sábado, 5 de setembro de 2009

Deus é inocente



“Se o céu existe, Deus tem muito que explicar”. Essa afirmação do Robert De Niro faz eco em meu coração. Também experimento o incômodo de deixar Deus sub judice diante do sofrimento humano. Não me conformo diante das injustiças da vida. O argumento de que todos somos maus e em última análise ninguém mereceria ser poupado do mal não me satisfaz. Sou daqueles que acreditam que coisas ruins acontecem às pessoas boas e acalentam silenciosos uma certa contrariedade quando coisas boas acontecem às pessoas ruins. Acredito, sim, que no mundo existe gente boa e gente ruim. E também acredito que a maioria das pessoas não merece a tragédia que sofre. O casal que perde o filho recém nascido, o adolescente que fica tetraplégico após um displicente mergulho na piscina do clube, a mulher que se vê mutilada pelo câncer, o pai de família que percorre as ruas na indignidade do desemprego e que, por vergonha ou por caráter – as duas coisas, não sabe nem mesmo esmolar, são situações cotidianas que me fazem dormir mal sob o peso do veredicto: Deus tem mesmo muito que explicar.


Mas trago no coração duas outras certezas que me apaziguam a alma, me dão coragem para viver e me animam à solidariedade, ainda que tímida e não poucas vezes insuficiente. A primeira certeza é que o céu existe. A Bíblia fala que existe este século e o porvir, deixando claro que este mundo não é a realidade definitiva. O presente estado das coisas não é a versão final da obra de Deus. Uma coisa é o mundo em que vivemos. Outra, o mundo em que viveremos eternamente. O mundo completamente redimido é o que entendo ser o céu. E a respeito das coisas que acontecem neste mundo e não deveriam acontecer, e que não acontecerão no mundo vindouro, Deus já se explicou. Deus se pronunciou em alto e bom som, há mais de dois mil anos, na cruz do Calvário, onde foi morto Jesus de Nazaré, o Cristo, unigênito de Deus.

Minha outra certeza é que “Deus prova seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. Quem duvida do amor de Deus deve olhar para o Calvário. No dia em que o sofrimento se agiganta e a visão do amor de Deus fica ofuscada pelas lágrimas da dor quase insuportável, a cruz do Calvário é o grito apaixonado de Deus. John Stott disse que na cruz de Cristo, Deus justifica não apenas a humanidade, mas justifica a si mesmo. Na cruz de Cristo, Deus se levanta diante de todos os que o acusam de ser injusto, tirano, indiferente ao sofrimento e à dor humanas, e pronuncia a sentença de inocência sobre si mesmo. A cruz de Cristo é a prova irrefutável do amor de Deus.

Na cruz de Cristo há quatro afirmações que provam o amor e definem a inocência de Deus. Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque se solidariza com as vítimas do mal e da malignidade. Através da morte de Jesus Cristo, seu Filho, Deus afirma “O mal também me feriu”, “O sofrimento chegou também à minha casa”, “As lágrimas pelo padecimento injusto também rolam dos meus olhos”, “Eu e as vítimas do mal e da malignidade somos um”. Verdadeiramente Deus levou sobre si nossas dores.

Aqueles que imaginam que o Deus que “habita em luz inacessível” vive confortavelmente no ar condicionado do céu, enquanto suas criaturas penam contra o diabo na terra do sol, estão absolutamente enganados. Deus tem a cara suja pelas lágrimas que borram seu rosto sofrido com a dor de cada um dos seus filhos por adoção e do seu unigênito. Na cruz de Cristo Deus sofre conosco. Sofre por nós. Sofre em nosso lugar. Deus sabe o que é padecer. Seu Filho é homem de dores. Ovelha muda entre seus sanguinários tosquiadores. Na cruz de Cristo Deus atravessou não apenas o vale da sombra da morte. Atravessou a própria morte.

Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque não é contato não entre os promotores do mal, mas entre os que sofrem os danos da malignidade. Na cruz de Cristo Deus afirma “Não olhem para mim como se eu ordenasse o mal”, “Quando estiver sofrendo, não me conte entre os que lhe causam a dor”, “Na cruz, eu não batia pregos na mão de ninguém. Na cruz, a mão sob os pregos ferozes era a minha”. Quase posso escutar Deus dizendo à mãe que chora a filha atropelada: “Não me tome como quem passou por cima, eu estava em baixo, sendo esmagado sob o peso da borracha negra que me dilacerava a carne e a alma”.

Na cruz de Cristo Deus sofre o mal. Na cruz de Cristo Deus é exposto como vítima da malignidade e não como algoz que causa dor e sofrimento. Na cruz de Cristo os verdadeiros promotores da morte são publicamente desmascarados. Cai o pano. E todo mundo pode ver que Deus não está com mãos sujas de sangue inocente. Na cruz de Cristo Deus é a mão inocente que sangra.

Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque fica evidente que a causa do sofrimento é o pecado da raça humana. Os pecadores estão pensos nas cruzes laterais, mas a cruz do meio sustém um inocente. Na cruz de cristo Deus afirma: “Vocês deflagraram o mal”, “Vocês abriram a caixa de Pandora”, “Vocês soltaram a besta fera”, “Vocês macularam o Paraíso”. O aviso ainda ecoa pelo universo: “No dia em que pecar, certamente morrerás”. A presença da morte é evidência de pecado. E o pecado é responsabilidade da raça humana. A cruz de Cristo somente se explica porque o pecado que a faz necessária. Naquele dia em que Deus provava seu amor para conosco éramos de fato ainda pecadores.

Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque é o que morre, e não o que mata. Na cruz de Cristo pende o justo morrendo a morte dos injustos. O veredicto está lançado: há pecado, pois que haja morte. O salário do pecado é a morte, disse o apóstolo. A justiça do Deus três vezes santo há que ser satisfeita. Deus está diante de seu dilema eterno: matar ou morrer. E sua opção é definitiva, desde antes da criação do mundo: morrer. Na cruz de Cristo Deus faz sua escolha e anuncia sua disposição de amor absoluto: se alguém tem que morrer para que a justiça volte a brilhar no universo maculado pela culpa da raça humana, que viva a raça e que morra eu-Eu.

O primeiro dos dilemas é criar ou não criar. O segundo é criar com liberdade ou sem liberdade. O terceiro é assumir o ônus da liberdade ou deixar este ônus nas mãos da criatura. Deus faz as escolhas que o machucam, que lhe causam dor, que o fazem sofrer, que o diminuem. Simone Weil diz que “Deus e todas as suas criaturas é menos do que Deus sozinho”. Deus escolhe criar. Escolhe criar um ser livre, pois não fosse livre não seria à imagem do Criador. E escolhe arcar com ônus da liberdade que concede à sua criatura. Na cruz de Cristo está Deus, dando ao rebelde o direito de existir. Na cruz de Cristo está Deus, entregando sua vida, voluntariamente, em favor dos pecadores. O mal deflagrado pela raça humana levanta sua sombra sobre o trono de Deus. E Deus se levanta como um Cordeiro que se doa, pois escolhera morrer, em detrimento de matar. Na cruz de Cristo está o Deus que morre para que todos tenham vida, vida completa, abundante vida.

Ed René Kivitz

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Fraqueza de Deus


José Comblin

Boa parte do ateísmo contemporâneo baseia-se na objeção enunciada com muita força no passado por J. P. Sartre e retomada pelos seus discípulos: “Se Deus existe, eu não sou nada”.

