sábado, 28 de agosto de 2010

A razão do meu voto na Marina Silva



Escrevo para fazer campanha, e não para justificar meu voto. Quero repartir meus pensamentos políticos com a intenção de influenciar o seu. Talvez não consiga, mas tentei.


Penso que o Brasil precisa de uma ampla reforma política. Nosso sistema precisa ser moralizado; precisa se comprometer com a ética. Do jeito que estamos, é difícil acreditar nessa reforma. Precisamos de um novo sujeito político para uma nova política.

Nesse sentido, penso, inclusive, que o Plínio Arruda seja uma boa opção. Há, pelo menos em seu discurso, uma ruptura com o modelo vigente. Se você vai votar nele, de certa forma estou com você, pois o considero um bom candidato e com uma proposição política mais moral e ética do que a atual.

Contudo, penso que a Marina Silva é a personalidade mais forte, com mais capacidade, com mais articulação e com mais interesses éticos e morais. Inclusive, é reconhecida internacionalmente como umas das pessoas mais importantes e influentes do mundo. Na figura dela, penso que é possível um novo paradigma político: ela pode ser a primeira de uma nova geração.


Veja o “efeito Lula” depois de seus longos anos na Presidência da República: as atuais propagandas políticas giram em torno da origem humilde e pobre dos candidatos. Toda propaganda do Serra gira em torno de torná-lo um “Lulinha”: de origem humilde, militante dos pobres. Seu programa político tem forró e gente de sotaque nordestino.

Lula colocou os pobres num lugar de suprema importância política. Agora, eles são importantes. Seus votos são importantes. Seus pensamentos são importantes - para mim, um dos maiores feitos políticos de Lula.


Assim, acredito que a Marina pode provocar também um efeito, um novo efeito: tornar necessário caráter, integridade e reputação para as próximas candidaturas. Bom como o “efeito Lula”, o “efeito Marina” pode trazer a tona um novo conceito.

Fico imaginando a propaganda política de 2014, sob o “efeito Marina”: as propagandas políticas girando em torno de evidenciar a moral, a ética, a integridade e a honestidade dos candidatos, além da relevância mundial de suas personalidades.

Nada muda da noite para o dia. O Brasil precisa de muitos anos para se acertar politicamente. Vale lembrar que ainda estamos engatinhando dentro da democracia, como recém nascidos. Há muito que fazer politicamente no Brasil, a despeito de todas as decepções, frustrações e feridas. Não podemos desistir, e nem deixar que o ceticismo político se instale em nosso espírito.

Estamos só começando. Acredito que a Marina é o fôlego que precisamos.

Lucas Lujan

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Nem no inferno!



Robinson Cavalcanti

Faz de conta que não existe uma (des)Ordem Internacional com um centro e uma periferia, com um monopólio geopolítico e um oligopólio geoeconômico, e que a nossa soberania nacional está afirmada. Faz de conta que o Congresso Nacional representa a nossa pirâmide social, com a eleição dos mais votados, com suplentes de senadores por nós conhecidos e escolhidos, sem o (ab)uso do poder econômico, e que o nosso Estado Nacional é a expressão da soberania popular.

Faz de conta que não somos uma sociedade perversamente estratificada, e que não existe milhões de oprimidos e milhões de excluídos, vivendo na miséria, ou eufemisticamente, “abaixo da linha de pobreza”… Faz de conta que não somos uma sociedade de classes, e que não há choque de interesses.

Faz de conta que a nossa segurança pública concorre com a Suíça, a nossa saúde pública com a Suécia e a educação pública com o Reino Unido. Faz de conta que não há falta de saneamento básico, falta de moradia, falta de transporte público, que temos uma excelente malha ferroviária, que as hidrovias são aproveitadas e que as rodoviárias não conhecem buracos.

Faz de conta que a nossa imprensa é livre, isenta e honesta.

Faz de conta que a “base aliada” não é a aliança entre os estamentos que chegam e as oligarquias que estão onde sempre estiveram… desde as Capitanias Hereditárias.

