sábado, 24 de outubro de 2009

Se Deus existe porque há pobreza?


Sinopse

Uma das buscas do ser humano é entender a relação de Deus com a pobreza. Por mais que a humanidade evolua, é pouco provável que essa realidade desapareça por completo. Jung Mo Sung conduz o leitor a uma compreensão dessa realidade social e de sua relação com Deus através de 'Se Deus existe, por que há pobreza?' A pobreza é apresentada mediante a análise das causas e dos contextos sócio-econômicos, demonstrando que a miséria dos excluídos é apenas uma das mazelas dos seres humanos que produzem ou aceitam sistemas sociais e políticos excludentes. Diante dessa realidade, o autor apresenta a fé em Deus como o caminho para que se vivam valores mais solidários e humanos.

Se eu pudesse indicar um único livro para ler este ano, seria este...

Segue o link para o livro na Livraria Cultura

Olimpíadas do social

Frei Betto

O governo acaba de divulgar os dados do Censo Agropecuário. E dar razão ao MST quando reivindica reforma agrária.

Há, no Brasil, 5.175 milhões de propriedades rurais. Ocupam uma área total de 329.9 milhões de hectares. Um hectare equivale a um campo de futebol. Essas propriedades empregam 16.5 milhões de pessoas, e mais 11.8 milhões de trabalhadores informais (bóias-frias, diaristas etc.).

Dos que trabalham no campo, 42% não terminaram o ensino fundamental; 39,1% são analfabetos; apenas 8,4% têm o fundamental completo; 7,3% obtiveram diploma de nível superior; e 2,8% cursaram o técnico agrícola.

Esses dados explicam a baixa qualidade dos trabalhadores rurais, uma vez que o governo não lhes oferece instrução adequada, e a perversa existência de trabalho escravo, favorecido pela situação de miséria de migrantes em busca de sobrevivência.

A concentração de terras em mãos de poucos é 67% superior à da renda no país, cuja desigualdade se destaca entre as maiores do mundo. Essa concentração, agravada pelo agronegócio voltado à exportação de soja, cana e carne de gado, reduz o número de trabalhadores no campo.

Em dez anos, 1,363 milhão de pessoas deixaram de trabalhar na lavoura. Muitas viraram sem-terra. E não foram poucas as que migraram para, nas cidades, engordar o cinturão de favelas e agravar a incidência da mendicância e a violência urbana.

A mesa do brasileiro continua a ser abastecida pela agricultura familiar, que emprega 12 milhões de pessoas (74,4% dos trabalhadores no campo), enquanto o agronegócio contrata apenas 600 mil. Na cesta básica, a agricultura familiar é responsável pela produção de 87% da mandioca e 70% do feijão.

Segundo o Censo, 30% das nossas lavouras utilizam agrotóxico. Porém, apenas 21% recebem orientação regular sobre essa prática. Ou seja, muitos utilizam herbicidas no lugar de inseticidas e, ao aplicar veneno na terra, não cuidam de se proteger da contaminação.

Na mesa do brasileiro, entre verduras folhudas e legumes viçosos, campeia a química que anaboliza os produtos e prejudica a saúde humana. São 713 milhões de litros de veneno injetados, por ano, na lavoura do Brasil. E até hoje o governo resiste à proposta de obrigar a prevenir os consumidores se o produto é ou não transgênico.

A agricultura orgânica ainda é insignificante no Brasil: apenas 1,8%. Mas já envolve mais de 90 mil produtores. A maior parte da produção (60%) se destina à exportação: Japão, EUA, União Européia e mais 30 países.

O Censo revelou ainda que os jovens estão abandonando o campo. Apenas 16,8% dos produtores têm menos de 35 anos de idade, e 37,8% têm 55 ou mais. Houve melhora na qualidade de vida: 68,1% dos estabelecimentos rurais contam com energia elétrica (o programa Luz para Todos funciona) e a irrigação aumentou 39%, favorecendo 42% da área total.

Em dezembro, os chefes de Estado de todo o mundo se reunirão em Copenhague para debater o novo acordo climático, considerando que o Protocolo de Kioto expira em 2012. Segundo dados da ONU, em 2050 - quando haverá aumento de 50% da população do planeta - a escassez de alimentos ameaçará 25 milhões de crianças, pois a produção mundial, devido ao aquecimento global, sofrerá redução de 20%.

