Deus é uma ação. Primeiro, enviando Jesus “não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele” [João 3.16,17], e, depois, enviando a igreja, nas palavras de Jesus: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo” [João 17.17; 20.21].

Esta é a razão porque Jesus adverte seus discípulos a respeito da possibilidade da irrelevância da igreja. É por meio da igreja que Deus atua no mundo que se decompõe e apodrece – a igreja é sal da terra. É também por meio da igreja que Deus ilumina um mundo em trevas - a igreja é luz do mundo. [Mateus 5.13-16].

A igreja é o sinal histórico do reino de Deus. Isto é, é por meio da igreja que Deus está presente no mundo. Mas a igreja pode fracassar em sua vocação. Pode ser um sal que perdeu o sabor e pode ser uma luz escondida. A advertência de Jesus é estímulo para a reflexão. A pergunta que devemos fazer é: de que maneira a igreja se torna sinal do reino de Deus?

A igreja é necessariamente uma comunidade de doadores. A igreja é a comunidade cujo requisito essencial para ingresso é a conversão ao Evangelho de Jesus Cristo ou, se preferir, à própria pessoa de Jesus Cristo. Isso significa que a condição imprescindível para que alguém faça parte da igreja é a experiência de negar a si mesmo. Isso significa que a igreja é essencialmente a comunidade daquele tipo de gente que não vive mais para si mesma [Mateus 16.24-26; 2Coríntios 5.14,15].

Diante da vulnerabilidade que é viver em um mundo marcado pelo sofrimento, onde ninguém está blindado contra a tragédia, as contingências e infortúnios da vida, a segurança possível não está na posse de riquezas e na vida egoísta, individualista e centrada em si mesmo.

A segurança de que precisamos para viver em um mundo marcado pelo sofrimento está em Deus. Mas também está na comunidade dos seguidores de Jesus, aquele universo de pessoas que vive, não mais para si mesmo, mas para a comunhão, em que todos se ajudam mutuamente a superar o mal e a atravessar o dia do sofrimento com dignidade.

Na igreja, a comunidade dos seguidores de Jesus, encontramos socorro e consolo, pois a igreja, a comunidade da solidariedade e da compaixão, é a resposta de Deus para um mundo marcado pelo sofrimento.

fonte: site da Ibab


domingo, 20 de junho de 2010

A mais divina visão

O que do humano mais esperamos não passa de divinização cruel. O que chamamos de humanização, frequentemente, nada mais é que a idealização narcísea do outro. Bondade, paciência, justiça, polidez, bom senso, honestidade, equidade, pureza e todas as demais virtudes. Tudo muito lindo no meu discurso, mas um pesadelo nos ouvidos e na consciência dos que me rodeiam.

Imponho ao outro o que em mim imagino poderia ser perfeito. Exijo e puno todos a minha volta na proporção em que preciso esconder de mim mesmo a impossibilidade amarga de ser tão bom. O divino que me tortura é abrandado na medida em que culpabilizo o mundo. A gigante e divina moral me esmagaria se eu não o fizesse aos demais. Eis a origem dos conflitos.

Certamente foi esta imagem invertida que Jesus denunciou no moralismo dos fariseus. Chamando-os de guias de cegos, sepulcros caiados. Acusando-os de imporem aos demais o peso que eles mesmos não conseguiam carregar.

Aqui tropeçam secularmente as religiões e as políticas utópicas. Partem de universais que tem a autoridade do “ponto de vista do olho de Deus” (Richard Rorty) e com esta força moral idealizam um futuro imprescindível ao mundo mais humano, ou mais divino, no caso das religiões. E do alto desta perspectiva tornam-se o criadouro fértil dos discursos culpabilizadores e de seus filhos inevitáveis, os mecanismos de disfarces. Esgotados a utopia e seus moralismos e fracassados os simulacros coletivos, resta-nos ou o gosto insosso da apatia, ou o azedo do mais ácido pessimismo diante da realidade da vida humana.

Aqui entra a proposta de salvação trazida por Jesus. Sua resposta pelo que é verdadeiro e capaz de produzir salvação não está em uma utopia escatológica, nem em uma política revolucionária. Muito menos a salvação se apresenta em um conteúdo capaz de descrever a verdade, nem uma prescrição moral do “ponto de vista do olho de Deus”, esta sempre mata, dirá o Apóstolo mais a frente. A salvação não virá de Deus sobre a humanidade, já se tentou e não deu certo. A divina salvação virá da mais autêntica humanidade. Por isso Jesus diz de si mesmo: “eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim.” Não como idealização da vida humana, mas como humanização da idéia divina.