Faz de conta que não precisamos de um Projeto Nacional, e que escolhemos em livres e acirradas eleições primárias os candidatos aos cargos executivos, e que não iremos escolher os que escolheram para que nós escolhêssemos.

Faz de conta que há uma oposição real ao atual Governo, exceto o pitoresco e o picaréstico da tentativa de ressuscitar fantasmas da Guerra Fria.

Assistindo aos debates entre os chamados “principais” candidatos (“confiáveis” aos donos do poder) parece que vivemos no melhor dos mundos. Surge a clássica pergunta: Que País é esse?

Com tudo varrido para debaixo do tapete, sem que a desconcentração do poder, da propriedade, da renda e do poder sejam levados em consideração, muito menos o empoderamento (e a opinião) dos sem voz e sem vez, a paralisia pragmática diante da popularidade do presidente-mito em formação, com seu neo-populismo, vamos nos arrastando na monotonia e no falso confronto sobre as personalidades e sobre o periférico.

Que prometem esse(a)s caras? Um Projeto de País? Não, um remedinho a mais, uma escolinha a mais, um assistencialismo a mais, ou seja, mais do mesmo, e não uma alternativa ao mesmo.

Escutando bem, parecem candidatos não à Presidente da República, mas a (macro) Prefeito, como bons gerentes do Estado (quando muito) assistencialistas, quando parece ter triunfado a ideologia do ex-ditador boliviano general Hugo Bazer: “Tornar os pobres mais ricos, sem tornar os ricos mais pobres”. Pois sim!

Confesso que o filme O Bem Amado (remake da novela inesquecível interpretada por Paulo Gracindo), com o meu sósia, me pareceu mais interessante e mais educativo do que o Programa Eleitoral Gratuito, os candidatos plastificados ou pitorescos e a ditadura dos marqueteiros.

Entre seis vs. meia dúzia vs. duas vezes três, teremos o nosso Presidente-Prefeito.

Eleição chata e engessada assim, nem no inferno!

A Divina Soltura

Paulo Brabo - no Blog A Bacia das Almas

E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse:
– Olha para nós.
E ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa.

Deus apareceu em forma humana a Hagar, e deixou-lhe entre os dedos uma esperança; comeu pães sem fermento, bezerro e queijo fresco à sombra da árvore de Abraão, que não sabia com quem estava sendo generoso; engalfinhou-se com Jacó e não partiu sem machucá-lo e abençoá-lo para sempre, sem deixar claro se havia uma diferença; sentou-se debaixo do carvalho e conversou com Gideão, passando por gente comum até que seu cajado tocasse e consumisse os sacrifícios; incógnito, recusou o pão da mesa de Manoá e de sua esposa, mas subiu espetacularmente ao céu com o fogo de suas ofertas.

A porção mais remota da Bíblia fala de um Deus que, mesmo depois de assumir as complicações da sua transgressão, passeava pelo mundo em forma de gente – precisamente como o monarca das fábulas que andava de vez em quando, disfarçado mas ainda assim notável, entre os plebeus.

Esse hábito divino de caminhar entre os homens sem ser reconhecido ocasiona na narrativa aquilo que James L. Kugel chama de “momento de confusão” – o instante em que gente comum percebe que está diante de uma figura de algum modo formidável, mas antes de entender que está diante de uma divina aparição. É o instante em que Josué, desnorteado pelo homem de espada desembainhada que ameaça no horizonte, vai até ele e pergunta: “Quem vem lá? É um dos nossos, ou um dos nossos inimigos?” – sem saber que no momento seguinte estará prostrado em adoração diante dele.

Porque, quando finalmente reconhecem a identidade desse “anjo do Senhor”, os protagonistas dessas histórias tratam-no como se ele fosse o próprio Deus, e não algum mensageiro seu – e é frequentemente como Deus, e não em nome dele, que a aparição fala de si mesma.

Em alguns casos, como no de Abraão e Jacó, essas divinas aparições nem ao menos são chamadas de anjos: são, mesmo para a narrativa, “um homem” – misterioso, promissor e incômodo como qualquer outro que se coloca no nosso caminho. A reviravolta está em que o que parecem ser meros homens se mostrarão Deus.