Se existe um Deus onipotente, o que ainda sobra para mim? Essa presença ao meu lado do poder absoluto torna irrisórias todas as minhas ações. Diante do infinito, todo o finito torna-se irrelevante. Há muitas maneiras de enunciar o argumento.

A objeção foi formulada desde a Idade Média, mas não conseguiu convencer. A resposta diz que Deus e o homem não se situam no mesmo plano, como duas liberdades em competição.

A resposta não convenceu porque durante séculos os teólogos debateram a questão da predestinação, isto é, da compatibilidade entre a liberdade de Deus todo-poderoso e a liberdade humana. Assim fazendo, situaram no mesmo plano as duas liberdades. Se os teólogos – tomistas, dominicanos e jesuítas – tomaram essa posição durantes séculos, não é estranho que filósofos façam a mesma coisa.

De qualquer maneira, a pessoa sente tantas vezes o conflito entre a sua vontade, o seu desejo e o que diz que é a vontade de Deus, que a reação parece inevitável. Os sartreanos sustentam que, para ser livre, é necessário negar a existência de Deus. Infelizmente para eles, Deus não depende das negações ou das afirmações de Sartre.

A verdadeira resposta está na fraqueza de Deus. O nosso Deus é um Deus “escondido” – tema constante da tradição espiritual cristã.

É um Deus que se manifesta no meio da nuvem, que se faz perceptível, mas não impõe a sua presença.

A liberdade consiste justamente nisto: diante do outro, a pessoa pára, reconhece e aceita que exista. Abre espaço, acolhe. Longe de dominar, escuta e permite que o outro fale primeiro. Assim Deus suspende o poder de Deus.

Nenhuma evidência, nenhuma ameaça, nenhum constrangimento força nem obriga. Deus permite e deixa fazer. Deus respeita o outro na sua alteridade e permite, até mesmo, que o outro se destrua sem intervir. A liberdade de Deus consiste em permitir e ajudar a liberdade do menor dos seres humanos. A liberdade de Deus reprime o poder. Torna-se fraca para que possa manifestar-se a força humana.

O hino de Filipenses 2.6-11, núcleo da cristologia paulina, expressa essa fraqueza de Deus. Pois o aniquilamento de Jesus incluía o aniquilamento do Pai: "Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de escravo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se a foiobediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2.7-8).

Deus escondeu o seu poder até a ponto de as autoridades de Israel não o reconhecerem.

É desta maneira que Deus se dirige às pessoas: sem intimidação, sem poder, na dependência de seres humanos, entregando a própria vida nas mãos de criminosos. Quem dirá que dessa maneira Deus faz violência às pessoas?

Como comentou Levinas, o outro é o desafio da liberdade, a provocação que a desperta. Diante do outro há duas atitudes: examiná-lo para ver em que lê me poderia ser útil ou qual é a ameaça que representa para mim, ou então, perguntar-me o que eu poderia fazer para ajudá-lo.

A liberdade de Deus autolimita-se. Diante da sua criatura, Deus limita sua presença. Deus preferiu antes deixar que crucificassem o seu Filho a intervir para impedir tal justiça. Trata-se de fraqueza voluntária.

É verdade que durante muitos séculos, sobretudo na pregação popular, os pregadores apresentaram uma concepção bem diferente de Deus. Usaram temas e comportamentos da religião popular tradicional: medo diante do trovão, medo da seca e de cataclismos naturais – entendidos como castigos divinos –, medo das doenças recebidas também como castigos e assim por diante.

Era fácil despertar o temor a partir de idéias puramente pagãs ou supersticiosas. Essa pregação de terrorismo religioso podia dar resultados imediatos, levando milhares de pessoas aos sacramentos. A longo prazo, porém, destruíram as bases da credibilidade da Igreja. Hoje a maioria das pessoas deixaram de ter medo do trovão, não sendo mais motivo para temer a Deus, como foi no passado. Naquele tempo achou-se válido o método do temor, todavia hoje recolhe-se os frutos dessa pastoral.

Pensou-se que os povos precisassem temer um Deus forte – e desprezariam um Deus fraco. Tais erros se pagam cedo ou tarde. Estamos pagando hoje esse preço.

Deus torna-se fraco porque ama. Quem mais ama é sempre mais fraco. Não será essa a grande característica das mulheres? Quase sempre amam mais, e, por isso, sofrem mais. Porém, nessa fraqueza consentida não estará a maior liberdade?

Nessa fraqueza a pessoa vence todo o egoísmo, todo o desejo de prevalecer, toda a preguiça de aceitar maiores desafios. Exige mais de si própria, vai mais longe, além das suas forças. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (João 15.13). Aí está também a expressão suprema da liberdade.

A fraqueza de Deus vai até a ponto de se tornar suplicante. O versículo predileto do saudoso teólogo latino-americano Juan Luís Segundo diz; “Eis que estou batendo na porta: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo (Apocalipse 3.20).

Deus bate na porta e aguarda. Se não é atendido, afasta-se e continua o caminho. Somente entra se é convidado. Depende do convite da pessoa. Deus torna-se pedinte, suplicante.

Dica de Lucas Lujan

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A falta que fazem os profetas




Ricardo Gondim Rodrigues

Confesso que não gostava de ler os profetas da Bíblia. Sempre os considerei rígidos demais, exageradamente metafóricos e confusos. Em meus primeiros anos como cristão, não sabia situá-los historicamente. Lê-los, me entediava.

Minha primeira simpatia pelos profetas veio quando fui desafiado ver o coração paterno de Deus nas páginas do Antigo Testamento. Reli a Bíblia toda. Recordo-me do impacto quando percebi, pela primeira vez, que a saga bíblica resume-se em mostrar um pai em busca de seus filhos. Entendi a profundidade da interpretação que os antigos rabinos de Israel davam ao dilúvio. Depois de insistir cento e vinte anos com os seus filhos, Deus viu a dureza de seus corações, chorou por quarenta dias e quarenta noites e suas lágrimas cobriram a terra. Aprendi sobre a paciência e longanimidade divina em tolerar momentos históricos perversos. Consegui, finalmente, estudar os profetas sem considerá-los grosseiros.

Mas, apaixonei-me mesmo pelos escritos dos profetas quando li Abraham J. Heschel, rabino que tornou-se unanimidade por sua abordagem sobre o coração amoroso de Deus em meio a um judaísmo inclemente. Seu livro, The Prophets é um libelo da literatura judaica.

Heschel introduz-nos aos profetas mostrando que eles não foram meros microfones que amplificavam e decodificavam o falar de Deus, mas gente com uma cultura, temperamento e individualidade. A tarefa do profeta não se resumia em transmitir o ponto de vista divino. Ele era o referencial do povo. O profeta em Israel não vaticinava apenas. Ele era também poeta, pregador, patriota, crítico social. Iniciavam suas profecias com juízo mas sempre concluíam com esperança e redenção.

O profeta não repetia jargões, não perpetuava o que já fora dito, mas pensava fora dos paradigmas. Não era convencional. A mágica de suas palavras vinha de sua intuição, de seu inconformismo e da largura de seus anseios. Inúmeras vezes a linguagem do profeta foi hiperbólica. O exagero era uma maneira de mostrar sua angústia, seu desespero de não se acovardar diante do iminente fracasso nacional.

