sábado, 31 de outubro de 2009

Quero aprender a lamentar

Ricardo Gondim

O profeta Ezequiel comeu um livro repleto de lamentos, prantos e ais. Depois de encher seu estômago, afirmou: “Eu o comi e em minha boca era doce como mel” (Ez 3.3). Como pode tal livro ser doce na boca de alguém? É muito estranho gostar de lamentos numa sociedade hedonista e obcecada pelo sucesso. Mas, felizes os que pranteiam e aliviam o coração de suas dores; eles conseguem afogar suas coerências em lágrimas; choram sem o patrulhamento da lógica e não se importam com a censura. Alguém já disse que o poeta só é poeta se sofrer, também se pode afirmar: o profeta só é profeta quando aprende a lamentar.

Abracei, por anos, uma fé discursiva, triunfalista e racional que me fez esquecer o valor do lamento. Eu associava o pranto à fraqueza. Achava que a mensagem do evangelho transformaria as pessoas em vencedores imbatíveis e que nada poderia abalar um crente. Até que li o teólogo judeu, Abraham Joshua Heschel. Com ele aprendi uma nova dimensão sobre intimidade com Deus. Heschel afirmava que os profetas não foram meros porta-vozes da fala divina, mas pessoas chamadas para comungarem do “pathos” de Jeová – palavra grega que significa sentimento. Para ele, ser profeta representava o privilégio de partilhar as emoções divinas. Assim, quando Jeremias, por exemplo, chora e lamenta, as lágrimas não são suas, mas do seu Deus

O apóstolo Paulo também pensou nessa identidade profética ao afirmar em Filipenses 1.29: “A vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”,

Assim, quero me tornar íntimo de Deus, não apenas para celebrar sua presença no que há de bonito e louvável, mas também para aprender a lamentar com Ele, os horrores de um mundo que não cumpre sua vontade.

Quero conhecer o coração de Deus para lamentar a sorte da África que vem sendo dizimada pelo avanço da AIDS. Saberei chorar a morte desnecessária de milhões de crianças que se amontoam em campos de refugiados, expulsas por guerras étnicas. Lamentarei o descaso das nações ricas, tão preocupadas consigo mesmas. Sofrerei por elas se comportarem como Caim que respondeu ao Senhor: “Sou eu responsável por meu irmão?”.

Quero conhecer o coração de Deus para lamentar o drama dos pequenos países latino-americanos sem recursos naturais e sem condições de pagar suas dívidas. Com os olhos marejados, lembrarei de que toda América Latina foi roubada, explorada e usada por impérios que levaram daqui ouro, prata, cobre, ferro, madeira e banana. Lamentarei não haver uma justiça retributiva para que esses países sejam ressarcidos e não sofram tanto. Chorarei pela sangria da riqueza latino-americana que gasta tudo o que produz para pagar juros extorsivos.

Quero conhecer o coração de Deus para lamentar o que acontece em minha pátria. Chorarei pelos rios que viraram esgotos, pelas florestas que tombaram pela sanha do mercado e pelas praias que perderam sua virgindade branca, inundadas de lixo. Sentirei meu coração apunhalado quando lembrar que o Brasil se tornou uma ameaça para a humanidade; uma Amazônia devastada representará, talvez, o desequilíbrio final e total do sistema ecológico global.

Quero conhecer melhor o coração de Deus para chorar pela existência de clínicas clandestinas de aborto, cortiços onde travestis negociam barato o corpo, mendigos que dormem com suas famílias sob viadutos, e favelas imundas que se multiplicam nas margens de córregos fétidos. Desejo compreender o que significou para Jesus afirmar: “Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt 18.14).

Quero conhecer melhor o coração de Deus para lamentar a exportação de crianças para servirem ao sórdido mercado da pedofilia. Quero prantear o Brasil que se transformou em rota do turismo sexual. Será que conseguirei expressar minha tristeza por meu país ser conhecido internacionalmente pela sua violência, sensualidade, nudez e irresponsabilidade? Hoje já me sinto constrangido por saber que os cônsules tratam os brasileiros como oportunistas que só desejam emigrar para seus países como sub-empregados. Envergonho-me quando observo brasileiros chegando em aeroportos, para depois vê-los algemados, porque não foram bem-vindos.

Quero conhecer melhor o coração de Deus para lamentar que muitos setores evangélicos do ocidente se alinharam a uma geopolítica norte-americana desastrada. Chorarei por terem apoiado uma guerra e por inviabilizarem o diálogo com o mundo islâmico. É lamentável que os muçulmanos identifiquem os cristãos como infiéis sanguinários e legitimadores de uma doutrina bélica.

Quero conhecer melhor o coração de Deus para poder lamentar a perda da credibilidade da igreja. Precisam doer em mim os fracassos morais que se sucedem; o clero que espolia o pobre; os sermões que se tornaram irrelevantes e a fé que se transformou em mercadoria. Perto de Deus, saberei valorizar o sangue de mártires, dos missionários e o esforço de teólogos. Direi que a fé não pode se perder num mar de obviedades. Quero indignar-me pelos discursos vazios, promessas irreais e banalização do milagre!

Almejo ser tão íntimo de Deus como o profeta Isaías. Eu também direi que Deus odeia as festas religiosas e as muitas orações feitas em seu nome sem que se busque a justiça, combata a opressão e defenda o direito da viúva e do órfão. Sei que há tempo para celebração, mas hoje quero aprender a lamentar.

Soli Deo Gloria.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Carta da Terra

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.

Texto da Carta da Terra, na íntegra






Quem é o sujeito da história?

Ricardo Gondim

Os filósofos indagam o porquê da vida. Por isso, filosofia é definida não só como ciência, mas “uma decisão de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”.[1]

Os teólogos buscam discernir o enigma do universo; principalmente a origem do mal. Assim, faz-se teologia com dois olhos. Com um, mira-se Deus, o mistério absoluto. Com outro, procura-se compreender o drama humano; busca-se, na teologia, um nexo que explique todas as suas ambigüidades, dilemas, dores, alegrias, triunfos e fracassos.