Os habitantes dos países pobres terão acesso, em 2050, a 2,41 mil calorias diárias, 286 calorias a menos do que em 2000. Nos países industrializados, a redução será de 250 calorias. Drama que poderá ser evitado se houver investimento de US$ 9 bilhões/ano para aumentar a produtividade agrícola.

Estudo do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar constata que a escassez levará à alta dos preços de alimentos básicos, como trigo, soja e arroz. Este produto, essencial na dieta mundial, poderá ter aumento de até 121%! Hoje, a fome ameaça 1,02 bilhão de pessoas (15% da população mundial).

O Brasil é, hoje, um dos maiores produtores mundiais de alimentos. Nosso rebanho bovino conta com quase 200 milhões de cabeças - responsáveis também pelo aquecimento global -, e a fabricação de etanol elevou a produção de cana-de-açúcar para quase 400 milhões de toneladas/ano.

Apesar dos dados positivos de nossa produção agropecuária, ainda convivemos com a fome (11,9 milhões de brasileiros); a mortalidade infantil (23 em cada 1.000 nascidos vivos); o analfabetismo (15 milhões); e alto índice de criminalidade (40 mil assassinatos/ ano).

Bom seria se a nação também se mobilizasse para as Olimpíadas do Social e, enquanto o Rio reforma seus estádios para 2016, o Brasil promovesse as tão sonhadas, prometidas e adiadas reformas: agrária, política, educacional, sanitária e tributária.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Colapso no sistema: Av. Paulista

Lucas Lujan

Segundo a Wikipédia, a Av. Paulista:

“… é um dos logradouros mais importantes do município de São Paulo , a capital do estado homônimo. Considerada um dos principais centros financeiros da cidade, assim como também um dos seus pontos turísticos mais característicos, a avenida revela sua importância não só como pólo econômico, mas também como centralidade cultural e de entretenimento. Devido à grande quantidade de sedes de empresas, bancos, hotéis, Hospitais e instituições culturais, como o MASP, movimentam-se diariamente pela avenida Paulista milhares de pessoas oriundas de todas as regiões da cidade e de fora dela.”

A informação está correta, mas incompleta.

É impossível caminhar na Av. Paulista por cinco minutos sem encontrar um mendigo sujo, fedido, faminto e banguelo. Com sorte, não se tropeça nele. Mas ele precisa permanecer lá, para denunciar o colapso. Numa avenida “Considerada um dos principais centros financeiros da cidade”, tem gente miserável, pobre, sem teto, pedinte, com fome.

Uma vez, saindo da faculdade, minha esposa ofereceu um sanduíche para um deles. Ele respondeu: “Enfia no cú”. Como é de se imaginar, ela ficou arrasada. Mas achei a resposta dele coerente, uma vez que agiu por imitação: a sociedade sempre o manda fazer o mesmo com a sua dignidade. E ele deve ficar arrasado…

Deixa eu me corrigir. A informação na Wikipédia está completa, porque mendigos são invisíveis.

via: blog dos JovensbetesdaON
fotos: por minha conta. [1] Avenida Paulista e [2] Mendigo na Avenida Paulista

Índia: Vítimas de inundações ainda estão vulneráveis

Na Igreja Apostólica Renascer, prosperidade é um direito dos cristãos. Para isto, vá no seminário ministrado pelo Ap. Estevam Hernandes e conheça as ferramentas para isto:


Distante disto, vítimas de inundação, não conseguem ter nem um lar humilde para criar suas crianças...
Pergunto: Que Deus é este que prospera uns e é indiferente a inundação de outros, inclusive de crianças?

Índia: Vítimas de inundações ainda estão vulneráveis
MSF leva kits de emergência para os desabrigados e avalia situação em áreas isoladas
19/10/2009 - Os níveis de inundação nos estados indianos de Karnataka e Andhra Pradesh estão diminuindo, mas milhões de pessoas ainda estão desabrigadas. A preocupação com as necessidades de abrigo, comida e proteção contra doenças como a malária é crescente. Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi uma das primeiras organizações internacionais de ajuda humanitária a prestar cuidados de emergência às populações afetadas em Andhra Pradesh e, nesta semana, continua realizando esforços de socorro.

