sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Violência no sul do Sudão agrava crise na saúde

Na Igreja Evangélica Renascer em Cristo, membros recebem 12 bençãos para o mês de Dezembro:

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Emquanto isto, no Sul do Sudão, tentam sobreviver a uma dura realidade. Quem definiu esta balança?

JustificarMSF lança o dossiê “Encarando a Realidade”, no qual defende a priorização das ações de emergência humanitária

As pessoas do sul do Sudão estão aprisionadas por uma crise que rapidamente se deteriora, seguida do ano mais violento no país desde a assinatura, em 2005, do acordo de paz que deu fim a mais de duas décadas de guerra civil com o norte. No entanto, a reposta para a emergência é cada vez mais inadequada, afirma a organização médica internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Em seu dossiê “Encarando a realidade: a crise na saúde se aprofunda à medida que a violência aumenta no sul do Sudão”, MSF pede que todas as autoridades de governo, doadores internacionais e organizações de ajuda reconheçam a extensão da crise e garantam que as emergências humanitárias sejam urgentemente priorizadas.

“A violência está aumentando, lançando as pessoas de um desastre para o outro. Mesmo assim, as necessidades imediatas não estão sendo atendidas”, afirma Stephan Goetghebuer, diretor de operações de MSF no Sudão. “Uma melhor resposta para essa crescente emergência é crucial ou nossas clínicas vão continuar a sofrer com a escassez de medicamentos, os pacientes feridos a bala vão continuar a chegar até as unidades de saúde muitos dias após os ataques e inúmeros outros não receberão nenhum tipo de tratamento”.

No último ano, MSF testemunhou uma perturbadora deterioração da situação de segurança no sul do Sudão, desde o aumento do número de confrontos no Nilo Superior, Jonglei, estados de Equatoria Central e Lagos aos ataques do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), grupo rebelde de Uganda, nos Estados Equatoria.

Os confrontos violentos em Jonglei e nos Estados do Nilo Superior, onde MSF atuou para responder as necessidades, sugerem uma tendência mais séria do que a tradicional briga por gado. Vilarejos, em vez de campos de pastos, foram atacados, sendo as mulheres e as crianças as principais vítimas. Nesses ataques, três vezes mais pessoas foram mortas que feridas e 87% dos que foram tratados por MSF apresentavam ferimentos à bala.

MSF realizou 1.426 cirurgias apenas nesses dois estados nos primeiros dez meses de 2009, mais do que o total de 1.271 intervenções cirúrgica que as equipes da organização providenciaram em todos seus projetos no sul do Sudão em 2008.

“A intensidade da violência deste ano tem consequências severas”, afirma Shelagh Woods, vice-chefe de missão de MSF. “Nós tratamos mulheres feridas que perderam suas famílias, crianças com pernas destruídas por tiros, pessoas que fugiram sem ter tempo de enterrar seus amados. As pessoas não se sentem seguras e vivem sob constante medo de ataques”.

A violência fez com que 25 mil pessoas tivessem de se deslocar, obrigando-as a viver em condições precárias onde as doenças estão disseminadas e a desnutrição é um risco grave. Nos primeiros dez meses de 2009, MSF internou 11.129 pacientes com desnutrição severa em suas clínicas, comparado com 6.139 internações realizadas em 2008.

A escalada da violência agrava a já difícil situação médica no sul do Sudão, onde 75% das pessoas não têm acesso nem mesmo ao mais básico tratamento de saúde, e onde surtos de doença em larga escala ameaçam a vida das pessoas. MSF tratou 175 pacientes na primeira das seis semanas de um surto de leishmaniose visceral (calazar) – uma doença parasitária fatal, quando não tratada, comparado com 127 em todo o ano de 2008.

No entanto, o foco dos doadores internacionais em uma perspectiva de desenvolvimento a longo prazo ainda é desproporcional em relação à necessidade da ajuda humanitária imediata.

“Sinais de alarme devem soar quando apenas um pequeno número de agências está se mobilizando para responder às necessidades graves a tempo. O desenvolvimento por si só não é suficiente no sul do Sudão. Planos para emergência e ação humanitária devem ser prioridades”, acrescenta Stephan Goetghebuer.

Dos mistérios de ser Deus e homem

A cristologia de Bento XVI, platônica, parte de Deus e chega em Cristo.
A de Sobrino, aristotélica, faz o caminho inverso. Eis o choque.