Meu apetite em ler os profetas fez nascer em mim o desejo de vê-los entre nós. Entendo que o ministério profético com autoridade canônica foi até João Batista (Mt 11.13). Sei também que o dom carismático da profecia (I Co 12) resume-se à função tríplice que Paulo nos deu em I Coríntios 14. 3: edificar, exortar e consolar. Creio que o ministério profético que desejo não seja um título ou cargo. Sinto que a igreja evangélica brasileira, tem bons evangelistas, excelentes estrategistas eclesiásticos, já demonstramos alguma maturidade teológica, mas ainda somos carentes de líderes com a verve profética.
O movimento evangélico brasileiro necessita de homens como Martin Luther King Jr um dos mais autênticos profetas do século XX. Sua vida, tantos anos depois de sua morte, continua impressionando pela coerência, bravura e profundo compromisso com os valores do reino de Deus.

Li sua autobiografia e confesso que senti o meu coração desafiado por esse homem que viveu, falou e lutou como um profeta para os americanos mas cuja vida inspira todas as nações.

Ele nasceu em 15 de janeiro de 1929 em Atlanta, Geórgia, foi ordenado como pastor batista em 25 de janeiro de 1948. Decidiu que jamais se curvaria às leis segregacionais do sul dos Estados Unidos quando assumiu a igreja que seu pai pastoreava, a Dexter Avenue Church em Montgomery, Alabama.

Nesta cidade aconteceu o grande boicote às companhias de ônibus. Rosa Parks, uma costureira de quarenta e dois anos, recusou-se ceder seu lugar dentro de um ônibus a um homem mais jovem que ela e foi presa. Um movimento se organizou na cidade e King Jr foi eleito por unanimidade o seu presidente. Depois de várias vezes preso, de sofrer atentados como uma bomba que foi jogada no alpendre de sua casa em 27 de janeiro de 1957, ele passou um mês na Índia, aprendendo os princípios de não-violência usados por Ghandi, na resistência ao imperialismo Britânico. Aplicou-os nos Estados Unidos e conseguiu vencer a tirania e o ódio com amor.

Em 28 de agosto de 1963, King Jr, subiu os degraus do Memorial de Lincoln para fazer o seu mais famoso discurso, I Have a Dream. Sua voz ecoava por todo o mundo enquanto a paixão de um profeta se derramou por seu povo. Era o coração de Deus que pedia que os homens não fossem julgados pela cor de sua pele, mas pelos conteúdos do caráter. Sua vida impressionou tanto que em 10 de dezembro de 1964, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Lendo-o, juntei alguns de seus pensamentos, reproduzo-os aqui para que notemos a falta que os profetas fazem.

Homens e mulheres vivendo em comunidade.

“Quando o indivíduo não é mais um verdadeiro participante e não percebe sua responsabilidade para com sua sociedade, os conteúdos da democracia se esvaziam. Quando a cultura se degrada e a vulgaridade é entronizada; quando o sistema social não constrói segurança, mas induz o medo, inexoravelmente o indivíduo é impelido a se isolar completamente desta sociedade sem alma. Este é o processo que produz alienação – talvez a mais insidiosa característica da sociedade contemporânea.”

A grandeza dos ideais:

“A medida de um homem não se ele afirma em tempos de conforto e conveniência, mas repousa nos seus posicionamentos em tempos de desafios e controvérsias.”.

“A coragem encara o medo e, portanto, dele se assenhora. A covardia reprime o medo, e portanto, dele se torna escrava. Homens corajosos nunca perdem o elã pela vida mesmo que a situação que vivam seja sem brilho; covardemente, homens esmagados pelas incertezas da vida perdem o desejo de viver. Devemos constantemente erguer diques de coragem para deter as inundações do medo.”

O próximo:

“A maioria daqueles que vivem na América rica ignora os que vivem na América pobre; ao fazerem isso, os ricos americanos terão que eventualmente enfrentar a pergunta que Eichmann preferiu ignorar: Qual a minha responsabilidade pelo bem estar do meu próximo? Ignorar o mal é tornar-se cúmplice dele. “

Deus e religião


“ A ciência investiga; a religião interpreta. A ciência fornece o conhecimento que dá poder; a religião fornece a sabedoria que dá controle. A ciência lida com os fatos, a religião lida primordialmente com os valores. As duas não são rivais. Elas se complementam. A ciência ajuda a religião a não cair no vale paralisante da irracionalidade e do obscurantismo. A religião previne a ciência de despencar no pântano do materialismo obsoleto e do niilismo moral.”

Em 4 de abril de 1968 uma bala assassina silenciou esse profeta de Deus. Contudo, sua vida continua inspirando milhões de homens e mulheres. Martin Luther King, Jr, não pode ser esquecido da geração evangélica deste novo milênio.

Que ele nos inspire a desejar mais profetas na igreja. Precisamos de homens e mulheres que não nos deixem acostumados com a ordem natural das coisas. Gente, cuja voz troveje ira contra a iniqüidade e a injustiça, mas nunca falem sem a ternura de Deus. Que o mote de Luther King Jr - I have a dream - ecoe entre as paredes das igrejas, para que nunca deixemos de sonhar em tempos de imediatismos.

Jesus mandou que orássemos pedindo mais obreiros para a sua seara. Minha prece é que ele mande mais profetas.

Soli Deo Gloria.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

E as crianças?!

Fiz um paralelo com links nas palavras da Oração de Davi, da Igreja Renascer, onde pelo jeito, a palavra de Jesus sobre as crianças já serem do Reino dos Céus, não garantiu o direito de serem privilegiados como o povo apostólico.

Alguém me explique onde está a vitória, restauração e conquista no choro desta criança?!? se não tem explicação, faça me um favor...


ORAÇÃO DE DAVI

Neste Ano Apostólico de Davi, eu declaro: Será o ano da minha vida, de vitória, restauração, conquista, ano de ser ungido rei.

Senhor Jesus Cristo, hoje eu declaro, que verei com os meus olhos os inimigos derrotados, e todos os gigantes levantados por satanás para afrontar o Senhor e destruir a minha vida e a minha família, vão cair por terra, agora!! Vão cair por terra, em nome de Jesus.

Eu profetizo que este ano eu terei restauração, restituição, prosperidade. Vou alargar as estacas da minha tenda, e que este ano eu e a minha família vamos restituir a alegria, a Arca e vamos conquistar Jerusalém, em nome de Jesus.

A partir de agora eu tenho o óleo do ungido, eu sou aquele que se vale da Arca do Senhor. Viverei o melhor ano da história da minha vida, até hoje, em Nome de Jesus!

Toda malignidade, toda mentira do inferno está quebrada.

O meu corpo será saudável, todas as bênçãos espirituais encherão a minha casa, em nome de Jesus.

Eu levanto as minhas mãos, declaro e profetizo; aonde eu for Deus me dará vitórias! Eu conquistarei os lugares altos.

Este ano eu conquistarei Jerusalém pelo Poder.

A minha boca se encherá de risos, e haverá dias de festa na minha vida.

A restituição, que estava proibida, estará presente 365 dias na minha vida, na minha casa e na minha família.

Aonde eu for Deus me dará vitória.

Ano de Davi, ano de ser ungido rei do Senhor, ano de colocar todos os gigantes debaixo dos meus pés.

Em nome de Jesus.

Em nome de Jesus, Amém!!!.

Onde encontrei esta ... link.