“Quando eu olho em volta na aldeia onde me encontro, praticamente todas as construções foram destruídas”, disse Simon Burroughs, coordenador da emergência de MSF em Andhra Pradesh.“Este lugar foi inundado por três ou quatro metros de água. As pessoas não só tiveram suas casas destruídas, elas perderam tudo que tinham. Eles tiveram que sair no momento em que a catástrofe foi anunciada para poderem escapar. Muitos elementos de subsistência foram destruídos: as redes dos pescadores foram varridas, campos de fazendas foram completamente destroçados.”

MSF distribuiu mais de 1.000 kits de emergência no distrito de Kurnool, contendo utensílios de cozinha, cobertores, materiais de higiene e lonas de plástico, para serem usadas como abrigo. Dois mil kits adicionais foram distribuídos nos distritos de Kurnool e Vijaywada até domingo. Além disso, 1.000 mosquiteiros também serão distribuídos no bairro Vijaywada, uma área propensa a malária.

“MSF, junto com outras ONGs e o estado indiano, está garantindo que as necessidades básicas de curto prazo das pessoas sejam asseguradas", disse Burroughs. "Muitas pessoas não têm lugar para cozinhar, por isso fornecemos utensílios de cozinha. Com a lona plástica eles podem montar uma barraca. Está ficando mais frio nessa estação do ano, então, os cobertores que distribuímos são também muito bem-vindos."

Embora ainda demore muito tempo para que as coisas voltem ao normal, Simon vê sinais de que a situação está melhorando. "Ainda há água parada, mas a infraestrutura está melhorando e o acesso a áreas que anteriormente só eram acessíveis por helicóptero está começando a ressurgir. No entanto, provavelmente ainda existem grupos de pessoas em áreas isoladas que necessitam de mais ajuda. Vamos continuar nossas avaliações para ver se podemos alcançá-las.”

Fazendo história

Ed Renee Kivitz

O futuro não está pronto. Deus tem propósitos, mas não tem planos. A história caminha rumo ao fim bom de toda a criação – reino de Deus, mas segue sua sina construída a quatro mãos: divinas e humanas. Há quatro variáveis dentro das quais a história se desenrola. Quatro variáveis que servem de moldura para que cada ser humano escreva sua própria história enquanto coopera na escrita da história de Deus.


A circunstâncias são a primeira variável. Todos somos postos dentro de contextos a respeito dos quais não tivemos qualquer influência. A começar do dia, hora e local do nosso nascimento. Na verdade, a começar do próprio nascimento: ninguém pediu pra nascer. A vida se desenrola e nos coloca diante de horizontes independem de nossa vontade e desejos: sua família de origem, a escola de sua infância, a cidade onde seus pais se fixaram, a condição econômica e financeira de sua casa, os primeiros amigos, o número de irmãos, e uma série de outros detalhes que simplesmente fazem parte de sua vida antes mesmo de você ter consciência de sua existência.

As oportunidades são a segunda variável. Cada circunstância contém em si mesma um horizonte imenso de oportunidades. O que para uma pessoa é uma situação indesejada, para outra pode ser uma ocasião privilegiada. Depende muito de como cada um encara a realidade.

Nas circunstâncias surgem as oportunidades e as oportunidades exigem decisões, a terceira variável. Somos escravos de nossa liberdade. Decidir é inevitável. Mesmo quem não decide nada tomou uma decisão: a decisão de não decidir. Imagine que a circunstância é uma sala. Nesta sala existem muitas portas, cada uma delas é uma oportunidade. Todo ser humano tem o sagrado privilégio de escolher uma porta para chegar a outro horizonte de oportunidades. É verdade que de vez em quando alguém ou algo nos empurra porta adentro sem que a tenhamos escolhido), mas ainda assim, estaremos diante de muitas outras portas, e assim sucessivamente, de sala em sala, até a última porta.

Dentro de cada circunstância, um monte de oportunidades, que por sua vez exigem decisões. Por sobre tudo isso está Deus – perdoe-me adjetivá-lo de “variável”, a quarta variável. O que Deus faz ou deixa de fazer está na categoria do mistério, foge às nossas possibilidades e mesmo quando o discernimos, geralmente é depois que a coisa já está feita. Por esta razão, devemos cuidar do que está em nossas mãos: encarar as circunstância, discernir oportunidades e tomar decisões. Crendo sempre que Deus está sobre tudo e todos, cuidando de nós e agindo em nós, através de nós e apesar de nós para que nossa história pessoal seja alinhada à sua história eterna. Como ele faz isso eu não faço a menor idéia. Não sei o que, quando e como Deus agiu ou age em minha história. Mas isso não está em minhas mãos. Tudo quanto posso fazer é abrir a porta de minha vida para que Deus entre e assuma o controle.