Como observa Kugel, a ênfase dos narradores bíblicos nesse momento de confusão não tem como ser casual. Ela serve não apenas para pontuar que Deus de vez em quando interfere na realidade do dia-a-dia, mas para demonstrar que a própria realidade pode ser algo bem diferente do que aparenta: “não há dois domínios, um temporal e um espiritual [...] O espiritual não é algo distinto, uma outra ordem de existência”.

O momento de confusão do protagonista está ali para nos ensinar que se não somos capazes de enxergar Deus no cotidiano isso pode muito bem ser falha da nossa percepção, e não daquilo que cremos ser uma divina ausência.

Com o passar das páginas e dos séculos, no entanto, essa divindade que costumava aparecer em forma corpórea vai assumindo um recato cada vez mais acentuado. Deus deixa de se disfarçar de ser humano e de ser visto entre os homens, e vai adotando uma reputação e um caráter cada vez mais espiritual: invisível, inacessível e inteiramente distinto da experiência cotidiana.

Pela metade do Antigo Testamento, Deus já deixou há muito de sentar-se debaixo de árvores, de envolver-se em brigas com fugitivos e de aceitar convites para jantar. É uma divindade cada vez mais incorpórea, e quando finalmente levantam-se os profetas, Deus resumiu-se efetivamente a uma voz – uma voz que nem mesmo fala através de si mesma, mas pela garganta de intermediários. Ao final do Antigo Testamento, “E a Palavra do Senhor veio a [tal profeta]” é aparentemente tudo o que resta da corporeidade de Deus.

Então, sem qualquer aviso e sem um verdadeiro precedente, Jesus pisa o chão descalço da Judeia, e a corporeidade de Deus parece ter sido esplendidamente restituída. Não apenas isso: ao contrário das aparições divinas no Antigo Testamento, Jesus não é apenas o divino assumindo uma sombra ilusória e temporária de humanidade. Antes, ele é declaradamente o Filho do Homem, inteiramente entranhado nas complicações da carne e comprometido com a busca de soluções para elas. Em Jesus, Deus não se recusará a sentar-se à mesa e não fugirá para ao céu diante da mínima ameaça de ser reconhecido. Jesus é um Deus que cospe, que caminha, que chora, que se cansa, que sangra, que tem fome, que tem sede – mas não só isso: é também um Deus que abraça, que cura, que perdoa, que acompanha, que elogia, que surpreende, que consola, que conversa, que toca feridas que todos recusam-se a olhar, que toma entre as suas mãos imperfeitas, que aceita carinho e não o nega.

Esse Deus insuportavelmente humano se mostra intolerável para uma humanidade corrompida, que não quer que ninguém lhe traga à memória a sua vocação à gentileza. Tratam logo de silenciá-lo, lançando-o no poço da morte, porque sabem que o clamor dos mortos não é capaz de iluminar a cegueira dos vivos.

Morto Jesus, de modo tão prematuro e imperdoável, o plano divino de amolecer a humanidade pela gentileza da sua presença parece ter sido frustrado definitivamente. Na morte de Jesus, o diabo mostra a Deus quem é que manda aqui embaixo, e esfrega-lhe na face a absoluta lealdade dos homens à perversidade e à mesquinhez.

Mas, então, impensavelmente, a semente que morreu lança do seio da terra as primeiras folhas de uma exuberância jamais vista. A gentileza de um único homem, fica demonstrado além de qualquer dúvida, havia bastado para amolecer no caldo do espírito o coração de mais de cem. No Pentecostes fica claro não apenas que a voz divina ninguém pode calar, mas também que o corpo divino ninguém pode deter.

A comunidade do reino é a multiplicação de Cristo e sua restituição ao mundo. Nesses vasos de carne que transbordam do espírito, Deus volta a andar pela terra em forma de gente.