Fora da Zona de Conforto! [02/09/09]

MSF atende vítimas de diarreia na Etiópia
Desde o começo de julho, MSF também responde a uma epidemia de casos de diarréia líquida na região de Afar, no nordeste da Etiópia. Em dois meses, a equipe, em colaboração com as autoridades sanitárias, tratou 570 pacientes em dois centros de tratamento.

Somália: conflito e seca são os inimigos dos civis
Milhares de pessoas continuam fugindo das hostilidades em Mogadíscio. Elas encontram refúgio nas casas de parentes ou de famílias que as acolhem ou buscam abrigo em campos improvisados. Junto com o Crescente Vermelho somali, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) completou na semana passada a distribuição de artigos como cobertores, utensílios domésticos, garrafas de água, colchonetes e roupas para 75 mil deslocados internos de Mogadíscio no sul e no centro da Somália.

Estudantes lusos em Maputo trocam férias por voluntariado
De todas, "uma das mais edificantes foi no Orfanato 1º de Maio de Maputo, onde algumas crianças que esperam a sorte de um dia terem uma família de adoção puderam aprender alguma coisa", revelou Mariana Dias.

OCDE diz que investimento do governo não garante bem-estar de crianças
Saúde, proteção contra a pobreza e igualdade de direitos são requisitos apontados por especialistas para o bem-estar das crianças. Pesquisa mostra como países industrializados lidam com essas necessidades.

Forte terremoto mata ao menos 32 e destrói casas na Indonésia
Um terremoto potente atingiu nesta quarta-feira a ilha de Java, no arquipélago da Indonésia, matando pelo menos 32 pessoas e danificando 1.300 casas, informou o governo.

Banco Mundial apoia ensino de 600 mil crianças no Haiti
Projeto irá auxiliar na melhoria das condições das escolas haitianas e dar apoio aos professores daquele país; Desde 2005, Banco Mundial já aprovou assistência humanitária no valor de US$ 300 milhões ao Haiti.

UE apresenta programa de novo sistema de asilo a refugiados
A Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira, em Bruxelas, um programa de reinstalação de refugiados para definir prioridades anuais comuns aos 27 Estados-membros e melhorar a utilização da assistência financeira a que os países têm direito.

MSF comemora não concessão de patentes na Índia para tenofovir e darunavir
Medicamentos são considerados chaves para o controle do HIV/AIDS e têm acesso restrito devido aos altos preços

Maranhenses viviam como escravos em fazenda de soja
Os alojamentos eram barracos na mata feitos de lenha sob chão batido, cobertos com lona preta. As paredes também eram de lona. Não havia instalações sanitárias ou elétricas. A água utilizada vinha de uma represa

PT - perdeu a opção pelos pobres

CHEGOU-ME , via internet, este artigo que publiquei faz muitos anos, a propósito do momento político que o país vivia. Eu havia me esquecido dele. Espantei-me. Eu poderia tê-lo escrito hoje. As máscaras, os nomes, os eventos são outros. Mas o "script" é o mesmo.
Será que o escrevi num momento de lucidez profética?

"Perdi as esperanças. Escrever, que sempre me foi um motivo de alegria, agora é coisa que faço me arrastando. Penso que o melhor seria parar de escrever. Vinicius se referia à sua "inútil poesia". Poesia é inútil.

Os poetas são fracos. As fórmulas dos demagogos são mais palatáveis. Escrevo inutilmente.
Minhas tristezas são duas. Hoje escreverei inutilmente sobre a primeira: minha desilusão com o PT.

O nascimento do PT anunciou a possibilidade da esperança: fazer política de um outro jeito, combinando ética, inteligência e a opção preferencial pelos pobres.

O PT fazia lembrar os profetas do Antigo Testamento que denunciavam os ricos que exploravam os trabalhadores sem jamais fazer alianças espúrias. Aí o rosto do profeta começou a apresentar rachaduras...

Era a ocasião do plebiscito para decidir entre presidencialismo, parlamentarismo e monarquia. O Lula e o Genoino eram a favor do parlamentarismo. As bases do PT foram consultadas.

E elas votaram pelo presidencialismo. O Genoino engoliu o sapo e se calou. Fez silêncio obsequioso, como diz o cardeal Ratzinger. Mas o Lula não demonstrou desgosto. Engoliu o sapo que as bases lhes impunham como se fosse uma rã frita com arroz e se tornou loquaz na defesa do presidencialismo...

Fiquei estupefato, curioso sobre os processos mentais que operavam na sua cabeça para que se esquecesse com tanta facilidade das convicções de véspera.

Como psicanalista, eu ignorava qualquer caso de amnésia parecido.

Intrigou-me clinicamente a forma como funcionava a cabeça do profeta, tendo-se em conta que não há caso na literatura religiosa de profeta que amoldasse suas convicções em obediência às bases...

E então me perguntei: "O que é mais terrível? Ser silenciado pela violência de um ditador inimigo ou ser silenciado por ordem dos companheiros?" Ah! Também os companheiros podem ser repressores...

A unidade do partido exige que todos brinquem de "boca de forno': todos têm de pensar igual. O diferente é expelido. Como na igreja.

Compreendi que eu nunca poderia me filiar ao PT porque, se há uma coisa que prezo, é a liberdade para dizer o que penso, ainda que eu seja o único a dizê-la.

O tempo passou. Veio o escândalo do "caixa dois" do PT.

O profeta, que disse ignorar tudo, deveria ter falado palavras de fogo contra os corruptos. Ao contrário, num fórum, na França, não só admitiu o fato como também o justificou: isso é normal no Brasil...

Agora, o inimaginável: uma fotografia do presidente Lula cumprimentando sorridente o possível "companheiro" Orestes Quércia.

Anunciava-se ali o início de um possível noivado... Para aumentar o meu espanto hoje, quando escrevo, vi uma foto do presidente Lula alegre e sorridente apertando a mão do "companheiro" Newton Cardoso, famoso ex-governador de Minas. O profeta brinda com os falsos profetas... De fato, só pode ser um caso de amnésia...

Os meus queridos amigos petistas que me perdoem. Meu estômago tem limites. Há um ditado que diz: "Pássaros com penas iguais voam juntos...". Concluo logicamente: "Se estão voando juntos, é porque suas penas são iguais".

Vocês não têm saudades do PT. Eu tenho."

Rubem Alves, na Folha de S.Paulo.

Poderiamos substituir facilmente o nome PT pelo nome Igreja Evangélica Brasileira. E substituir alguns nomes de políticos por alguns pastores e apóstolos que vivem aparecendo em páginas policiais.

Os Benefícios da Guerra

Ricardo Gondim Rodrigues

A guerra não é totalmente ruim. Ela contribui em algumas áreas. Depois da II Guerra Mundial, por exemplo, tínhamos a penicilina, a propulsão a jato e outros benefícios científicos. A guerra também ajuda em nossos conhecimentos de geografia. Agora sabemos onde ficam as cidades de Basra, Kirkuk e Umm Qasar. Essa recente guerra tem me ajudado muito porque me fez compreender algumas dimensões da vida que me passavam desapercebidas.

Depois de tantas mortes eu compreendo.