Confiando que Deus está comigo, sigo meu caminho, sendo grato por tudo e sempre, atento para discernir os dias, perceber os sinais, enxergar as oportunidades, e fazendo o máximo para tomar as melhores decisões possíveis, buscando acima de tudo o que interessa ao reino de Deus e sua justiça. No mais, literalmente, seja o que Deus quiser.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Crime, castigo e ressurreição

Ricardo Gondim

Páginas e páginas da história estão abarrotadas de cadáveres. Milhões morreram devido a estupidez de reis, ditadores, sacerdotes e mercadores. Guerras foram justificadas por questões econômicas. Massacres aconteceram para defender patriotismos imbecis. Genocídios se repetiram para que determinada religião prevalecesse. Gerações se comportaram com menos dignidade que os lobos – que não são predadores da própria matilha.

Em Crime e Castigo, Dostoiévski narra a vida de Raskólnikov, estudante desesperado pela miséria. Vendo-se explorado por Aliena Ivánovna, uma velha, usurária que sobrevive da agiotagem, Raskólnikov a assassina com golpes de machado. Para justificar seu homicídio, Raskólnikov, que era brilhante, engendra uma teoria: existem dois tipos de indivíduos, os “ordinários” e os “extraordinários”. Os “ordinários” são aqueles que se contentam em reproduzir, e caminham anônimos pela existência; eles fazem parte das massas, e vagam como manada. Já os “extraordinários” são os responsáveis pela história e sobre seus ombros recai o dever de conduzir os destinos da humanidade.

Raskólnikov se inspirou em Napoleão antes de decidir matar. Ele se lembrou que o imperador verteu rios de sangue para solidificar a burguesia francesa que necessitava de uma estrutura bancária. Seu pensamento foi mais ou menos o seguinte: “Ora, se a história absolveu Napoleão, que matou milhões em nome de um projeto econômico, porque eu, Rodion Románovitch Raskólnikov, não posso acabar com uma decrépita, que repete na microestrutura o que o sistema bancário faz na macroestrutura?”.

Neste pressuposto, Dostoiévski critica o projeto da modernidade. A modernidade, que transformou o século XX no mais sanguinário da história, se desenvolveu com a lógica sacrificial de que indivíduos podem ser descartados. Quem vai julgar a indústria do leite em pó, que promoveu um infanticídio na África ao incentivar o abandono do aleitamento materno? As grifes famosas, que exploram o trabalho escravo na Ásia para maximizar lucros, permanecerão impunes? Quem há de protestar contra o absurdo de uma xícara de café custar, na Europa, mais que um dia de trabalho em fazendas da América do Sul? George W. Bush vai mesmo desfrutar uma vida abastada e longa no Texas, sem sofrer nenhum processo em tribunais internacionais?

Os “extraordinários” se sentem imunes e impunes. Em nome do processo civilizatório, do capitalismo que mantém a engrenagem econômica em movimento e do progresso, vidas são eliminadas, inclusive, com efeitos colaterais perversos. Danem-se os pobres, as crianças e os deficientes. “Algum preço tem que ser pago para que a humanidade progrida e alcance seu fim glorioso”, afirmam.

Em cima de tal lógica, Raskólnikov jamais admitiu ter matado a velha. Para ele, um "princípio" foi eliminado. Aliena era um obstáculo, um “piolho”, que estorvava o seu caminho.

Profeta adiante de sua época, Dostoiévski expôs a inclemência do capitalismo, que não tem escrúpulos de mercadejar com a alma humana. As grandes fortunas, os mega empreendimentos, as ideologias absolutas, junto com as religiões dogmáticas, não têm coração; não sentem remorso. Mas Raskólnikov sofreu. Sua consciência não o deixava em paz, teve febre e foi para o fundo do poço. A mensagem final do livro é: existe a possibilidade de um novo começo para indivíduos maus; as estruturas sociais, religiosas e econômicas, entretanto, se depravaram e nunca vão parar de assassinar.