A salvação humana não está em uma glória divina. A glória de Deus é a vida humana plena de si. “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo 1.14)

Não há um ponto de vista do olho divino que não seja uma grande ilusão. Em Jesus, o que há de mais divino tem plena visibilidade entre os humanos. “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido”. (Jo 1.18)

Jesus é o fenômeno humano experimentado sem tergiversações. Ele nasce em um mundo perigoso. Desenvolve-se na companhia de uma gente esmagada pelas políticas de dominação mundial. Cresce em um ambiente religioso tão intenso em sua devoção quanto o sofrimento e a humilhação de sua gente. Convive com a injustiça e a pobreza, com seus filhos miseráveis, as doenças do corpo e da alma. Mas levanta-se sob a autoridade de uma esperança profetizada e aguardada. Afirma-se o Cristo na medida em que realiza uma peregrinação libertadora.

No instante em que sua vida se torna um ingrediente de esperança, Jesus experimenta a mais cruel das manifestações de nossa humanidade, a injustiça. Sua influência também é um deslocamento de poder. E nada é mais temível para os poderosos que um jogo de poder que eles não saibam ou não possam jogar. Jesus inverte a moral dos conquistadores e chama de poderosos os mansos da terra, de legítimos herdeiros do Reino os pobres deste mundo, de bem aventurados os degredados pela desigualdade social. Relativiza as grandes doutrinas, volatiliza os ritos, elege os pequeninos como fonte de sabedoria e lhes confere o rosto divino. Aos poderosos só resta criminalizar alguém assim. Aos religiosos, reputá-lo herege e ameaça à fé. Criminoso e herege. Crucificado. Morto.

O percurso de sua morte não foi forrado por qualquer idealização. Foi um fim trágico e injusto e não se fingiu outra coisa. Nem Jesus aceitou qualquer movimento que escamoteasse a realidade dos fatos. Alertando aos discípulos sobre a confusão após sua prisão e morte, desconsiderou as palavras devotas e otimistas de Pedro: “Todos podem te abandonar, mas eu jamais te abandonarei”. Para a cura de Pedro Jesus deixou seu doce ceticismo: sua expressão de fé não duraria nem uma noite. “Antes que o galo cante…” Jesus também nos ensina a morrer.

Sob o testemunho de Jesus resta-nos retomar a pergunta pelo que nos humaniza, ou pelo que nos faz mais humanos. O humano não é uma divinização moral, já sabemos. Minha desconfiança é que o humano seja a própria liberdade. Que o humano seja a realidade de um ser que se descobre tão livre ante o seu destino quanto entregue ao absurdo de uma existência sem garantias excepcionais. Sua vida é assustadoramente provisória, mas esta também é sua salvação. Pois na vida os dissabores e insucessos também são provisórios. Sua fraqueza é sua força. A mesma fragilidade que o leva à tragédia é a flexibilidade que o leva à revolução. A suscetibilidade é a outra face necessária de sua liberdade. Suas conquistas podem ruir, mas Suas perdas também podem ser superadas.

Só existe outro nome além de liberdade capaz de nomear o fenômeno humano sem encapsulá-lo em uma moral asfixiante. Amor. A negação do humano, ou a desumanização, é todo e qualquer mecanismo que despreze a precariedade humana e finja uma divinização. É o cúmulo da indiferença. Mas a afirmação do humano, ou sua humanização, é um testemunho de amor. É a recusa de todo e qualquer processo de indiferença e fuga, é o abraço à vida em sua plenitude. Amor. A abertura mais corajosa e radical ao fenômeno humano.

O que nos salva em Jesus é seu testemunho de amor. Ninguém jamais viu a Deus, e sempre que tentou falar de seu ponto de vista, desumanizou. O que de Deus vimos em Jesus é tudo o que de Deus se pode ver: o humano do ponto de vista do humano, a mais divina visão.

Elienai Jr. - http://elienaijr.wordpress.com/

A voz de um cara



“Privilégio come direito.”

Via Evandro Melo, por e-mail

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dica: Paulo Brabo - Bacia das Almas
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