Porque Albert Camus escreveu sobre a alienação humana e, indignado com a banalização da vida, mostrou-se tão niilista; porque Sartre via o próximo como a causa de sua náusea. Agora entendo o suicídio de Ernest Hemingway. Ele identificou nas touradas espanholas o sinistro desejo humano de fazer da morte um espetáculo, de reduzir o adversário à humilhação máxima e de tornar o ritual de execução tão previsível que a platéia sente o gosto da morte antes que chegue. Os três testemunharam as atrocidades da guerra de Franco, contemplaram as trincheiras transbordando de sangue de uma guerra mundial. Perceberam que somos os lobos de nós mesmos.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque Pablo Picasso pintou a sua Guernica. Aqueles corpos torcidos, desfigurados e feios não faziam tanto sentido para mim. Agora entendo porque faziam sentido para ele que respirou o ar mórbido de sua Espanha ferida. Picasso contemplou o inferno com um olhar de artista e o retratou com uma dor humana.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque os jovens da década de sessenta rejeitaram os valores ocidentais. Sei agora porque os filhos daquela primeira metade do século XX não toleravam o cristianismo dos seus pais. Aquele cristianismo que não conseguia se concretizar em doçura e se contentava com rituais vazios. A fé com uma visão colonialista e hipócrita. Eles lembravam que duas bombas atômicas dizimaram centenas de milhares de civis. Perceberam que o discurso miúdo de amor e compaixão não se viabilizava no macro. Esse mundo não lhes servia. Desejavam paz e amor.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque é preciso manter uma atitude crítica quanto à imprensa e saber discernir a manipulação da máquina de propaganda. Agora entendo como o povo alemão foi seduzido e chegou a acreditar que os judeus eram vermes que necessitavam ser riscados da humanidade. Entendo porque a grande maioria dos cristãos alemães se encantou com a eficiência administrativa, econômica e militar do nazismo e se calou quando deveria exercer o seu mandato profético.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque Elie Wiesel afirmou que viu Deus no rosto de um menino enforcado pelos nazistas. As atrocidades que ele testemunhou não se encaixavam com a mensagem que herdara de seus antepassados judeus. Wiesel não aceitava que um Deus onipotente contemplasse passivamente a morte de milhões de inocentes. Agora entendo porque tantos judeus abandonaram a sua fé.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque Jimmy Carter governou com tanta dificuldade em Washington. Agora entendo porque ele só floresceu em sua humanidade quando se tornou ex-presidente. A máquina e os interesses militaristas são desumanos demais para quem deseja viver o espírito da bem-aventurança: Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque Francis Schaeffer propunha que a igreja deveria ser co-beligerante e fazer parcerias com outros segmentos que defendessem pontualmente os valores do Reino de Deus. Agora compreendo que é possível concordar até com Paulo Coelho, quando ironicamente agradece ao presidente George W. Bush pelo que faz pela humanidade: “Agora que os tambores da guerra parecem soar de maneira irreversível, quero fazer minhas as palavras de um antigo rei europeu a um invasor: ‘Que sua manhã seja linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde eu o derrotarei’. Obrigado por permitir a todos nós, um exército de anônimos que passeiam pelas ruas tentando parar um processo já em marcha, tomarmos conhecimento do que é a sensação de impotência, aprendermos a lidar com ela e a transformá-la. Portanto, aproveite sua manhã e o que ela ainda pode trazer de glória. Obrigado porque não nos escutastes e não nos levaste a sério. Pois saiba que nós o escutamos e não esqueceremos suas palavras. Obrigado, grande líder George W. Bush”.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque John Stott propunha que a igreja fosse uma contra-cultura. Não podemos legitimar processos políticos contaminados pelo pecado. A igreja não pode se posicionar ao lado da espada e sim das enxadas; não justifica tanques, sim os arados.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque as pedras clamam quando o povo de Deus se cala. Agora entendo o peso dos argumentos de Maurício Pessoa no “Estado de Minas Gerais” em 24 de março de 2003: “Particularmente, não compreendo porque é mais glorioso bombardear de projéteis uma cidade assediada do que assassinar alguém a machadadas. A guerra é aquele monstro que se sustenta do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as cidades, as crianças e velhos à destruição sem piedade. É a guerra aquela calamidade composta por todas as calamidades. A guerra não é um instinto mas um invento. Os animais não a conhecem e é pura instituição humana como a ciência ou a administração. Diante dela o pacifismo está perdido e se transforma em pura beatice. Tal como os assassinatos, as guerras invariavelmente não passam de ataques de loucura. Mas, afinal, o que é a guerra? A guerra consiste em fazer o impossível para que imensos pedaços de ferro penetrem na carne viva em nome da honra e glória”.

Depois de tantas mortes eu compreendo

A grandeza de Mahatma Ghandi que pregava a não-violência mesmo quando o império britânico tripudiava a miséria indiana; a nobreza de Martin Luther King Junior que não se deixou azedar pelo sistema e pela cultura que baniam os negros do convívio e da riqueza americana; a envergadura de Nelson Mandela que não insuflou ódios e sim a reconciliação em seu país adoecido por tantos anos de preconceito racial. Agora entendo porque a Bíblia afirma que “são formosos os pés daqueles que anunciam a paz”.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque a fábula do lobo e do cordeiro nunca se desatualizou. Quando o lobo determina matar o cordeiro, esgotam-se os argumentos. Agora entendo porque Jesus é descrito como o Cordeiro de Deus. O Príncipe da paz não pactua com a lógica dos lobos. Quando os seus discípulos sugeriram que fizesse cair fogo do céu sobre os Samaritanos, ele lhes repreendeu, pois aquele espírito não vinha de Deus.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque os impérios ruem e como as potências se desmoronam. Agora sei que os exércitos não garantem a perpetuidade do poder. Mesmo com toda a sua força, o reino Macedônio não subsistiu ao poder de Roma, e os bárbaros, considerados a mais reles de todas as raças, acabaram conquistando Roma. Reconheço a sabedoria do provérbio bíblico: a soberba precede a queda e o espírito altivo vem antes da destruição.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque as mil razões para um povo atacar outro ainda são insuficientes para justificar o pânico de um menino que não consegue dormir com o barulho avassalador de bombas. Agora entendo que a promessa de uma paz futura não justifica a morte daquele idoso que não conseguiu arrastar os pés para fugir do calor do míssil que explodiu a cem metros de sua casa.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque Deus se arrependeu de haver prometido a destruição de Nínive. Ele ama as pessoas e ali havia 120 mil homens que não sabiam discernir a mão esquerda da mão direita. Agora eu entendo com mais profundidade porque ele deu o seu Filho com a missão de salvar e não de condenar.

Depois de tantas mortes eu compreendo

Porque devemos orar por paz.


Soli Deo Gloria.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fora da Zona de Conforto! [01/09/09]

Vítimas são mantidas por mais de 12 anos sob escravidão
Os trabalhadores estavam alojados na varanda de uma casa. Alguns dormiam em pedaços de espumas velhas e outros em redes instaladas na própria varanda. Quatro dos empregados dormiam debaixo de uma mangueira com duas mulheres e uma criança de 4 anos de idade.

Milhares são evacuados no México à espera do furacão Jimena
Calcula-se que cerca de 20 mil pessoas se encontram em risco devido à tempestade, que já se faz sentir na região.

Mil prisioneiros podem ser executados no Iraque, segundo a Anistia
Cerca de mil prisioneiros condenados à morte poderão ser executados no Iraque, sendo que 150 já esgotaram todos os recursos de apelação, segundo um relatório publicado nesta terça-feira pela organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional.

Anistia Internacional pede a Obama suspensão do embargo contra Cuba
Em um relatório intitulado "O embargo americano contra Cuba: seu impacto nos direitos econômicos e sociais", a organização pede ao presidente dos Estados Unidos que dê "o primeiro passo" neste sentido, não renovando as sanções que pesam contra a ilha.