Soli Deo Gloria

Sobre Deus


Rubem Alves

Alguém disse que gosta das coisas que escrevo, mas não gosta do que penso sobre Deus. Não se aflijam. Nossos pensamentos sobre Deus não fazem a menor diferença. Nós nos afligimos com o que os outros pensam sobre nós. Pois que lhes digo que Deus não dá a mínima. Ele é como uma fonte de água cristalina. Através dos séculos os homens tem sujado essa fonte com seus malcheirosos excrementos intelectuais. Disseram que ele tem uma câmara de torturas chamada inferno onde coloca aqueles que lhe desobedecem, por toda a eternidade, e ri de felicidade contemplando o sofrimento sem remédio dos infelizes.

Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas.

Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhos, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.

Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias . Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que têm idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.

Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, Nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável. Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar… Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus…

Fonte: Blog do Elienai Jr.
Dica do Pavablog

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um lampejo da graça



Ricardo Gondim

Não nasci quebrado, não herdei o pecado de Adão, não aprendi a andar debaixo da maldição divina. Em meus primeiros tropeços não exalei um mau cheiro de perversidade. Minha infância foi leve, moleca, solta. Reparti o pão singelo com outros cinco irmãos. Ao lado do vovô, escutei o rádio. Buscávamos notícias da BBC de Londres, da Agência de Notícias de Moscou, dos exilados que moravam na Suécia - Com papai preso, precisávamos furar o cerco da censura.

Mas ainda na adolescência me ensinaram que eu era ruim. E que a mão de Deus estava prestes a pesar sobre minha cabeça. Eu deveria acordar; a qualquer instante poderia morrer e queimar eternamente no inferno. Ainda não consigo avaliar o impacto de tamanho pavor na cabeça de um garoto, mesmo passados tantos anos. Sei tão somente que abracei uma espiritualidade calcada no terror.

Alguém colocou um espelho na minha frente e me disse que eu deveria ver torpeza em meus olhos tristes. Arqueei as sobrancelhas; realmente acreditei que não prestava. Daí para frente, orei inúmeras vezes pedindo que Deus perdoasse uma “multidão de pecados”. Internalizei todos esses medos e adiei a vida.

Minha religião se construiu no negativo. Eu me contentava em cultuar a Deus para celebrar apenas a sua misericórdia. Mas antes de mencionar misericórdia, deixava claro a etimologia latina, miserere e cordis. Depois ressaltava: Deus volta seu coração para nós, eternos miseráveis. Enchia a boca: Miseráveis! Para mim a função do culto se resumia nisso, pedir perdão, quitar as dívidas com a lei moral e prometer que daquele dia em diante tudo seria diferente. Na semana seguinte, obviamente, tendo tropeçado nos cadarços de minha condição humana, voltava à estaca zero. E assim de multidão de pecados em multidão de pecados, sofregamente, esperava que Deus não se zangasse comigo além da conta.

Tardiamente despertei. Eu havia internalizado a mensagem. Era um homem quebrado, contaminado pela desobediência de Adão e irremediavelmente torto. Adoecido, tratava qualquer virtude como trapo de imundície. Meu corpo, propenso à lascívia, me tornava um ímpio (perdoado, mas ímpio) sempre a um passo de voltar à lama.

Alegria? Só muito comedida, “para não dar lugar à carne”. Satisfação? Nos cultos, obviamente. Prazer? Poucos: comer e dormir - prazer sexual, “quando casar”. Minha vida se estreitou. Deixei de ouvir boa música, não me permiti ler romances e passei ao largo da poesia. Catalogaram tantas coisas como abomináveis que eu preferia não me aproximar dessa lista maligna, que condenaria minha alma à perdição eterna.

Há pouco, fui criticado porque vibrei com a saudosa Mercedes Sosa em um show monumental em São Paulo. Disseram que eu agi como um infantil, deslumbrado com um espetáculo vulgar. Não me indignei com os comentários. De fato sou um meninão. Gaguejo diante da lindeza e alucino com a ressurreição de uma alegria que me foi proibida.

Na longa estrada da existência, a vida é breve. Já confessei que não me considero competente para boxear com ilustrados teólogos. Não, minto, na verdade, não quero estar perto deles porque meu coração tem outras sedes. Almejo aprender a joeirar os restolho da vida e encontrar pepitas de uma beleza comum. Pretendo alongar a vista por cima da cerca de meus preconceitos, regionalismos e intolerâncias. Procuro retardar o relógio e ler os autores que antigamente suspeitei.

