sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O egoísta esclarecido e a prosperidade universal

Paulo Brabo - Bacia das Almas

Bendito seja Dostoiévski, que colocou na boca do personagem mais detestável de Crime e Castigo um discurso que faz hoje a cabeça de ainda mais gente do que no tempo dele:

«Não, não se trata de lugar comum, meu senhor! Se até agora, por exemplo, diziam-me para ‘amar o meu próximo’ e eu o amasse, qual seria o resultado? O que acontecia é que eu rasgava a minha túnica em dois, compartilhava-a com o meu próximo e ficávamos os dois meio nus, em concordância com o provérbio russo que diz que quem corre atrás de muitas lebres fica sem nenhuma.»

«Porém a ciência diz: ‘ama-te a ti mesmo acima de tudo, porque tudo no mundo está fundamentado no interesse próprio’. Se você ama a si mesmo conduzirá os seus assuntos sensatamente, e a sua túnica permanecerá uma única peça. A verdade econômica acrescenta que quanto mais sensatamente conduzidos são os negócios pessoais e, por assim dizer, mais túnicas inteiriças há na sociedade, mais firmes são as suas fundações e melhor arranjada a sua causa comum.»

«Conclue-se que ao beneficiar economicamente única e exclusivamente a mim mesmo, estou dessa forma precisamente beneficiando economicamente a cada um, por assim dizer, e trabalhando para que o meu próximo tenha mais do que uma túnica rasgada, não mais como resultado de generosidades particulares e isoladas, mas como resultado da prosperidade universal.»

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