Reeleito, diretor da OMS na África traça plano contra malária
Na África, a malária ainda é uma das principais causas de morte em adultos e crianças. Entre as principais medidas de combate a malária estão o reforço dos programas de controle da doença, dos sistemas de aquisição e gestão do aprovisionamento para a qualidade do fornecimento de medicamentos.

ONU condena massacre de indígenas na Colômbia
Homens não identificados atacaram uma casa na reserva da tribo Awá, no dia 25 de agosto, matando 12 pessoas e ferindo outras três; relator da ONU fez apelo para que autoridades colombianas aumentem a proteção dos direitos dos grupos indígenas.

16 somalis morrem na travessia do Golfo de Áden
Incidentes separados envolveram duas embarcações neste final de semana; nas duas ocasiões traficantes forçaram passageiros a abandonar os barcos e nadar já perto da costa do Iêmen.

Vida simples - Campanha por Darfur

clique na imagem para ampliar

A designer Nadia Plesner começou uma campanha chamada Vida Simples para sensibilizar sobre o genocídio em Darfur e para levantar dinheiro para ajudar a organização Divest for Darfur. É por isso que Nadia optou por misturar a cruel realidade com elementos do showbiz. O resultado foi o cartaz a cima, também disponível em camisetas.

Em fevereiro deste ano, Nadia recebeu uma carta da Louis Vuitton - Designer de Moda (francês), sede em Paris, pedindo para pôr fim a campanha imediatamente, pois eles acreditam que um dos seus produtos está sendo retratado na obra de arte:

"Embora nós aplaudimos seus esforços para conscientizar e levantar fundos para ajudar Darfur, uma causa mais digna, não podemos deixar de notar que o desenho do Simple Living inclui a reprodução de uma bolsa que viola à propriedade intelectual da Louis Vuitton, em especial a Luís Vuitton Monogram Vernis marca para qual é similar.".
"Como uma artista que é, esperamos que você reconheça a necessidade de respeitar os direitos de propriedade intelectual de outros artistas da Louis Vuitton, que incluem as marcas Louis Vuitton Monogram Canvas".

Esta é parte da resposta de Nadia Plesner:

"Entretanto, devo informá-lo, que a bolsa do meu desenho é inspirado - e refere-se a bolsas em geral - e não uma bolsa Louis Vuitton.
Se você der uma olhada, você vai notar também, que o padrão no meu desenho não é o padrão que é utilizada no desenho de uma bolsa Loius Vuitton.
O nome de Louis Vuitton é de modo algum mencionado ou referido, nem no meu desenho, nem na campanha como tal".

Acho que ídeia do cartaz é interessante. Ela mostra o ridículo fosso entre ricos e pobres, de primeiro mundo e do terceiro mundo. É inteligente da parte da Louis Vuitton fazer essa trabalheira? Existe propriedade intelectual lesados por esta campanha? Eu não penso assim.

Fonte: osocio.org

Somos mais sofisticados

Paulo Brabo - Bacia das Almas

A leitura de Hitler teve ajuda me deixou inquieto, e ver o texto arquivado aqui na Bacia deixou-me ainda mais. Embora Edwin Black tenha publicado alguns dos livros-denúncia mais obsessivamente bem documentados dos últimos anos, quando são expostas assim a seco, despidas de qualquer bibliografia, suas conclusões soam excêntricas e improváveis ao ponto do surreal. Com os erros dos nazistas, aprendemos a ocultar melhor os nossos rastros.Como acreditar que o nazismo existiu e persistiu por mais de uma década na forma como ele o descreve? Como crer que eram seres humanos os envolvidos naquela transação?

Pesquisas como as de Black fornecem indicações de que não é à toa que associamos, inconscientemente, as atrocidades do nazismo aos pecados desumanizadores da indústria. Era ainda 1943 e o desenho animado Der Fuehrer’s Face, dos estúdios Disney, já mostrava o Pato Donald vivendo na Alemanha nazista um pesadelo proletário debaixo de roldanas, esteiras, engrenagens e metas de produção.

Porém essas eram imagens, iconografias – talvez por demais inclementes, tendo em vista que os norte-americanos viviam naquela época debaixo de limites semelhantes e semelhantes promessas. Foram necessárias multidões áridas de documentos, como os levantados por Edwin Black, para mostrar sem equívoco o fundamento e as estranhas irmandades por trás da representação.

Hoje podemos concluir, com horrenda sobriedade, que o nazismo era uma indústria de morte e exclusão não porque era regido por loucos sem rédea, mas porque era regido literalmente pelo espírito do capitalismo.

Henry Ford, o americano obcecado com os méritos da performance, engendrou a moderna linha de montagem e dessa forma gerou tudo no nosso mundo: de tuíteres a iPhones, de ilustradores que vendem seu trabalho pela internet a fábricas chinesas que mais parecem campos de concentração. Adolf Hitler, o austríaco obcecado com os méritos da performance, tinha um retrato de Henry Ford em seu escritório de Munique, e dois anos antos de tornar-se chanceler revelou numa entrevista ter Henry Ford “como sua inspiração”.

Essa mostrou ser uma inspiração muito literal. Os campos de extermínio assemelham-se a fábricas de matar porque foram projetados tomando como modelo fábricas de verdade. Tudo nos campos nazistas foi inspirado nas luzes do recém-canonizado capitalismo industrial: as metas, a obsessão com a produtividade e com a limpeza, as chaminés, a sincronia na entrada de insumos, a eliminação eficiente de dejetos.

Porém Henry Ford e Adolf Hitler tinham em comum mais do que uma simpatia pela eficiência e um interesse nos prêmios da mecanização. Ambos compartilhavam de uma convicção mais essencial e mais próxima à raiz dos seus discursos: a crença de que uma raça superior, que fosse capaz de demostrar sua superioridade pela excelência de seu desempenho, merecia privilégios muito evidentes que todos os inferiores deveriam respeitar. Este, que prega o mérito auto-evidente do desempenho superior, não é apenas o espírito do nazismo, como demonstrado pela História, mas o espírito do capitalismo, como ocultado por ela.

Desprezamos Hitler porque sabemos que a superioridade racial que Hitler queria ver premiada não tinha fundamento científico. Sabemos hoje que ser ariano é não ser melhor do que ninguém. A superioridade pregada por Hitler era falsa, portanto as atrocidades realizadas em seu nome declaramos ilegítimas.

Aceitamos de bom grado o capitalismo porque sabemos que a superioridade que ele quer ver premiada tem fundamento no bom senso e na igualdade de oportunidades; ser trabalhador é, evidentemente, ser melhor de quem não quer trabalhar ou não foi capaz de mostrar o seu valor. Acreditamos que a superioridade pregada pelo capitalismo é verdadeira, por isso são legítimas as atrocidades realizadas em seu nome. Quem demonstra sua superioridade pela excelência do seu desempenho merece privilégios muito evidentes que todos os inferiores devem respeitar – e crendo nisso nos cremos muito diferentes de Hitler e tantas vezes mais esclarecidos do que ele, embora fosse essencialmente nisso que ele acreditava e sendo isso o que o movia.

A questão é que depois dos erros muito evidentes e públicos do nazismo aprendemos a ocultar melhor os nossos rastros. Onde os nazistas deixaram pontas soltas, somos mais sofisticados. Ninguém deverá ser capaz de rastrear nossos cadáveres, e nossos campos de concentração produzem oportunidades ao invés de montes de cinza.