Na comunidade do reino, Deus deixa de estar confinado ao céu, mas desfruta da graça e das responsabilidades de uma definitiva soltura. Deus deixa de estar confinado a um único corpo que pode ser eliminado, mas passa a transtornar o mundo mediante uma infinidade de mãos e de pés. Deus deixa de estar confinado ao templo, mas passa a caminhar em todos os lugares onde repousam os excluídos e os marginais, do lado de fora de todas as Portas Formosas.

As portas do templo não prevalecerão contra essa igreja, porque o mundo exterior e o interior de cada homem, cada aspecto da experiência física e espiritual, está destinada a ser transtornada em reino de Deus.

Paulo, uma vez banhado nessa realidade, não hesitará em chamar a igreja de Corpo de Cristo – descrição que seria blasfema se não fosse absolutamente precisa. A igreja é igreja quando é Jesus: um corpo lidando com corpos.

Agora Pedro e João olham com olhos de carne para um homem de carne, e logo lhe tomarão pela mão, a mão direita.

Deus está agora à solta, e salve-se quem puder.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O velho agoniza e o novo custa a nascer

Leonardo Boff *

Adital -
Entre os muitos problemas atuais, três comparecem como os mais desafiadores: a grave crise social mundial, as mudanças climáticas e a insustentabilidade do sistema-Terra.

A crise social mundial deriva diretamente do modo de produção que ainda impera em todo o mundo, o capitalista. Sua dinâmica leva a uma exacerbada acumulação de riqueza em poucas mãos à custa de uma espantosa pilhagem da natureza e do empobrecimento das grandes maiorias dos povos. Ela é crescente e os gritos caninos dos famélicos e considerados "óleo queimado" não podem mais ser silenciados.

Este sistema deve ser denunciado como inumano, cruel, sem piedade e hostil à vida. Ele tem uma tendência suicida e se não for superado historicamente, poderá levar o sistema-vida a um grande impasse e até ao extermínio da espécie humana.

O segundo grave problema é constituído pelas mudanças climáticas que se revelam por eventos extremos: grandes frios de um lado e prolongadas estiagens de outro. Estas mudanças sinalizam um dado irreversível: a Terra perdeu seu equilíbrio e está buscando um ponto de estabilidade que se alcançará subindo sua temperatura. Até dois graus Celsius de aumento, o sistema-Terra é ainda administrável. Se não fizermos o suficiente e o clima atingir até 4 graus Celsius (conforme advertem sérios centros de pesquisa), então a vida assim como a conhecemos não será mais possível. Haverá uma paisagem sinistra: uma Terra devastada e coberta de cadáveres.

Nunca a humanidade, como um todo, se confrontou com semelhante alternativa: ou mudar radicalmente ou aceitar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida. A Terra continuará, entregue às bactérias, mas sem nós.

Importa entender que o problema não é a Terra. É nossa relação agressiva e não cooperativa para com seus ritmos e dinâmicas. Talvez ao buscar um novo ponto de equilíbrio, ela se verá forçada a reduzir a biosfera, implicando na eliminação de muitos seres vivos, não excluindo seres humanos.

O terceiro problema é a insustentabilidade do sistema-Terra. Hoje sabemos empiricamente que a Terra é um superorganismo vivo que harmoniza com sutileza e inteligência todos os elementos necessários para a vida a fim de continuamente produzir ou reproduzir vidas e garantir tudo o que elas precisam para subsistir.

Ocorre que a excessiva exploração de seus recursos naturais, muitos renováveis e outros não, fez com que ela não conseguisse, com seus próprios mecanismos internos, se autoreproduzir e autorregular. A humanidade consome atualmente 30% mais do que aquilo que a Terra pode repor. Desta forma ela não se torna mais sustentável. Há crescentes perdas de solos, de ar, de águas, de florestas, de espécies vivas e da própria fertilidade humana. Quando estas perdas vão parar? E se não pararem qual será o nosso futuro?

Tudo isso nos obriga a uma mudança de paradigma civilizacional. Mudança de civilização implica fundamentalmente um novo começo, uma nova relação de sinergia e de mútua pertença entre a Terra e a humanidade, a vivência de valores ligados ao capital espiritual como o cuidado, o respeito, a colaboração, a solidariedade, a compaixão, a convivência pacífica e uma abertura às dimensões transcendentes que dizem respeito ao sentido terminal nosso e do universo inteiro.