Para Marilena Chaui, as religiões ordenam a realidade segundo dois princípios: o bem e o mal.

“Há três tipos de religiões: as politeístas, em que há inúmeros deuses, alguns bons, outros maus, ou até mesmo cada deus podendo ser ora bom, ora mau; as dualistas, nas quais a dualidade do bem e do mau está encarnada e figurada em duas divindades antagônicas que não cessam de combater-se; e as monoteístas, em que o mesmo deus é tanto bom quanto mau, ou, como no caso do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, a divindade é o bem e o mal provém de entidades demoníacas, inferiores à divindade e em luta contra ela.

No caso do politeísmo e do dualismo, a divisão bem-mal não é problemática, assim como não o é nas religiões monoteístas que não exigem da divindade comportamentos sempre bons, uniformes e homogêneos, pois a ação do deus é insondável e incompreensível. O problema, porém, existe no monoteísmo judaico-cristão e islâmico.

Com efeito, a divindade judaico-cristã e islâmica é definida teologicamente como um ser positivo e afirmativo: Deus é bom, justo e misericordioso, clemente, criador único de todas as coisas, onipotente e onisciente, mas, sobretudo, eterno e infinito. Deus é o ser perfeito por excelência, é o próprio bem e este é eterno como Ele. Se o bem é eterno e infinito, como surgiu sua negação, o mal? Que positividade poderia ter o mal, se no princípio, havia somente Deus, eterna e infinitamente bom? Admitir um princípio eterno e infinito para o mal seria admitir dois deuses, incorrendo no primeiro e mais grave dos pecados, pois tanto os Dez Mandamentos quanto o Credo cristão afirmam haver um só e único Deus.

Além disso, Deus criou todas as coisas do nada; tudo o que existe é, portanto, obra de Deus. Se o mal existe, seria obra de Deus? Porém, Deus sendo o próprio bem, poderia criar o mal? Como o perfeito criaria o imperfeito? Qual é, pois, a origem do mal? A criatura.

Deus criou inteligências imateriais perfeitas, os anjos. Dentre eles, surgem alguns que aspiram ter o mesmo poder e o mesmo saber que a divindade, lutando contra ela. Menos poderosos e menos sábios, são vencidos e expulsos da presença divina. Não reconhecem, porém, a derrota. Formam um reino separado, de caos e trevas, prosseguem na luta contra o Criador. Que vitória maior teriam senão corromper a mais alta das criaturas após os anjos, isto é, o homem? Valendo-se da liberdade dada ao homem, os anjos do mal corrompem a criatura humana e, com esta, o mal entra no mundo.


O mal é o pecado, isto é, a transgressão da lei divina que o primeiro homem e a primeira mulher praticaram. Sua punição foi o surgimento de outros males: morte, doença, dor, fome, sede, frio, tristeza, ódio, ambição luxúria, gula, preguiça, avareza. Pelo mal, a criatura afasta-se de Deus, perde a presença divina e a bondade original que possuía.

O mal, portanto, não é uma força positiva da mesma realidade que o bem, mas é pura ausência do bem, pura privação do bem, negatividade, fraqueza. Assim a treva não é algo positivo, mas simples ausência da luz, assim também o mal é pura ausência do bem. Há um só Deus e o mal é estar longe e privado dele, pois Ele é o bem e o único bem”. [2]

Diante desses pressupostos, deve-se perguntar: Como o movimento evangélico observa a história? Como responde quando estruturas políticas e econômicas produzem morte? Quem ou qual fator determina as escolhas de líderes, reis, generais e presidentes? Por que se vive com tanto sofrimento na América Latina?

Antes da modernidade, os primeiros teólogos cristãos trabalhavam com a noção de que a história seguia bitolas previamente definidas por Deus e que a participação humana só valia pedagogicamente para amadurecer o próprio homem, nunca para re-inventar o futuro. Com a autonomia humanista da modernidade, esse paradigma foi lentamente corroído pela ciências sociais. Homens e mulheres passaram a ser considerados atores e não meros objetos históricos. Com a renascença rompeu-se com a visão medieval da depravação total dos seres humanos e com o determinismo histórico.

Indubitavelmente a teologia cristã ensina que o pecado se universalizou. Entretanto, houve um pessimismo exagerado na elaboração dessa doutrina. Negligenciou-se muito o ensino sobre a “Imago Dei” – expressão latina para significar a imagem de Deus nos seres humanos. Santo Agostinho é responsabilizado de sobrepor as idéias de Plotino às de São Paulo sobre o pecado.

“As interpretações religiosas medievais se apóiam nos fundamentos racionais do pensamento de Platão. Inicialmente, Plotino 9205-270) desenvolve uma espiritualista e mística, o neoplatonismo. Nele, Santo Agostinho (354-430) buscará inspiração para a resolução de suas dúvidas, o que o encaminha para a conversão ao cristianismo e, posteriormente, à elaboração da grande síntese teológica cuja influência será decisiva na transição do final da Antiguidade para a alta Idade Média”. [3]

Esse conceito medieval da maldade humana significava que Deus mantinha-se fora da história, sempre a conduzindo e determinando segundo sua santidade e sabedoria. Só ele era “sujeito da história”. O homem era tão indigno que não podia cooperar com Deus. Somente Deus estava por detrás de todos os eventos. Sua vontade bastava para explicar cada anacronismo ou avanço humano. Porém a modernidade começou a pensar dentro de outro paradigma: o homem como “sujeito da história”.

“O mundo moderno substituiu esta noção de Deus como sujeito da história pela noção do ser humano como sujeito da história. A secularização, neste sentido, pode ser entendida como um processo de desencantamento do mundo e de reencantamento do ser humano. A Modernidade usurpa da Deus a imagem do sujeito e a transfere ao ser humano. Beste sentido, Alain Touraine diz: ‘ao entrar na Modernidade, a religião explode, mas seus componentes não desaparecem. O sujeito, cessando de ser divino ou de ser definido como a Razão, tornou-se humano, pessoal, torna-se uma certa relação do indivíduo ou do grupo a eles mesmos’, e que o ‘sujeito da Modernidade outro não é que o descendente secularizado do sujeito da religião.