A quem ousar acusar o capitalismo de alguma injustiça estaremos prontos a lembrar que o socialismo (como se capitalismo selvagem e socialismo cego fossem as únicas opções no mercado de destinos econômicos) gerou injustiças maiores. Aos que ousarem denunciar as condições desumanas de pobres e subempregados, lembraremos que as últimas décadas testemunharam um sensível aumento nos padrões de vida do mundo inteiro, e que mesmo os mais miseráveis estão sendo de alguma forma beneficiados.

O que permanecemos ocultando habilmente, com uma habilidade que os comparsas de Hitler saberiam admirar, é que a raça superior continua a desfrutar de seus merecidos privilégios. O rótulo é diverso, mas permanecemos fundamentados na mesma ideologia e instruídos na mesma tarefa de exclusão e morte.

20% da população do planeta consomem 80% dos recursos dele.Poderíamos de comum acordo decidir ignorar, por exemplo, que 2% da população mundial retém metade da riqueza do mundo. Esqueçamos isso. Sou o primeiro a admitir que “riqueza” é um conceito muito fluido, e que o valor do dinheiro é puramente convencional. Em termos estritos, dinheiro não vale nada.

Muito mais grave, mais irreversível e criminosa é a realidade subjacente, o fato de que 20% da população do planeta consomem 80% dos recursos disponibilizados por ele – coisas como água potável, ar respirável, madeira nativa, minério, metais, petróleo e biodiversidade.

Os premiados pela performance – nós, os membros da raça superior – sentimo-nos autorizados para não apenas confiscar, mas consumir numa transação sem volta os recursos que pertencem a todos.

Este é o nosso crime, e com o tempo os tribunais da sanidade saberão nos encontrar.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Albertine - Brooke Fraser

Fora da Zona de Conforto! [31/08/09]

ONU pede ação contra trabalho forçado de indígenas
Relatório de especialistas indica que indígenas na Bolívia e Paraguai são vítimas de violência e ameaças; Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Assuntos Indígenas apelou aos países para que tomem medidas urgentes de proteção aos Direitos Humanos destes grupos.

ONU alerta sobre tragédia de desaparecimentos forçados
Grupo de Trabalho da ONU constatou mais de 50 mil casos de desaparecimentos forçados desde a sua criação em 1980; mulheres raptadas, em muitos casos, se tornam vulneráveis à exploração sexual e outras formas de violência.

Novartis ataca novamente a Lei de Patentes da Índia
A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está profundamente preocupada com o fato de que a empresa farmacêutica multinacional Novartis entrou novamente com uma ação na Suprema Corte da Índia. O caso é o mais recente de uma série de procedimentos legais iniciada pela Novartis, contestando as salvaguardas de proteção da saúde pública previstas na lei de patentes indiana.

Imigrantes ilegais somam uma Argentina
o número estimado de imigrantes irregulares na Europa, nos Estados Unidos e na Índia, estava entre 35 e 38 milhões de pessoas, segundo relatório da Comissão Global para Migração Internacional. É como se as populações atuais inteiras de Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, ou toda a Argentina, resolvessem viver clandestinamente na Europa, nos EUA e na Índia. Estes migrantes fazem parte do que o relatório chama de grupo dos “não-cidadãos”. São pessoas que vivem de forma precária em países nos quais não têm acesso a direitos como saúde, educação e segurança pública

domingo, 30 de agosto de 2009

I have a dream

Muitos conhecem a célebre frase "I have a dream" de Martin Luther King. Mas você já ouviu o discurso completo? É maravilhoso. Veja o vídeo.

Humanidade. Possível?

Por quê eu desisti de servir os pobres

De um texto absolutamente devastador do insubordinado Claudio Oliver. Posso ter de processá-lo por massacrar sem dó as ilusões que venho alimentando tão ternamente há anos. Paulo Brabo

Claudio Oliver

Quem me conhece e sabe de toda minha trajetória de vida deve achar no mínimo curioso o título acima. Minha família tem como referência central as figuras de meu avô e minha avó paternos que foram fundadores do Exército da Salvação no Brasil. Vidas dedicadas a mendigos, prostitutas, e de maneira especial aos orfãos, enfermos e renegados. Minha paixão adolescente se viu conquistada por lutas contra a pobreza, a fome e a injustiça e desde quando me casei, há 25 anos atrás, estive envolvido com servir em favelas, a estudantes pobres, populações carentes, mendigos, bairros periféricos, desempregados e pessoas sem renda. Tenho no currículo o fato de ter ajudado a gerar renda, facilitar a organização de famílias, feito pontes entre ricos e pobres, alimentado pessoas e dado a oportunidade de que outros descobrissem profissões, estudassem e transformassem seu futuro. “Empoderar” as pessoas, foi um dia um dos pontos chave de minha prática de não criar dependência. Depois de tudo isso, sou chamado a questionar toda a vida e a desistir de servir aos pobres.

Ao longo da vida guardo o hábito de sempre perguntar se o que estou fazendo tem sentido, se diante de meu Senhor e Deus estou com meu coração alinhado à Sua vontade, se não estou errando o alvo. Sigo com disciplina a regra dos três “por quês”, que pergunta a cada resposta dada o tipo de pergunta que só as crianças sabem fazer e que me auxilia a gerar um vetor de mudança permanente, de auto-crítica e de realinhamentos pessoais. Assim, a cada etapa, ao fazer cada coisa pergunto: Por quê? E qualquer que seja a resposta, a ela de novo pergunto: Por quê? Me sinto no caminho quando aquilo que faço ultrapassar o terceiro por quê, e daí sigo adiante.

Já faz algum tempo me pus a refletir sobre a vida de Jesus, sobre o princípio da Kenosis, ou esvaziamento, baseado no texto de Filipenses 2:1-11, sobre a encarnação de Jesus na realidade e sobre os inúmeros contatos e conversas dele com gente tão miserável como os leprosos e tão ricas como publicanos, chefes de sinagoga e príncipes de seu povo; com famílias da classe média, com proprietários e com servos e mendigos. Sobre o que ele via e como agia. E tudo isso foi crescendo e me fazendo pensar no texto de Mateus 5, de ele dizer aos pobres que mantivessem suas vidas no caminho e animados por serem pobres, por que deles era a possibilidade de terem a vida dirigida e controlada por Deus e perceberem Sua boa e perfeita vontade.

Devagar, nos últimos anos, além da reflexão bíblica, tenho observado o quanto vários amigos extremamente sinceros vem e vão, se empolgam e começam a servir e logo se ocupam de volta com seus afazeres e preocupações. Vejo também com que freqüência alguns outros pagam para que alguém cumpra o serviço de Deus e fazem isso por tempos determinados e movidos da maior das sinceridades, ainda que de longe e sem envolvimento pessoal.

De uma outra perspectiva observo o quanto a pobreza se entranha na vida dos pobres, e quanto esta somente revela muitas vezes seu desejo mal sucedido de possuir, de ter acesso ao consumo destruidor de tudo, de como sua situação se constrói pela sedução das mesmas coisas que seduzem e destroem os ricos. O mesmo individualismo, o mesmo egoísmo, a mesma tendência a sentir-se confortável e identificado com a posse das coisas. E a adesão inegociável a um estilo de vida e modo de pensar que os prende ao mito da necessidade moderna, ao desejo mítico de evoluir e à submissão ao mito do desenvolvimento.

