quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Deus e deuses


Quando uma pessoa me diz que não acredita em Deus ou afirma categoricamente que Deus não existe, pergunto: De que Deus você está falando? Isso é necessário, pois dependendo do Deus referido eu também não acredito


A hipótese de que por detrás de nomes diferentes, como Alá e o Deus de Jesus, todos nós adoramos e veneramos a um único e mesmo Deus, e que só o reconhecimento desse fato pode nos trazer a paz entre as religiões e civilizações, é contestada por Jung Mo Sung: “Se é verdade que por detrás de nomes diferentes que nomeiam a Deus, ou deuses, nós adoramos a um único e mesmo Deus, deve ser também verdade que por detrás de diversas imagens de Deus dos cristãos adoramos e veneramos ao mesmo e o único Deus. Entretanto, eu tenho muita dificuldade para aceitar e acreditar que por detrás do nome de Deus de Jesus Cristo invocado para legitimar os massacres contra os indígenas na América Latina ou para legitimar torturas nas ditaduras militares esteja o mesmo Deus invocado pelas vítimas ou cristãos que morreram lutando contra os massacres ou torturas. Pois, se assim fosse, não haveria o problema das falsas imagens de deuses e nem o da idolatria. Todas as imagens de Deus de Jesus invocadas – sejam para matar os inocentes (imagem sacrificial de deus), sejam para defender as vítimas (Deus que pede misericórdia, ao invés de sacrifício; Mt 9,13) – remeteriam a um único e verdadeiro Deus. E, portanto, não haveria uma diferença qualitativa entre elas. O que é logicamente um absurdo e teologicamente um erro.

Se nem os cristãos, quando usam o nome do Deus de Jesus, estão se referindo a um único e mesmo Deus, como podemos dizer que por detrás de diversos nomes divinos de diversas religiões está um único e o mesmo Deus? Com esse questionamento eu não estou defendendo a idéia de que existem realmente diversos Deuses – e que assim o politeí¬smo estaria certo e o monoteísmo errado -, muito menos a tese de que o cristianismo é a única religião que conhece, adora e anuncia o único Deus verdadeiro. O que eu quero apontar é que as “coisas” são muito mais complexas do que essa equação que, aparentemente, simplifica e facilita o diálogo religioso e a construção de paz no mundo.

Hoje, as guerras no Oriente Médio são feitas ou legitimadas, em boa medida, em nome da vontade divina. Só que por detrás de “deus de Bush” ou do “deus do Al-Qaeda” não está o único e o mesmo Deus. Os defensores da “guerra santa” – dos mundos cristão, judaico ou islâmico – o fazem em nome das imagens de deus que eles veneram. Só que a imagem de deus não é Deus! Quem mata em nome da imagem de deus confunde a imagem com o próprio Deus e comete, segundo a tradição bíblica, o pecado da idolatria. O problema é que nós não podemos conhecer a Deus como ele é, somente as imagens que fazemos dele”.

A esse entendimento de Jung Mo Sung, acrescento minha convicção de que qualquer imagem a respeito de Deus encontra em Jesus Cristo seu gabarito e padrão para validação. “Jesus Cristo é a imagem do Deus invisível”, como bem disse Paulo apóstolo. Pois Jesus “é o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” (Colossenses 1.15-19).

Nisto consiste a fé cristã: enxergar Deus através de Jesus, na verdade, enxergar Deus em Jesus, o que, necessariamente, nos coloca de joelhos diante de Jesus Cristo, em adoração ao próprio Deus.

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