Com esta profunda transformação, uma autêntica revolução antropológica, a história passa a ser vista como um objeto na relação com o ser humano. Na construção do conceito de sujeito da história ocorre, ao mesmo tempo, a construção do conceito de história como objeto a ser construído pelo sujeito-humano. Nos primórdios da humanidade, predominou a noção do destino escrito pelos deuses ou pelos espíritos da natureza, não havendo ainda a noção da história. Com o tempo apareceu a noção do mal ético, o pecado, e com isso a noção da liberdade humana, dando origem à noção de história. O Antigo Testamento é um exemplo desta ruptura cultural, da visão da história como uma tensão entre a vontade divina e a humana. Entretanto, na maior parte do tempo, a história humana foi percebida como definida pelos deuses ou pela Razão. Com a modernidade surge esta novidade: a percepção da história como sendo construída por sujeitos humanos”.[4]

É necessário que também se considere a influência do determinismo científico e filosófico na teologia. No determinismo científico tudo o que existe precisa de uma causa. No século XIX, Augusto Comte ensinava que a liberdade humana não passava de mera ilusão. O filósofo positivista Taine (1828-1893) repetia que a vida se condicionava por três fatores diferentes: raça, meio e momento. Assim, os positivistas acreditavam que a carga biológica herdada, determinava o comportamento. Aceitavam igualmente que o meio com seus fatores geográficos, climáticos e socioculturais, não permitiam escolhas genuínas. E havia ainda o momento: subordinando os indivíduos a viverem de acordo com os valores de sua época. Ninguém podia se perceber livre. Muitos teólogos – Pascal era um deles – não pensavam diferente e iam além: tudo o que existe não tem apenas uma causa (Deus), mas necessariamente um propósito. Em diversas escolas renasceu o pensamento grego e pagão de que o futuro já é algo acontecido e está, portanto, fechado. Vários pensadores cristãos assumiram que não existe qualquer contingência no universo. Para elas, todo acontecimento obedece a uma necessidade. Para muitos teólogos ocidentais, a explicação final de todos os fatos resumia-se em: “Tinha que ser assim”! Eles refletiam dentro dos arraiais cristãos, o pensamento determinista de sua época.

Mas os tempos mudaram, aquele velho determinismo científico e filosófico esfarinhou-se:

“... não há como negar que o ser humano sofre determinações, situado que está em um tempo e espaço e sendo herdeiro de uma certa cultura. No entanto, é também um ser consciente, capaz de conhecer esses determinismos. Ora, esse conhecimento permitirá, a partir da consciência das causas (e não à revelia delas), construir um projeto de ação. Portanto, a liberdade se torna verdade quando acarreta um poder de transformação sobre a natureza do mundo e sobre a própria natureza humana.

É assim que o filósofo francês Alain, pseudônimo de Emile-Auguste Chartier (1868-1951), explica como um hábil marinheiro manobra o veleiro e fazendo ziguezagues, pode seguir para onde quiser: ‘O oceano não quer mal nem bem. Aonde segue o vento e a lua, e se estendemos uma vela ao vento, este a impele segundo o ângulo. O homem orienta sua vela, apóia-se no leme e avança contra o vento pela própria força do vento’. A consciência do determinismo do vento se transforma nesse caso, em outra causa, capaz de alterar a ordem das coisas. Com isso, não se rompe o nexo causal, mas introduz-se uma outra causa – a consciência do determinismo – que transforma o sujeito em ser atuante, e não um simples efeito passivo das causas que agem sobre ele: o veleiro não segue apenas para onde sopra o vento, mas para onde o marinheiro deseja ir”. [5]

É possível fazer teologia evangélica na América Latina algemando a história a qualquer determinismo? Quando se afirma que há um compromisso histórico na Missão Integral, está implícito que há uma proposta de que a igreja precisa se comportar como “sujeito da história”, nunca seu objeto passivo. Em sua práxis ela deve acreditar que miséria, injustiça e violência não cumprem uma vontade divina, mas agridem a Deus. Ele não produz a desigualdade perversa e nem pode ser responsabilizado pela morte de crianças que não resistem a uma simples diarréia. Jung Mo Sung, teólogo brasileiro, comprometeu-se com o pobre e com a transformação da história quando percebeu que não existia nenhuma providência causando desgraça:

“A história não era mais para mim o desenrolar da vontade onipotente de Deus, mas resultado de ações humanas, dos conflitos de interesses de grupos e classes sociais. A pobreza deixara de ser para mim a cruz imposta por Deus para a salvação das almas. E, portanto, a superação da pobreza não viria das orações e das conversões dos corações, mas sim das transformações estruturais da sociedade”. [6]

Portanto, o evangelicalismo latino-americano só conseguirá manter-se fiel ao seu compromisso de fazer Missão Integral quando começar a libertar-se de pelo menos dois jugos fundamentalistas: o homem objeto e não sujeito da história e o determinismo agostiniano de que toda realidade cumpre a vontade de Deus. Se não se desvencilhar desses paradigmas, continuará apologético, porém impotente para transformar a fé em práxis.

Soli Deo Gloria.

[1] Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004, p.17.
[2] Ibid, 259.
[3] Aranha e Martins, Maria Lúcia e Maria Helena. Filosofando – introdução à Filosofia – São Paulo: moderna, 2004, p.327.
[4] Sung, Jung Mo, p. 52.
[5] Aranha e Martins, Maria Lúcia e Maria Helena. Filosofando – introdução à Filosofia – São Paulo: moderna, 2004, p.320
[6] Sung, Jung Mo. Sujeito e Sociedades Complexas. Para repensar os horizontes utópicos. São Paulo: Vozes, 2002, p.28.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Uma coisa e outra coisa

Parafraseando o poeta, Deus é como o luar, ao mesmo tempo luz e mistério. Luz porque revelado, auto-revelado. Mistério porque Deus. O que fosse completamente conhecido ao mortal seria também mortal e, portanto, não seria Deus. O finito não pode, por definição, compreender o eterno; o imperfeito, conhecer perfeitamente o perfeito. Até aqui, tudo bem, acredito. Mas vou mais longe. A essência e a natureza de Deus estão além das possibilidades humanas. Deus não cabe sequer no vocabulário humano. Por exemplo, podemos falar que Deus é uma coisa, um ser, uma pessoa? Ou deveríamos dizer que Deus é, ou como pretendia Paul Tillich, Deus é o ser em si? Quem sabe deveríamos ficar com a auto-apresentação de Deus a Moisés: Eu sou. Talvez devêssemos admitir a sabedoria judaica para quem o nome de Deus é impronunciável. Faz sentido: imensurável, incognoscível, inefável, cujo nome é impronunciável.