Por Fernando Altemeyer Junior

Há (dez dias) publicou-se a nota condenatória: “O padre Jon Sobrino tende a diminuir o valor normativo das afirmações do Novo Testamento e dos grandes Concílios da Igreja antiga. Tais erros de índole metodológica levam a conclusões não conformes com a fé da Igreja em pontos centrais da mesma: a divindade de Jesus Cristo, a encarnação do Filho de Deus, a relação de Jesus com o Reino de Deus, a sua auto-consciência, o valor salvífico da sua morte.” Notificação da Congregação da Doutrina da Fé, Vaticano, 14 de março de 2007.

Quais as razões para este gesto? Quais as razões para a condenação da obra de um teólogo tão requintado e fecundo? Terá ele diminuído o valor da mensagem evangélica e errado em seu método? Terá negado a divindade de Jesus? Terá silenciado sobre a salvação trazida por Cristo? O que diz Jon Sobrino em seus textos e o que afirma a teologia latino-americana em sua obra intelectual?

Outros tantos teólogos foram condenados nos últimos 32 anos: Hans Kung em 1975 e 1980; Jacques Pohier em 1979; Edward Schillebeeckx em 1980, 1984 e 1986; Leonardo Boff em 1985; Charles Curran em 1986; Tissa Balasuriya em 1997; Anthony de Mello em 1998; Reinhard Messner no ano 2000; Jacques Dupuis e Marciano Vidal em 2001; Roger Haight em 2004 e Jon Sobrino em março de 2007. Há algo de comum entre eles? Há razões para explicar esses conflitos dogmáticos?

Apresento aqui um quadro comparativo das teologias produzidas na América Latina e na Europa, para entender o que aconteceu com o padre jesuíta Jon Sobrino. Na América Latina, a formulação da fé é direta. Na Europa, é reflexa. Na América Latina, o ponto de partida é o rosto de Cristo transfigurado nos pobres. Na Europa, o ponto crucial é a transfiguração do Cristo na filosofia e no pensamento clássico. Na teologia latino-americana a preocupação é prática. Na Europa, é lógica. Na América Latina vemos o povo crucificado como cruz divina. Os pobres são cruciais. Na Europa fala-se do Deus crucificado como cruz humana. A Igreja é crucial. Na América Latina, a consciência histórica é um critério de seguimento de Jesus. Crer é seguir Jesus. Na Europa, o caminho de Jesus é objeto de investigação e critério para discernir entre o crer e o não crer. Crer é entender Jesus. Na América Latina, a pregação de Jesus sobre o Reinado de Deus é um contexto vital e mediação concreta para conhecer ao Deus vivo e verdadeiro. O Reino revela o amor e a verdade. Na Europa, a proclamação da verdade é a fonte segura do fazer teologia. A verdade revela o amor e o Reino.

A Cristologia latino-americana (em particular na obra de Jon Sobrino) se faz a partir da dor humana, especialmente da humanidade padecente em sua carne e corpo. A Cristologia européia se faz a partir do conhecimento humano e da angústia existencial em sua alma e mente. A Cristologia latino-americana vem de baixo para cima. Do histórico de Jesus ao ser de Jesus. Do ser de Jesus ao ser de Deus. É alinhada à escola teológica de Antioquia, ao pensamento dos primeiros evangelistas e a São João Crisóstomo. Fazer teologia muda a vida dos teólogos. Já a Cristologia européia vem de cima para baixo. Do ser de Deus ao Cristo da fé. Do Cristo ao Jesus Ressuscitado. Do Ressuscitado ao crucificado. É alinhada aos pensadores alexandrinos, particularmente ao grande doutor Atanásio.

A Cristologia latino-americana participa da esperança libertadora dos povos crucificados. É uma Cristologia ascendente, inspirada em textos clássicos dos aristotélicos e tomistas. Jon Sobrino faz parte da família espiritual que bebe desta fonte teologal. A Cristologia européia trabalha a encarnação do Verbo como manifestação salvífica de Deus. É uma Cristologia descendente, inspirada em textos clássicos dos platônicos e agostinianos. Os teólogos da Congregação da Doutrina da Fé têm bebido desta fonte espiritual.

