quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Nem no inferno!



Robinson Cavalcanti

Faz de conta que não existe uma (des)Ordem Internacional com um centro e uma periferia, com um monopólio geopolítico e um oligopólio geoeconômico, e que a nossa soberania nacional está afirmada. Faz de conta que o Congresso Nacional representa a nossa pirâmide social, com a eleição dos mais votados, com suplentes de senadores por nós conhecidos e escolhidos, sem o (ab)uso do poder econômico, e que o nosso Estado Nacional é a expressão da soberania popular.

Faz de conta que não somos uma sociedade perversamente estratificada, e que não existe milhões de oprimidos e milhões de excluídos, vivendo na miséria, ou eufemisticamente, “abaixo da linha de pobreza”… Faz de conta que não somos uma sociedade de classes, e que não há choque de interesses.

Faz de conta que a nossa segurança pública concorre com a Suíça, a nossa saúde pública com a Suécia e a educação pública com o Reino Unido. Faz de conta que não há falta de saneamento básico, falta de moradia, falta de transporte público, que temos uma excelente malha ferroviária, que as hidrovias são aproveitadas e que as rodoviárias não conhecem buracos.

Faz de conta que a nossa imprensa é livre, isenta e honesta.

Faz de conta que a “base aliada” não é a aliança entre os estamentos que chegam e as oligarquias que estão onde sempre estiveram… desde as Capitanias Hereditárias.

Faz de conta que não precisamos de um Projeto Nacional, e que escolhemos em livres e acirradas eleições primárias os candidatos aos cargos executivos, e que não iremos escolher os que escolheram para que nós escolhêssemos.

Faz de conta que há uma oposição real ao atual Governo, exceto o pitoresco e o picaréstico da tentativa de ressuscitar fantasmas da Guerra Fria.

Assistindo aos debates entre os chamados “principais” candidatos (“confiáveis” aos donos do poder) parece que vivemos no melhor dos mundos. Surge a clássica pergunta: Que País é esse?

Com tudo varrido para debaixo do tapete, sem que a desconcentração do poder, da propriedade, da renda e do poder sejam levados em consideração, muito menos o empoderamento (e a opinião) dos sem voz e sem vez, a paralisia pragmática diante da popularidade do presidente-mito em formação, com seu neo-populismo, vamos nos arrastando na monotonia e no falso confronto sobre as personalidades e sobre o periférico.

Que prometem esse(a)s caras? Um Projeto de País? Não, um remedinho a mais, uma escolinha a mais, um assistencialismo a mais, ou seja, mais do mesmo, e não uma alternativa ao mesmo.

Escutando bem, parecem candidatos não à Presidente da República, mas a (macro) Prefeito, como bons gerentes do Estado (quando muito) assistencialistas, quando parece ter triunfado a ideologia do ex-ditador boliviano general Hugo Bazer: “Tornar os pobres mais ricos, sem tornar os ricos mais pobres”. Pois sim!

Confesso que o filme O Bem Amado (remake da novela inesquecível interpretada por Paulo Gracindo), com o meu sósia, me pareceu mais interessante e mais educativo do que o Programa Eleitoral Gratuito, os candidatos plastificados ou pitorescos e a ditadura dos marqueteiros.

Entre seis vs. meia dúzia vs. duas vezes três, teremos o nosso Presidente-Prefeito.

Eleição chata e engessada assim, nem no inferno!

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