Toda e qualquer tentativa de enclausurar Deus em uma definição é uma blasfêmia e um ato de idolatria: Deus definido é igual a ídolo. Isso implica dizer que não se pode falar de Deus em termos conceituais. Reduzir Deus a idéias é também uma forma de fazer deuses: idéias de Deus são iguais a deuses.

Mas creio que Deus se revelou. Creio que a Bíblia sagrada é o texto privilegiadíssimo desta revelação e a considero “palavra de Deus”. Creio, como diz a Bíblia, que Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras, e que sua palavra exata foi Jesus de Nazaré, o Cristo.

Suspeito que de Deus se pode afirmar o que pode ser visto. Visto na maneira como se relacionou com as pessoas cujas histórias são contadas na Bíblia – caso não saiba, a Bíblia é um livro de histórias. Visto na maneira como se comportou em Jesus Cristo, sua mais exata expressão. O que não pode ser visto a respeito de Deus é apenas e tão somente objeto de especulação, fruto de experiência pessoal, conteúdo de fé subjetiva, e, portanto, não serve de base para o labor teológico.

Por exemplo, quando alguém diz que “Deus é justo”, “Deus é onipotente”, ou “Deus é onisciente” me pergunto de onde tiram essas afirmações, isto é, quero saber onde Deus pode ser visto agindo com justiça, com todo o poder e com todo o conhecimento. Por outro lado, quando a Bíblia diz que Deus mandou aniquilar uma nação por completo ou decidiu dar uma porção de terra a um povo em detrimento de outro, inclusive expulsando da terra o povo que lá estava, preciso de um longo caminho para compatibilizar minhas noções de genocídio e limpeza étnica e meus critérios de direitos e justiça com o que dizem a respeito de Deus. Uma coisa é o que dizem que Deus é. Outra coisa é a maneira como a Bíblia retrata seu comportamento ao longo da história. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Quem tem ouvidos ouça como conciliar as coisas.

Ed Renee Kivitz

Fora da Zona de Conforto![29/10/09]

Situação de crianças em Honduras piora após golpe, diz Unicef
A agência disse também que mais de 1,8 milhão de crianças das escolas públicas perderam o ano acadêmico. Os professores estão entre os mais ativos manifestantes contra o golpe, que desatou marchas que deixaram vários mortos.

Premiê da Somália diz que pirataria é "medida desesperada de sobrevivência"
O chefe do governo de transição se queixou que a pirataria seja percebida no exterior somente como "uma atividade criminosa", pois na realidade trata-se "de uma medida desesperada de sobrevivência e em muitas comunidades do litoral é a única fonte viável de renda".

Surto de leptospirose nas Filipinas

Água está contaminada após enchentes provocadas pelas tempestades; já são mais de 2 mil casos da doença no país.

China resgata 2 mil crianças vítimas de tráfico humano
A polícia na China informou que recuperou mais de 2 mil crianças depois de uma campanha de seis meses contra o tráfico de pessoas.

América Central é a região mais violenta do mundo, segundo o Pnud
"Com exceção de algumas zonas da África e da Ásia em guerra, essa região registra as taxas de homicídio mais elevadas do mundo, e essas taxas aumentaram ao longo dos últimos anos em quase todos os países da América Central", ressalta esse relatório.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Geralmente se diz que fé é acreditar em Deus.
Ou ainda que fé é acreditar que Deus tudo pode.
As duas definições, entretanto, nada nos acrescentam,
pois esse tipo de fé até mesmo o diabo tem.

Gosto da definição de Rob Bell:
fé é acreditar que Deus acredita em você.

Essa foi a experiência de Pedro
quando pediu que Jesus o chamasse para
andar sobre as águas. E Jesus o chamou, isto é,
pronunciou uma palavra de ordem a seu respeito.

Pedro saiu do barco e caminhou sobre as águas.
Mas em dado momento prestou atenção no vento,
e duvidou.
Começou a afundar e clamou por socorro:
“Senhor, salva-me!”

Pedro não duvidou de Jesus
e nem de seu poder de salvar.
Então, duvidou de quê?
Duvidou de si mesmo.
Duvidou de que seria capaz de cumprir
a palavra de Jesus pronunciada a seu respeito.

Fé não é acreditar que Deus tudo pode.
Fé é acreditar que
“tudo posso naquele que me fortalece”.
Quem acredita que Deus tudo pode e nada faz,
tem fé sem obras, e fé sem obras é fé morta.

Hebreus 11 é chamado de “galeria dos heróis da fé”.
Ali estão registrados os exemplos de fé.
Não são pessoas que apenas acreditaram
em Deus ou no fato de que Deus tudo pode.
São pessoas que, porque acreditaram em Deus,
e no fato de que Deus tudo pode,
deixaram sua zona de conforto
e se arremessaram a andar com Deus,
obedecendo as ordens de Deus
e perseguindo as promessas de Deus.

Fé é acreditar que Deus acredita em você.

Ed Renee Kivitz

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Você faz suas compras com responsabilidade?

Leonardo Sakamoto

Cerca de 500 a 600 mil trabalhadores ilegais oriundos de outros países são explorados apenas no Reino Unido. Na França, a maioria dos migrantes chineses submetidos a trabalho forçado enfrentam jornadas de até 21 horas por dia.

Os números chocantes fazem parte da campanha “Compre com responsabilidade” (Buy Responsibly, em Inglês), que a Organização Internacional para as Migrações (OIM) lançou esta semana, em frente à sede da União Européia, em Bruxelas, na Bélgica. Ativistas ficaram presos dentro de um carrinho de supermercado gigante para chamar a atenção da sociedade acerca da relação direta entre mercadorias e trabalho forçado.