A Igreja latino-americana construiu uma teologia que dialoga com o magistério local. E este magistério se exprimiu teologicamente em Medellin, Puebla e Santo Domingo, em documentos pastorais de serviço ao povo e ao Evangelho. O que foi escrito em Medellin, em 1968, foi uma profecia autêntica do povo de Deus. O que foi assumido em Puebla, em 1979, foi a opção do Evangelho pelos pobres e contra a pobreza. O que foi encarnado e inculturado em Santo Domingo, em 1992, foi chave interpretativa dos sinais dos tempos. A missão da Igreja não é restauradora. É anúncio feliz da vida em Cristo.

A teologia gestada em El Salvador, no Brasil, no Chile e em praticamente toda América hispânica e criola dialogou com o magistério local e universal. Assumiu colóquios fecundos com pastores como dom Luciano Pedro Mendes de Almeida e dom José Ivo Lorscheider. Foi sustentada por cardeais como Aloísio Lorscheider e Paulo Evaristo Arns, e por patriarcas da Igreja latino-americana que podem ser chamados de novos padres da Igreja: Jaime Francisco de Nevares, Alberto Pascual Devoto, Eduardo Francisco Pironio, Enrique Angel Angelelli (argentinos); Jorge Manrique Hurtado (boliviano); Avelar Brandão Vilela, Fernando Gomes dos Santos, Helder Pessoa Câmara, Romeu Alberti (brasileiros); Enrique Alvear, Manuel Larrain Errazuriz, Raul Silva Henríquez (chilenos); Gerardo Valencia Cano (colombiano); Oscar Arnulfo Romero (salvadorenho); Leônidas E. Proaño Villalba, Pablo Muñoz Vega (equatorianos); Juan Gerardi Conedera (guatemalteco); Marcelo Gerin (hondurenho); Bartolomé Carrasco Briseño, José Salazar López, José Alberto Llaguno Farias, Sergio Méndez Arceo (mexicanos); Marcos Gregório McGrath (panamenho); Ramón Bogarín Argaña (paraguaio); Juan Landázurri Rickett (peruano) e Carlos Parteli Kéller (uruguaio). Todos filhos do Vaticano II que retomaram a antiga patrística. Padres testemunhas como Oscar Romero e Enrique Angelelli. Mártires que semearam igrejas em todo o continente, como na expressão de Tertuliano. Vivem a teologia na doação de suas próprias vidas.

A segunda onda patrística dos apologistas que defenderam a fé face ao pensamento grego e ao império romano, também tem paralelo em bispos como Manuel Larrain e especialmente no indígena Leônidas Proaño. Apologistas das culturas indígenas e da fé verdadeira. Vivem a teologia na escuta dos clamores surdos de seus povos.

O sofrimento pessoal de Jon Sobrino pode ser um momento fecundo para que se descubra que a humanidade sacratíssima de Jesus é o caminho seguro para contentar a Deus, para alcançar grandes graças do Espírito Santo e, sobretudo, pode ser a porta segura para que Deus nos mostre seus grandes segredos. São Francisco mostra isso ao receber as chagas de Cristo. Santo Antônio de Pádua, ao apresentar em seu colo o menino Deus. São Bernardo e Catarina de Sena em seus poemas de amor à humanidade de Deus feito humano. E, enfim, a doutora Santa Teresa de Ávila, que em seu Livro da Vida, no capítulo 22, afirma categoricamente que o melhor caminho para a mais alta contemplação de Deus passa pela humanidade de Jesus.

*Fernando Altemeyer Junior, teólogo, doutor em Ciências Sociais e ouvidor da PUC de São Paulo.

via: outraespiritualidade.blogspot.com

domingo, 13 de dezembro de 2009

Deus e a tragédia humana




Ricardo Gondim

Prezado José,

Acabei de ver Baraka, um filme lindíssimo sobre a relação humana com a terra e com o divino; também sobre o vórtice dos processos de morte que imperam ao redor do Globo (mais sobre o filme aqui) Chorei em várias cenas. A palavra Baraka é uma antiga expressão sufi que significa silêncio da bruma (talvez o mesmo silêncio que fez Elias perceber a presença de Deus).

O filme mostra a luta de homens, mulheres e crianças pela sobrevivência, e como são muitas vezes despercebidos os processos de antivida, tão banalizados por toda parte. E sempre a serviço da morte, para destruir a terra e seus habitantes.

