segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Perguntar não ofende.


Ricardo Gondim

Há perguntas que são teimosas. Elas insistem em ressoar no peito da gente e, por mais que tentemos, não calam.

Por que houve um interesse imenso dos Estados Unidos e da Inglaterra de liberar o Iraque de um ditador sanguinário e não se percebe o mesmo interesse com o Haiti que vive a desordem? A violência é menos perversa ali? Será que o governo norte americanos não consegue ouvir com o mesmo cuidado o clamor de um povo que vive a menos de quinhentos quilômetros de sua fronteira? Eles já não haviam aprendido a se condoer com a sorte de quem vive do outro lado do mundo?

Por que as igrejas evangélicas norte-americanas não se lembraram das palavras de Jesus: “Quem com a espada fere, com a espada será ferido? Ou bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus?” Como sal e luz, os pastores não deveriam ter lembrado ao Presidente Bush nos muitos Cafés da Manhã que a Casa Branca promoveu, que ele iniciaria um ciclo interminável de violência? Quem é mais responsável pelos mais de cem mil iraquianos mortos, mais de mil e duzentos soldados americanos que já foram enterrados? A política atrapalhada dos políticos ou os profetas que se calaram?

Por que no Texas conservador e fundamentalista a taxa de divórcios é maior do que em Massachusetts que é liberal e tolerante? Quais os valores morais mais importantes para se eleger um presidente? As reivindicações dos homossexuais de se casarem ou a destruição do sistema ambiental? O aborto de fetos ou o avanço endêmico do HIV na África? As medidas protecionistas que destroem nações inteiras ou propagandas sensuais na televisão? O que os evangélicos consideram vital para que o seu país seja cristão? Um monumento de pedra na porta de um tribunal com os Dez Mandamentos? Uma volúpia consumista? Por que a falta de autocontrole e gula não são combatidos com veemência? Por que um país que diz experimentar um avivamento religioso, apresenta os maiores índices de obesidade mórbida do planeta? E que esses obesos são, inclusive, os próprios cristãos?

Por que o PT não aproveitou sua imensa popularidade e promoveu as grandes mudanças estruturais que o Brasil precisa? Será que os votos dados ao Lula não foram um clamor para que não continuássemos com a política promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso de boa convivência com as elites? O Lula precisava continuar beijando a mão das oligarquias que sempre se locupletaram no poder? Será que George Orwell pensou no Brasil quando escreveu o seu Animal Farm?

Por que se fala muito em redistribuição de renda no Brasil e não há nenhuma ação concreta para reverter os mais escandalosos modelos concentradores de riqueza do mundo? Para onde vão os impostos arrancados de trabalhadores que, sem poderem contornar, contemplam seus salários minguarem em fatias cavalares? Por que os que se dizem mais patriotas não aceitam tocar em seus privilégios?

Por que se prega tanto prosperidade nas igrejas evangélicas e a grande maioria do povo continua pobre? Desde que as igrejas neo-pentecostais começaram a falar de riqueza, já não dava tempo para alterar algum índice nacional? Os salários continuam achatados ou os crentes estão escondendo a suas fortunas?

Algumas perguntas são teimosas e continuarão ecoando. São elas que acabam por abater os poderosos. E elas precedem o brilho do sol da justiça. Então, mesmo que não estejamos sendo ouvidos, continuemos questionando.

Soli Deo Gloria.

Um comentário:

Ela disse...

Tomo emprestado do Grande Euclides
da cunha essa resposta.Ele não está
mais entre nós mas o Sol da justiça
que brilhou quando ele estava vivo ainda brilha nesses versos :

Ninguém lê; ninguém escreve; ninguém pensa. A mofina literária (a realidade de hoje)nacional traduz-se,naturalmente, numa vasta poliantéia, a 100 réis por linha. De todo absorvidos no
presente, às voltas com seus interessículos, estes homens, tão descuidados do futuro,
ainda menos curam o passado; e decerto não escutarão a grande voz do historiador.
Entretanto, quero crer que ainda haverá meia dúzia de espíritos capazes do esforço
heróico de um rompimento com tanta frivolidade. E entre estes me alinharei.
EUCLIDES DA CUNHA (Carta a Oliveira Lima)

Pastor Ricardo obrigado pelo texto.

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