A campanha convoca consumidores a agir contra a exploração de mão-de-obra aliciada para a produção econômica em condições análogas à escravidão. “Quando você escolhe um produto no mercado, você está apoiando a forma como ele foi produzido. Se esse produto é resultado do trabalho forçado de alguém, você está encorajando a empresa que explorou os trabalhadores – mesmo que involuntariamente – a manter essa prática criminosa”, esclarece um dos textos de apresentação da iniciativa.

“Se você é como a maioria das pessoas, certamente prefere comprar produtos que foram gerados eticamente – com pessoas trabalhando em boas condições e recebendo um salário justo”, defende a campanha, que incentiva as pessoas a entrar em contato com os comerciantes locais para conhecer a procedência dos produtos, a divulgar a campanha por meio de redes e a fazer denúncias sobre casos de exploração de trabalho forçado e escravo.

O site da campanha reúne ainda uma série de histórias reais de migrantes explorados como escravos. Nascida na China, Ling foi convencida a se mudar para a Europa em busca de uma vida melhor, deixando sua família para trás em Hanuin, quando tinha apenas 19 anos. O salário prometido de € 800 foi uma ilusão. Ela não recebe pelo trabalho duro de 16 horas por dia na linha de uma fábrica têxtil e só pode deixar a fábrica para voltar ao pequeno apartamento que divide com outros seis empregados.

Assista ao vídeo da campanha:

Fora da Zona de Conforto! [27/10/09]

África subsaariana crescerá só 1,1% em 2009, prevê FMI
A África subsaariana deverá terminar este ano com um crescimento econômico de apenas 1,1%, contra 5,5% em 2008, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). A desaceleração acontece principalmente pelo grande impacto que a crise teve nos países exportadores de petróleo, como Angola.

Guarda costeira italiana resgata barco à deriva com 298 imigrantes ilegais
No barco viajavam 46 mulheres, sendo quatro grávidas, e 29 crianças. Dez dos sobreviventes da travessia foram transferidos a um hospital próximo, devido às precárias condições de saúde que apresentavam.

Polícia investiga morte de mãe com bebê no colo em favela no Rio
A polícia do Rio de Janeiro vai investigar a morte de uma mulher de 24 anos que foi atingida por um disparo nas costas quando caminhava com a filha de 11 meses no colo nas proximidades de uma favela na zona norte da cidade.

Mais de 1,5 milhão de filipinos ainda na miséria um mês após "Ketsana"
Um mês após a passagem da tempestade tropical "Ketsana", o primeiro dos dois temporais quase consecutivos que devastaram o norte da ilha filipina de Luzon, 1,5 milhão de desabrigados seguem imersos na miséria apesar da chegada de ajuda internacional.


Países pobres pagam mais por alimentos apesar da queda dos preços
"Uma em cada seis pessoas no mundo acorda sem saber se poderá comer", disse Sheeran em entrevista coletiva.

Cronologia dos piores atentados ocorridos no Iraque

No mundo encantado da Igreja Evangélica Sara Nossa Terra, o mundo vai bem, obrigado:



distante desta realidade maravilhosa, a balança injusta mata homens, mulheres e crianças:

Cronologia dos piores atentados ocorridos no Iraque

Folha Online

Pelo menos 86 pessoas morreram em uma série de explosões que atingiram Bagdá nesta quarta-feira. Mais de 300 pessoas ficaram feridas. É o pior ataque ocorrido neste ano --menos de dois meses depois da retirada dos militares americanos dos centros urbanos iraquianos--, e também um dos que que causaram mais mortes nos últimos dois anos.

2007

3 de fevereiro- A explosão de um caminhão mata 135 pessoas e fere outras 305 em um mercado de Sadriya, no centro de Bagdá.

6 de março - Insurgentes lançam um total de 12 ataques contra peregrinos xiitas. Ao todo, 137 morreram e 310 ficaram feridos.

27 de março - Um caminhão-bomba explode em Tal Afar, próximo à fronteira com a Síria e a Mosul, matando 152 pessoas.

18 de abril - Uma série de explosões deixa 191 mortos em Bagdá. Uma delas, ocorrida nas proximidades de um mercado em Sadriya, matou 140 pessoas e feriu outras 150.

28 de abril - A explosão de um carro causa 60 mortes e ferimentos em 170 pessoas em um posto de verificação em Kerbala.

13 de maio - 50 pessoas morreram e 70 ficaram feridas na explosão de um caminhão em Makhmour.

19 de junho - A explosão de um carro próximo à mesquita xiita de Khilani, no centro de Bagdá, deixou 87 mortos.

7 de julho - Um caminhão carregado com explosivos cobertos por feno explodiu em um mercado lotado na cidade de Tuz Khurmato, no norte, matando 150 pessoas e ferindo 250.

16 de julho - 85 pessoas morreram na explosão de um caminhão na cidade de Kirkuk. Ao menos 180 ficaram feridas.

2008

1º de fevereiro- Mulheres-bomba mataram 99 pessoas em ataques atribuídos à rede terrorista Al Qaeda em dois populares mercados de animais em Bagdá, no pior ataque ocorrido na cidade em seis meses.

24 de fevereiro - Em Iskandariya, 63 pessoas morreram em uma explosão que teve como alvo peregrinos que se dirigiam a um dos ritos xiitas mais sagrados em Kerbala.

6 de março - Duas bombas explodem no Distrito de Karrada --predominantemente xiita-- em Bagdá, matando 68 pessoas. Outras 120 ficaram feridas.

15 de abril - A explosão de um carro mata 40 pessoas e fere 80 do lado de fora de um edifício do governo local em Baquba, capital da Província de Diyala. Outro carro-bomba explodiu na frente de um popular restaurante em Ramadi, capital da Província de Anbar, matando 13.

17 de junho - Um caminhão explode em Al Hurriya, no nordeste de Bagdá, matando 63 pessoas e ferindo 75.