Fiz as pazes com Deus. Minha espiritualidade saiu do coibitivo e agora celebra a vida. Sinto-me livre, mesmo inadequado. Não regurgito remorsos e não me chafurdo em falsas culpas. Celebro a minha humanidade sem as ameaças do fogo do inferno. Ainda não esgotei, mas já entendo algumas nuanças da graça.

Soli Deo Gloria

A beira do ridículo

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fora da Zona de Conforto! [20/10/09]

Índia: Vítimas de inundações ainda estão vulneráveis
“Quando eu olho em volta na aldeia onde me encontro, praticamente todas as construções foram destruídas”, disse Simon Burroughs, coordenador da emergência de MSF em Andhra Pradesh.“Este lugar foi inundado por três ou quatro metros de água. As pessoas não só tiveram suas casas destruídas, elas perderam tudo que tinham. Eles tiveram que sair no momento em que a catástrofe foi anunciada para poderem escapar. Muitos elementos de subsistência foram destruídos: as redes dos pescadores foram varridas, campos de fazendas foram completamente destroçados.”

Consumidores podem combater tráfico humano
Campanha da OIM adverte que indústria de produtos muito baratos tem sido sustentada pela exploração de trabalho forçado; crime vitima mais de 12 milhões de pessoas.

Paquistão fecha escolas por temer ataques do Talebã
O governo do Paquistão fechou todas as escolas e universidades de Islamabad e de outras cidades por temer que o Talebã realize ataques em resposta à intensificação da ofensiva militar contra redutos da milícia.

Sequestros de crianças aterrorizam iraquianos
Mais de uma semana após o menino ter sido sequestrado, vizinhos alertaram a polícia sobre um cheiro forte vindo de um prédio próximo. Foi ali que encontraram o corpo de Muntadar, já em decomposição, desfigurado por ácido.

Cruz Vermelha pede respeito às leis humanitárias
Órgão quer mais iniciativa de parlamentares para proteger civis em países onde há conflito armado; guia deve ajudar no reconhecimento das regras internacionais.

Subsídios europeus destroem mercado do leite africano
Produtores de leite europeus deverão receber ajuda de 280 milhões de euros para superar a crise. Para produtores rurais europeus, tais subvenções são uma ajuda, para os africanos, no entanto, elas são uma catástrofe.

Obesidade afeta principalmente mulheres pobres
A obesidade afeta as mulheres de todos os níveis sociais, mas tem maior incidência na saúde daquelas em situação de pobreza. Os fatores que têm provocado o aumento da obesidade em nosso país - a qual afeta majoritariamente as mulheres - são: a urbanização, o crescimento econômico, a pobreza, o sedentarismo, a influência dos meios de comunicação, as mudanças na dieta e a pouca importância dos governos em matéria de promoção da saúde.

Busca

domingo, 18 de outubro de 2009

Guerra do Congo



O sofrimento das mulheres vítimas de violência e abusos no conflito da República Democrática do Congo centra uma exposição de fotografias inaugurada na sede das Nações Unidas em Nova York. Sob o título "Retratos de mulheres congolesas na guerra", o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) apresenta uma seleção de imagens para conscientizar o mundo sobre os constantes abusos sexuais sofrido por mulheres e meninas no Congo. Reportagem da EFE.

Cuba enfrenta dificuldades para manter subsídios e pode cortar distribuição social de comida

Mais de 70% dos cubanos vivem desde que nasceram sob o sistema de racionamento. A famosa caderneta de abastecimento, em vigor desde 1962, garante todo mês a cada um dos 11 milhões de habitantes da ilha 3,5 kg de arroz, 2,5 kg de açúcar, 500 g de feijão, 230 g de óleo, 10 ovos, 460 g de frango, 460 g de macarrão, 230 g de picadinho de soja - ou substituto -, além de 115 g de café e um pão diário. Para as crianças menores de 7 anos, incluí um litro de leite por dia. Não é muito, mas durante quase meio século essa minicesta básica subvencionada - todos esses produtos custam o equivalente a menos de 1 euro - foi símbolo do igualitarismo da revolução.