Igualmente a ricos, pobres e remediados, o mesmo convencimento de que o que precisam é de algo que o mercado, o dinheiro, o governo ou alguma agência pode lhes oferecer. Que serão felizes com a posse, com a pança cheia (uns com pão, outros com brioches) e com o fluir permanente do dinheiro que tudo pode e tudo resolve. E dentre estes, alguns bem intencionados estendem a mão para “incluir” outros no estilo de vida ou no patamar que alcançaram. À mão estendida de cima para baixo, chamamos serviço.

Descobri ao longo dos anos que a própria posição de servir aos pobres, de compromisso com a libertação, estava cheia de superioridade, daquele tipo de superioridade que se traduz por dar ao outro o que eu tenho, uma vez que sutilmente assumo com meus atos que o que eu tenho ou faço era o que ele deveria ter ou fazer, uma tradução percebida na sutil arrogância das tais políticas de “inclusão”, sempre buscando colocar o outro dentro da caixa onde vivo, incluído no meu estilo de vida.

Tudo isso foi me levando a desistir de servir os pobres. Ainda que nem de longe me alinhando com aqueles que a este ponto, do alto de sua riqueza, conforto e bem estar possam estar dizendo “ta vendo? É isso que eu sempre pensei.” Lamento informar a estes que nem de longe creio em seu estilo de vida separado do contato com o pobre, com o desvalido, o faminto, o nu, o feio, o mal cheiroso, o inculto e o bárbaro. Não me alinho com aqueles que pagam seus impostos ou contribuem para caridade dizendo assim estar cumprindo seu papel. Não é disso que falo. A estes continuo retransmitindo a mensagem de Jesus, confrontadora de seu estilo de vida cego, insensível e arrogante, uma mensagem que chama de loucura aquilo que estes chamam de segurança.

Desisti de servir os pobres por outra razão.

Desde 1993, quando saí para as ruas com um bando de meninos e meninas na direção das populações de rua, havia desenvolvido uma mística de, a cada saída nas noites frias de minha cidade, não ir encontrar mendigos, ou carentes. Sempre dizia aos garotos àquela época que eu nunca me disporia a servir pão a um mendigo, ou fazer-lhe a cama, ou vestir sua nudez. Nosso moto, naquele tempo, era “encontrando Jesus na pessoa do pobre mais pobre”. Servir, alimentar e vestir Jesus era nossa motivação, isso sim me animava. E descobrimos com aquelas saídas, que a cada encontro desse com um Jesus assim disfarçado, que os chamados miseráveis se transformavam em mestres, em denunciadores de nossa miséria pessoal, de desmascaradores de nossos mecanismos de manipulação e nos víamos, de repente, espelhados neles, usando as mesmas desculpas, mentiras e escaramuças para ter o que queríamos. Talvez com um pouco mais de sucesso, e certamente simplesmente com mais sorte social, e mecanismos de segurança. Mas descobrimos à época, que nós éramos eles.

Aqueles que se descobriram assim, se libertaram, cresceram e mudaram. Confrontados por Jesus e ensinados por ele no contato com suas próprias pobrezas e misérias, descobrimos, muitos de nós, o que eram boas novas. Naquele tempo, e daquele tempo, muitos fomos transformados pelo toque de Jesus e pela boa nova que ele nos tinha a transmitir como pobres que nos descobrimos.

No entanto, nem sempre esta mística foi mantida como chama acesa, voltei tantas vezes a servir aos pobres, a me deixar levar pela possibilidade de estar na posição de ajudador e fui me esquecendo muitas vezes de minha própria miséria.

Como disse acima, ficar longe dos pobres e julgar suas atitudes e descaminhos do alto do conforto de minha posição social superior não é a alternativa que exponho aqui. Ajudar os pobres, conscientiza-los e inclui-los se mostra um mito, mais um daqueles nascidos no desenvolvimentismo dos últimos 60 anos. A alternativa que apresento é outra, traduzida no encontro, no reconhecimento e na identificação.

Desisti de ajudar os pobres, de servi-los e de salva-los. E isso porque tenho re-descoberto uma verdade dura: a de que Jesus não tem nenhuma boa notícia para quem serve os pobres. Jesus não veio trazer boas notícias a quem serve os pobres, ele trouxe uma boa notícia aos pobres. Ele não tem nada a dizer a outros salvadores, a quem disputa com Ele o cargo de Messias, de Redentor. A agenda de Jesus só traz uma mensagem aos que se reconhecem pobres, nus, feridos, cansados, sobrecarregados, carentes e sem esperança. Aos demais, sua agenda tem pouco ou nada a oferecer

A única maneira de permanecer com os pobres é se descobrimos que somos nós mesmos os miseráveis, é se reconhecemos a nós mesmos, ainda que bem disfarçados, naquele que está diante de nossos olhos. Ao encontrarmos neles nossa miséria, ao nos dar-mos conta de nossa carência, da desesperada necessidade de sermos salvos, ai nos encontramos com a agenda de Jesus.

Deus não se apresenta em nossa capacidade de curar, mas em nossa necessidade de sermos curados. Descobrir esta nossa fraqueza nos coloca sem nada para oferecer, servir, doar, mas revela nossa necessidade de sermos amados, curados e restaurados.

Por ai é que faz sentido que o poder que existe em nós não é o poder de nossas capacidades e riqueza, mas o poder residente em nossa miséria pessoal, tão bem escondida e disfarçada em nossas posses e estabilidade. Como diz Jean Vanier em um livro que li recentemente: “Somos chamados a descobrir que Deus pode trazer paz, compaixão e amor através de nossas feridas”

Como passou a fazer sentido o texto que fala do Messias, e que diz: pelas suas pisaduras, fomos sarados. Os demais messias tendem a escapar do exemplo de Jesus de esvaziar-se a tal ponto de ser um de nós, de morrer conosco e de abrir assim a porta da ressurreição para nós.

O poder que Jesus usou para nos curar e continuar curando não reside em seu acesso ao poder universal, mas em sua identificação conosco na cruz. Em se abrir em chagas e feridas, em se tornar um de nós, em viver nossa vida.

Desisti de servir aos pobres. Estou voltando a encontrar os pobres e me encontrar neles. Voltei a descobrir a miséria que se esconde nas vidas bem montadas de nossa falsa segurança. E com isso posso entender o Jesus que fala com leprosos e com ricos homens de negócios, com cobradores de impostos em suas festas e com enfermos miseráveis. Em sua identificação com todos e cada um Ele via o que talvez mais ninguém via: a extrema miséria e pobreza da condição humana, independente de qualquer status ou roupagem social.

Passei a reencontrar minha pobreza, a me ver em cada situação de miséria, e de me colocar em contato com minhas dores internas. Dali clamar por cura, libertação, comunidade e amor. Pedir misericórdia e ser restaurado.

Quem serve, serve de cima, Jesus nos chama a encarnar a nos vermos no outro e a nos colocarmos por baixo. A deixar de confiar em nossa capacidade e mudar o rumo para irmos ao encontro de nossas feridas e dores. De lá descobrir o poder que existe em sermos menos e não mais.

Desisti de servir aos pobres. Voltei a descobrir minha pobreza. E com ela posso clamar: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim”

Texto escrito pelo autor no blog Na Rua com Deus e dica do Paulo Brabo do blog Bacia das Almas
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