11 de dezembro - Um homem-bomba suicida detonou explosivos dentro de um restaurante curdo no norte de Kirkuk. Ao menos 50 pessoas morreram e 109 ficaram feridas.

2009

20 de junho- Uma explosão, ocorrida no momento em que multidões de adoradores deixavam a mesquita xiita de Al Rasul em Taza, próximo a Kirkuk, deixou ao menos 73 pessoas mortas e mais de 250 feridas.

24 de junho - Uma bomba matou 72 pessoas em um movimentado mercado em Sadr City, leste de Bagdá. Ao menos 127 pessoas ficaram feridas.

7 de agosto - Série de ataques contra xiitas deixa ao menos 37 mortos no Iraque.

10 de agosto- Três atentados no Iraque deixam 41 pessoas mortas.

13 de agosto- Duplo atentado deixa ao menos 17 mortos em cafeteria no Iraque.

19 de agosto - Ao menos seis explosões ocorreram próximas a prédios de ministérios governamentais e outros alvos, matando ao menos 95 pessoas e ferindo mais de 500.

7 de setembro- Ataques suicidas a forças policiais e mesquita matam ao menos 17 no Iraque.

10 de setembro- Atentado mata pelo menos 20 pessoas no Iraque.

25 de outubro- Número de mortos em atentado com carros-bomba em Bagdá ultrapassa os 130. Trata-se do pior atentado registrado em dois anos.

Por Olimpíadas, Rio optará pelo terrorismo de Estado?

Hattingen, Alemanha - Vim para participar de uma série de eventos com trabalhadores, governo e sindicatos, além de dar algumas palestras (depois explico), mas foi impossível desgrudar das notícias sobre o Rio de Janeiro e uma enxurrada de declarações preconceituosas de autoridades e “especialista” na mídia.

O tráfico de drogas, que vem crescendo rapidamente desde a década de 80 nas grandes cidades brasileiras, é a maior causa de morte entre os jovens nas periferias. A batalha acontece longe dos olhos da classe média e da mídia, que só eventualmente dão atenção ao problema: a imensa maioria dos corpos contabilizados sempre é de jovens, pardos, negros, pobres, que se matam na conquista de territórios para venda de drogas ou pelas leis do tráfico. Os mais ricos sentem a violência, mas o que chega neles não é nem de perto o que os mais pobres são obrigados a viver no dia-a-dia.

De tempos em tempos, essa violência causada pelo tráfico retorna com força ao noticiário, normalmente no momento em que ela desce o morro ou foge da periferia das grandes cidades. Ou agora, em que está em curso uma série de operações de ocupação de favelas no Rio, em que não se esconde um viés de “limpeza” social.

“Se morreram, é porque são bandidos”, disse um comandante. “Todos são suspeitos até que se prove o contrário”, afirmou outro. “Foi igual a dar tiro em pato no parque de diversões”, resumiu um policial civil. As frases são de outro momento de tensão, em 2007. Mas agentes de segurança deram declarações parecidas nos últimos dias.

A mira dos agentes de segurança no Rio deve ser tão afiada quanto a sua língua. Afinal de contas, acertar um tiro na nuca de um suspeito no meio de um confronto armado demanda muita precisão do policial. Ou é destreza ou é covardia, com o tiro sendo dado pelo representante do Estado em uma execução sumária, com a pessoa já rendida e de costas. Em 2007, a polícia chegou chegando nos morros, cometendo uma verdadeira chacina, sem diferenciar, sem perguntar. Duas dezenas de pessoas morreram. Naquele momento, o Rio optou pelo caminho mais fácil do terrorismo de Estado ao invés de mudanças estruturais para garantir os Jogos Panamericanos. Que venham, então, as Olimpíadas de 2016.

Ninguém está defendendo o tráfico de drogas (defendo a descriminalização como parte do processo de enfraquecimento dos traficantes, mas isso é história para outro post). O que está em jogo aqui é que tipo de Estado queremos.

Atacar a estrutura do tráfico e sua sustentação econômica, o que inclui também seus pontos de venda, o comércio ilegal de armas e negócios paralelos, é uma saída. Porém, será inócua se o Estado não se fizer presente (não pela força bruta e burra, como hoje) e se não houver mudanças estruturais que garantam dignidade para os moradores e outras opções de vida para os jovens que saem em um busca de um lugar no mundo todos os anos.

Mais do que uma escolha pelo crime, a opção pelo tráfico é uma escolha pelo emprego e pelo reconhecimento social. Um trabalho ilegal e de extremo risco, mas em que o dinheiro entra de forma rápida. Dessa forma, o jovem pode ajudar a família, melhorar de vida, dar vazão às suas aspirações de consumo – pois não são apenas os jovens de classe média que querem o tênis novo que saiu na TV. Ganhar respeito de um grupo, se impor contra a violência da polícia. E uma vez dentro desse sistema, terá que agir sob suas normas. Matando e morrendo, em uma batalha que para cada baixa, fica uma família.

Uma batalha que respinga em nós, que temos responsabilidade pelo o que está acontecendo, seja por nossa apatia, conivência, desinteresse, medo ou incompetência. A polícia e os traficantes puxam os gatilhos, mas nós é que colocamos as balas na agulha.

Leonardo Sakamoto no seu Blog

domingo, 25 de outubro de 2009

Entre os dias 20 deste mês e 15 de novembro, São Paulo recebe a exposição de fotos “A Humanidade em Guerra"

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São Paulo recebe, entre os dias 20 deste mês e 15 de novembro, a exposição de fotos “A Humanidade em Guerra", promovida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). A abertura da mostra acontecerá na terça-feira (20), às 19h, para convidados, e ficará disponível ao público a partir de quarta (21), na Matilha Cultural (Rua Rêgo Freitas 542 - Centro - próximo à igreja da Consolação).

As imagens da exposição, apresentada em mais de 50 países, traçam a história dos conflitos armados e suas consequências humanitárias no último século e meio, abordando eventos como a Guerra de Secessão nos Estados Unidos até conflitos e situações de violência armada da atualidade.