Cuba liberta homem que pediu comida diante de câmeras de televisão



Juan Carlos González Marco, conhecido como "Pánfilo", foi preso a mando do Governo cubano, após ter sido condenado a dois anos de prisão por protestar e pedir comida diante de câmaras de televisão. Apesar de "Pánfilo" ter sido condenado a dois anos de prisão por "desvinculação laboral" e "periculosidade social pré-delitiva", e sua pena ter sido ratificada na semana passada em um tribunal de apelação de Havana, ele recebeu uma carta na qual comunica sua liberdade e que ficará 21 dias em um hospital psiquiátrico para receber um tratamento contra alcoolismo. "Pánfilo" ficará em liberdade após sua estadia nesse hospital e não terá que voltar à prisão



Mas os tempos mudam... Em meio à crise atual, a caderneta de racionamento se transformou em um fardo pesado demais para o governo de Raúl Castro, que tenta consolidar um modelo de economia socialista "sustentável", baseado na lógica dos números e não em sonhos impossíveis. Cuba importa mais de 80% dos alimentos que consome, e nas circunstâncias atuais a subvenção dos produtos da caderneta representa para o Estado mais de US$ 800 milhões. A conta não fecha. E o realismo raulista divulgou esse fato de todas as maneiras.

Desde que assumiu formalmente o poder, em 24 de fevereiro de 2008, Raúl Castro declarou que a caderneta de racionamento, assim como outras "gratuidades e subsídios milionários", são "irracionais e insustentáveis". "Nenhum país pode gastar indefinidamente mais do que ganha", disse em várias oportunidades. O mesmo discurso é repetido há meses na mídia oficial, e em jornais como "Granma" é rara a semana em que não se publicam cartas dos leitores sobre o tema da caderneta. Até o diretor do jornal, Lázaro Barredo, deputado e membro do Comitê Central do Partido Comunista, publicou esta semana um editorial acalorado contra os "vícios do paternalismo", no qual defende o fim do racionamento subsidiado.

"A caderneta de abastecimento foi uma necessidade em um determinado momento; com seus atuais atributos se transforma em um empecilho dentro do conjunto de decisões que a nação terá de assumir", afirma Barredo, para quem "a justiça social não é o igualitarismo, é a igualdade de direitos e oportunidades".

No início do mês as autoridades começaram a experimentar a primeira medida - redução dos subsídios. Como teste, em quatro ministérios - Trabalho e Seguridade Social, Finanças e Preços, Economia e Planejamento e Comércio Interior - foram fechados os refeitórios operários e em troca se começou a dar a cada trabalhador 15 pesos diários - cerca de 0,70 euro - para que almoce por conta própria. Em Cuba há 25 mil refeitórios operários, onde se alimentam diariamente 3,5 milhões de trabalhadores, o que custa ao Estado US$ 350 milhões, segundo números oficiais. A idéia é estender a medida a todos os centros de trabalho.

Dentro dessa lógica de eliminação de subsídios, a caderneta de racionamento tem os dias contados, na opinião da maioria dos especialistas. "A caderneta vai desaparecer, disso não há dúvida. Mas a precariedade atual é tamanha que o governo não pode fazer isso de uma vez, pois deixaria meia ilha derrubada", afirma um economista.

As autoridades sabem disso. O salário médio em Cuba é de 415 pesos mensais, cerca de 13 euros. Em Cuba, é verdade, a saúde e a educação são gratuitas - outra coisa é sua qualidade -, o preço da água, do gás e outros serviços são subsidiados e a caderneta garante um mínimo que chega para dez ou 12 dias. "Mas depois você vai à mercearia e lhe cobram por 1 litro de óleo o salário de uma semana, e outro tanto por um frasco de xampu", diz Virginia, formada em biotecnologia. "O que vai fazer um aposentado que ganhe 200 pesos por mês se lhe tirarem a caderneta?", pergunta-se.

Pelo que se disse até agora entre linhas, parece clara qual será a estratégia: subvencionar as pessoas que mais precisem e eliminar o racionamento para as demais. Mas economistas independentes como Óscar Espinosa Chepe põem o dedo na ferida: antes é preciso fazer alguns deveres, como eliminar a dupla moeda e conseguir que o salário recupere o valor real. Para gerar riqueza não basta poupar, é preciso produzir; e é bom lembrar que em Cuba de 60% a 70% dos alimentos são produzidos por agricultores privados, que dispõem de 20% das terras.

Por que não se cooperativizam certos serviços que o Estado é incapaz de oferecer com qualidade? E por que não se dão maiores margens à iniciativa privada?, perguntam-se Chepe e muitos outros. E, como a caderneta desaparecerá, as reformas serão cada vez mais urgentes.
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