Engasguei quando o filme para nas fotografias de duas meninas mortas em holocaustos diferentes - Auschwitz e Camboja. O olhar puro de duas vidas anônimas destruídas sem necessidade, levaram-me a um choro convulsivo; também vazei lágrimas na cena de um guri pedindo esmolas, com um cobertor azul sobre as pernas.

Logo que o filme terminou murmurei em voz alta: o deus que intervém não existe (você se lembra da primeira frase do documentário Ilha das Flores?). Esse deus que esporadicamente vem trazer livramento aos seus eleitos é uma construção ideológica para acalmar as multidões. A tragédia humana, reduzida a mera máquina na linha de produção de cigarro ou automatizada pelo vai e vem do trânsito ou apequenada abaixo de sua dignidade em monturos de lixo, não comporta a ideia de um Deus todo-poderoso. Que deus é esse que acorrentado a um rancor milenar, nada faz pela sorte de homens e mulheres, mas os abandona na sorte mais cruel? A concepção de uma divindade ofendida, que resfolega ódio contra tantas pessoas condenando-as sofrer agruras indescritíveis, é absurda. Precisamos recompor a imagem que fazemos de Deus.

Padre François Varrilon (um francês maravilhoso) afirmou em seu livro “Alegria de Crer e Viver” (infelizmente esgotado): "Por vezes, diz-se: Deus pode tudo! Não, Deus não pode tudo, Deus não pode senão o que pode o Amor. Porque ele não é senão o Amor. E sempre que nós saímos da esfera do amor, enganamo-nos sobre Deus e estamos a ponto de fabricar um qualquer Júpter".

Preciso dizer-lhe, José, que não precisa ter receio de abandonar esse modelo teológico de compreensão da divindade. Não, não tenha medo! Você pode estar próximo de abandonar um modelo, mas você jamais vai se afastar de Deus. Pelo contrário, depois que assisti ao filme Baraka, meu coração se sensibilizou. Fui desafiado a olhar para a vida com outros parâmetros. Senti no espírito o dever de caminhar por uma senda pouco trilhada, mas que me possibilitará a chance de crescer. Acredito que Deus não deixa que os puros de coração embarquem em canoas furadas. O Espírito há de nos dirigir a novos patamares de relacionamento com o Senhor.

Ao conhecer um Deus que chora, pois a dor do mundo dói nele, nos aproximamos de Jesus. Damos as costas à divindade alheada da vida para entendermos a afirmação bíblica: Deus é amor. Pe. Varrilon precisaria ser mais conhecido, sua percepção sobre o amor de Deus é riquíssima.

Se Deus interviesse para impedir o homem de sofrer, talvez nós pudéssemos dizer, numa primeira análise, que Ele nos ama ao impedir-nos de sofrer. Mas se formos ao fundo das coisas, reconhecemos que isso seria um ato infantil, não seria sério. O que está no centro do ato criador, é o absoluto respeito por uma criatura que deve criar-se a ela mesma, e que não pode fazê-lo sem o risco do sofrimento, independente de pecado que, sem dúvida, vem complicar as coisas. Atrevo-me a considerar em Deus dois níveis de amor. É uma maneira de falar, evidentemente. Um nível inferior, em que Deus intervém para impedir o homem de sofrer. E um nível superior de amor em que Ele respeita absolutamente a criatura que deve criar-se a si mesma... Se Deus intervém, quer no Evangelho, através de milagres, quer em determinadas vidas, por exemplo, através de curas, é porque Ele está presente em nossos humildes começos, ali, onde o nosso desejo é ainda carnal, onde se trata mais de necessidades do que de desejos. Mas é sempre para nos conduzir ao calvário onde não existe nenhuma intervenção. No Calvário, é o silêncio, é a ausência, é nesse momento que o amor se revela em toda a sua profundidade.

Faça um favor à sua alma, invista em seu crescimento. Compre o DVD, desligue os telefones e deixe que Deus use a mensagem do filme para tirar os pedregulhos do seu coraçao. Ah, quase esqueço, o filme Baraka não tem nenhuma narrativa; ninguém fala uma só palavra. O silêncio de Deus perante a cruz se parece com o silêncio de Deus diante das favelas, campos de concentração.

Soli Deo Gloria
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