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Além das fotos históricas, integram a mostra imagens de James Nachtwey, Chris Morris, Ron Haviv e Franco Pagetti, da VII Agency, cooperativa com sede em Nova York. Em 2008 e 2009, cada um desses fotógrafos viajou a dois de oito países em conflito onde atua o CICV: Afeganistão, Colômbia, República Democrática do Congo (RDC), Geórgia, Haiti, Líbano, Libéria e Filipinas.

A exposição faz parte da campanha mundial "Nosso Mundo. Sua ação." (www.ourworld-yourmove.org) e marca os 150 anos da Batalha de Solferino, na Itália, que deixou mais de 38 mil vítimas. A ação de Henry Dunant durante o conflito, organizando os civis da zona para assistir os feridos, levou à criação do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.


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A campanha também lembra o aniversário de 60 anos da assinatura das Convenções de Genebra, que fundamentam o Direito Internacional Humanitário (DIH), o qual determina a distinção de objetivos militares de bens civis, atendimento aos feridos sem distinção, respeito à vida e à integridade física, respeito ao pessoal médico e ao emblema da Cruz Vermelha, entre outras resoluções.

A mostra é realizada em parceria com a Oboré Projetos Especiais com a Matilha Cultural e tem o apoio da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo (Arfoc-SP), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp).

Depois da exibição em São Paulo, a mostra segue para o Metrô no Rio de Janeiro. Em Brasília, a exposição recebeu cerca de 24 mil visitantes.

Serviço:

Exposição “A Humanidade em Guerra”

Local: Matilha Cultural (Rua Rêgo Freitas 542 - Centro - SP - próximo à igreja da Consolação)

Abertura – 20 de outubro, às 19h (para convidados)

Visitação – de 21 de outubro a 15 de novembro

De terça-feira a sábado das 12h às 20h

Entrada Franca

Fora da Zona de Conforto! [26/10/09]

Gravidez leva 10% das jovens de Cabo Verde a largar estudo
O caso mais gritante é de uma aluna do primeiro ciclo, de 15 anos, em que a própria mãe veio a uma escola da Cidade da Praia, capital do país, solicitar anulação da matrícula porque a filha, grávida, já se tinha casado com um homem de 25 anos.

Meninas e mulheres são as mais afetadas pela crise mundial
O aumento da mortalidade infantil, a redução da escolarização, o crescimento do trabalho infantil, a perda de empregos e a redução de remessas de fundos aos países de origem: esses males se abatem sucessivamente sobre meninas e mulheres, vítimas em grande escala da recessão mundial.

Especulação empurra os pobres cada vez mais pra lá
O recrudescimento das tensões entre moradores de áreas periféricas e forças de segurança em São Paulo reflete a precarização das condições de vida nas grandes cidades e a falta de políticas públicas para atender as demandas da população, mas isto não é exclusivo da capital paulistana, trata-se de um fenômeno global .

Ataque a helicóptero da PM no Rio de Janeiro “legitima” o extermínio
“A classe média, mal informada e desesperada, começa a acreditar nessa política e no extermínio como forma de diminuir a violência. Mas não sabem que isso não resolve nada. A cada 20 mortos, existem 100 para entrar no lugar. Isso porque não há mercado de trabalho”, explica Tancredo.

A economia real está corroída por um câncer
Nos EUA e na União Europeia vão ser suprimidos muitos milhões de postos de trabalho para ‘modernizar e racionalizar a produção’, avalia Urbano. Para ele, a economia real está corroída por um câncer, e gigantescas lutas sociais se esboçam no horizonte.

Saneamento privado não chega a favelas
Privatização provocou uma queda nos investimentos em água e esgoto nas áreas urbanas mais pobres do mundo, diz artigo


País de baixo IDH recebe menos remessas

O envio de dinheiro de um imigrante para seu país de origem é considerado um instrumento importante para melhorar as condições de vida nas áreas pobres

Mundo tem quase 1 bilhão de migrantes
Relatório do PNUD aponta que maioria deles (740 milhões) se desloca dentro do próprio país e só 30% emigram de países pobres para ricos

Anistia internacional

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A Chama da Anistia está em perigo no mundo inteiro.
Defenda-a. Compre uma vela ou faça uma doação.

Pobreza divide, vamos ficar juntos

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"Pobreza divide o mundo. Nossos governos têm de colocar um fim a isto até 2015. Vamos nos unir e dar um nó para lembrá-los. Stand Up! Amarre seu nó."

Stand Up Against Poverty

Albert Schweitzer - Um outro mundo que só ele vê

Rubem Alves

'É um homem grande, 1.90 de altura; obviamente, um homem forte. Seus cabelos castanhos já estão grisalhos. E tem um grande bigode. Seus olhos profundos são azuis e bondosos. E o seu piscar revela humor. Um veadinho se esfrega nele pedindo carinho e sua mão grande deixa a caneta sobre a mesa e delicadamente agrada o bichinho. Lá fora, os crocodilos algumas vezes dormem com suas enormes mandíbulas abertas. E há os hipopótamos, os pelicanos, a vegetação impenetrável que se reflete nas águas barrentas do rio.'

A aparência é de um homem sólidamente plantado nesse mundo. Mas não é verdade. Seu coração e sua cabeça se movem de acordo com uma lógica estranha de um outro mundo que só ele vê.

Nasceu em 1875, numa aldeia da Alsácia, filho de um pastor protestante. Desde muito cedo ficou claro que ele era diferente. Sua sensibilidade para a música chegava à dor. Ele mesmo conta que, à primeira vez que ouviu duas vozes cantando em dueto - ele era muito pequeno ainda - ele teve de se encostar na parede para não cair. Outra vez, ouvindo pela primeira vez um conjunto de metais ele quase desmaiou por execesso de prazer. Com cinco anos começou a tocar piano. Mas logo se apaixonou pelo órgão de tubos da igreja na qual o seu pai era pastor. Aos nove anos já era o organista oficial da igreja, e tocava para os serviços religiosos.