Sem uma espiritualidade, vale dizer, sem uma nova experiência radical do Ser e sem um mergulho na Fonte originária de todos os seres de onde nasce um novo horizonte de esperança, certamente não conseguiremos fazer uma travessia feliz.

Enfrentamos um problema: o velho ainda persiste e o novo custa a nascer, para usar uma expressão de Antonio Gramsci.

Vivemos tempos urgentes. São as urgências que nos fazem pensar e são os perigos que nos obrigam a criar arcas de Noé salvadoras. Estamos inconformados com a atual situação da Terra. Mesmo assim cremos que está ao nosso alcance construir um mundo do "bem viver" em harmonia com todos os seres e com as energias da natureza e principalmente em cooperação com todos os seres humanos e numa profunda reverência para com a Mãe Terra.

[Autor de Proteger a Terra e Cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, a sair pela Record 2010].

domingo, 22 de agosto de 2010

Mercado eleitoral

Frei Betto *

Adital -
O jogo é um vício nefasto. Ao contrário da bebida e da droga, a pulsão pela aposta não altera o estado de consciência e arrisca os recursos financeiros do jogador. Dostoiévski que o diga.

A fantasia de ganho fácil faz naufragar a razão na emoção. O jogador dobra apostas, blefa, convicto de que a sorte, mulher apaixonada, jamais o abandona.

O processo eleitoral, tal como ocorre hoje, não seria um jogo? A maioria dos candidatos é motivada pelo ideal de servir ao bem comum ou pela ambição de ocupar uma função de poder e, assim, assegurar melhor futuro para si e os seus?

Já no século IV a.C., Aristóteles, que defendia a rotatividade no poder como predicado da democracia, observava na Política (livro III) que as coisas mudavam porque, "devido às vantagens materiais que se tira dos bens do Estado ou que se alcança pelo exercício do poder, os homens desejam permanecer continuamente em funções. É como se o poder conservasse em permanente boa saúde os que o detêm...".

Hoje, isso se acentua. Os candidatos, salvo exceções, não têm programas (exceto no papel), mas performance; nem objetivos, mas compromissos com aliados; nem princípios ideológicos, mas o pragmatismo que ignora a ética mais elementar. A política se tornou a arte de simular e dissimular.

Os marqueteiros têm mais poder sobre os candidatos que o partido. Não se trata mais de divulgar um projeto político, e sim um produto capaz de seduzir o mercado eleitoral. O perigo, adverte Umberto Eco, é o político se tornar um produto semiótico, teatralizado.

Muitos políticos rezam pelo Breviário do cardeal Mazarin, escrito no século XVII, onde se multiplicam conselhos deste quilate: "Arranja-te para que teu rosto jamais exprima nenhum sentimento particular, mas apenas uma espécie de perpétua amenidade". Ou: "O importante é aprender a manejar a ambiguidade, a pronunciar discursos que possam ser interpretados tanto num sentido como no outro, a fim de que ninguém possa decidir".

Os marqueteiros são, hoje, os verdadeiros artífices das candidaturas. Os eleitores, o alvo mercadológico. A diferença com os produtos do supermercado é que estes são adquiridos para uso do consumidor. No caso da política, o eleitor é "consumido" para uso do candidato. Meses depois, o eleitor nem se recorda dos nomes a quem deu seu voto, embora se queixe dos políticos e da política.

A roleta eleitoral ainda não conseguiu eliminar do processo um fator incômodo: a entrevista. A mídia exerce poderosa mediação entre o candidato e o eleitor, daí as concessões feitas pelos partidos para ampliar suas alianças e garantir maior tempo de exposição midiática de seus candidatos.

A entrevista incomoda porque impede o candidato de manter-se nos estreitos limites da retórica recomendada pelos marqueteiros. Surgem perguntas indesejadas, questionamentos éticos, e as contradições que o candidato tanto gostaria de ocultar.

Sem entrevista, programa político e amor ao bem comum a democracia é mera farsa.
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