Sentimento amoroso idêntico lhe provocavam os animais. Ele relata que, mesmo antes de ir para a escola, lhe era incompreensível o fato de que as orações da noite que sua mãe orava com ele apenas os seres humanos fossem mencionados. 'Assim, quando minha mãe terminava as orações e me beijava, eu orava silenciosa-mente uma oração que compus para todas as criaturas vivas' : Oh, Pai, celeste, protege e abeçoa todas as coisas que vivem; guarda-as do mal e faz com que elas repousem em paz.'

Ele conta de um incidente acontecido quando ele tinha sete ou oito anos de idade. Um amigo mais velho ensinou-o a fazer estilingues. Por pura brincadeira. Mas chegou um momento terrível. O amigo convidou-a a ir para o bosque matar alguns pássaros. Pequeno, sem jeito de dizer não, ele foi. Chegaram a uma árvore ainda sem folhas onde pássaros estavam cantando. Então o amigo parou, pôs uma pedra no estilingue e se preparou para o tiro. Aterrorizado ele não tinha coragem de fazer nada. Mas nesse momento os sinos da igreja começaram a tocar, ele se encheu de coragem e espantou os pássaros.

Seu amor pelas coisas vivas não era apenas amor pelos animais. Ele sabia que por vezes era preciso que coisas vivas fossem mortas para que outros vivessem. Por exemplo, para que as vacas vivessem os fazendeiros tinham de cortar a relva florida com ceifadeiras. Mas ele sofria vendo que, tendo terminado o trabalho de cortar a relva, ao voltar para a casa, as suas ceifadeiras fossem esmagando flores, sem necessidade. Também as flores têm o direito de viver.


Também não podia contemplar o sofrimento dos animais em cativeiro. 'Detesto exibições de animais amestrados. Por quanto sofrimento aquelas pobres criaturas têm de passar a fim de dar uns poucos momentos de prazer a homens vazios de qualquer pensamento ou sentimento por eles.'


O nome desse jovem era Albert Schweitzer. Doutorou-se em música, tornou-se o maior intérprete de Bach da Europa, dando concertos continuamente. Doutorou-se em teologia e escreveu um dos mais importantes livros de teologia desse século. Doutorou-se também em filosofia, e era professor na universidade de Estrasburgo, sendo também pastor e pregador.

Schweitzer tinha tudo aquilo que uma pessoa normal pode desejar. Ele era reconhecido por todos. Mas havia uma frase de Jesus que o seguia sempre: 'A quem muito se lhe deu, muito se lhe pedirá.' E, aos vinte anos, ele fez um trato com Deus. Até os trinta anos ele iria fazer tudo aquilo que lhe dava prazer: daria concertos, falaria sobre literatura, sobre teologia, sobre filosofia. Ao trinta anos ele iniciaria um novo caminho. E foi o que ele fez. Aos trinta anos entrou para a escola de medicina, doutorou-se em medicina, e mudou-se para a África, para tratar de uns pobres homens atacados pelas doenças e abandonados. E lá passou o resto de sua vida.

É preciso entender que Schweitzer não era só um médico curando doentes. Ele não se conformaria com isso. Dentro dele viviam a música, a filosofia, o misticismo, a ética. Schweitzer sabia que somente o pensamento muda as pessoas. E o que ele mais desejava era descobrir o princípio que vivia encarnado nele. E ele conta que foi numa noite - ele e remadores navegavam pelo rio para chegar a uma outra aldeia - seu pensamento não parava - e ele se perguntava - 'qual é o princípio ético?. De repente, como um relâmpago, apareceu na sua cabeça a expressão: reverência pela vida. Tudo o que é vivo deseja viver. Tudo o que é vivo tem o direito de viver. Nenhum sofrimento pode ser imposto sobre as coisas vivas, para satisfazer o desejo dos homens.

Há algo estranho na psicologia de Schweitzer. Um dos maiores desejos da alma humana - de todos - é o desejo de reconhecimento. Na Europa Schweitzer era admirado universalmente: organista, filósofo, teólogo, escritor. Aos vinte e poucos anos seu nome já era símbolo. Aí toma uma decisão que o levaria para longe de todos os olhos que o admiravam: a absoluta solidão de uma aldeia miserável. Hoje uma decisão como a dele seria imediatamente notada: os jornais e a televisão logo fariam brilhar a sua imagem de Cavaleiro Solitário - e ele apareceria como heroi. Seria grande, imensamente grande na sua renúncia! Também as renúncias podem ser motivo de vaidade! ( A esse respeito relembro a última cena do filme O Advogado do Diabo. Merece ser visto de novo. )Mas ele opta pela invisibilidade, a solidão, longe de todos os olhos e de todos os aplausos.. Isso só tem uma explicação: ele era, antes de tudo, um místico. O que lhe importava não era a brilho narcísico mas a consciência de ser verdadeiro com o princípio de 'reverência pela vida', o seu mais alto princípio religioso.

Esse princípio, Schweitzer viveu intensamente. Não é difícil ter reverência pelas coisas fracas, a relva, os insetos, os animais. Fracos, eles não têm o poder de nos resistir. Difícil é ter reverência pelos homens fortes, que se encontram ao nosso lado. Jesus ordenou 'amar o próximo'. Porque é fácil amar o distante. O próximo é aquele que está no meu caminho, que tem o poder de me dizer não. Mais difícil que amar os doentes, que são carência pura, fraqueza pura, dependência pura, mendicância pura, é amar aqueles que estão ao meu lado e que são tão fotrtes quanto eu. Reverência pelos que estão ao meu lado. Se Schweitzer se relacionou com os pobres negros doentes por meio da compaixão, ele se relacionou seus próximos, iguais, companheiros de hospital por meio de amizade. E ele formula, na sua Ética, o princípio de que 'um homem nunca pode ser sacrificado para um fim.'

Schweitzer não era um ser desse mundo. Talvez ele tenha compreendido isso e que essa tenha sido uma das razões porque ele saiu do mundo civilizado, se embrenhando nas selvas da África. No mundo civilizado, das organizações, será possível ter reverência pelo próximo? Na lógica das organizações não há 'próximos' nem amigas. A lógica das organizações diz: 'cada funcionário é apenas um meio para o fim da organização, não importa quão grandioso ele seja! Nas organizações os sinos das igrejas não tocam para impedir que o pássaro seja morto.'
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