terça-feira, 15 de março de 2011

Fome: Fazer a opção pelo pequeno é sonhar grande


Jacques Diouf, presidente da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), alertou hoje para o risco de uma crise alimentar nos países em desenvolvimento semelhante à que ocorreu entre 2007 e 2008 devido ao aumento no preço da comida. Enumera entre motivos, o aumento no preço do petróleo, utilizado não apenas no transporte mas intensivamente na produção de fertilizantes.

Em Roma, sede da FAO, especialistas que monitoram as safras mundiais afirmam que a produção nos principais países exportadores está dentro do esperado. E as lavouras nos países consumidores pobres também, garantindo um mercado interno para regular o preço dos alimentos. Vale lembrar que, no ano passado, a Rússia criou um limite para exportação de grãos, restringindo o comércio para garantir o abastecimento interno. Isso foi visto, por parte da comunidade internacional, como uma ação desnecessária, com potencial de afetar o preço e, portanto, contribuir com o desabastecimento de localidades pobres.

Contudo, mais do que um problema pontual, desenha-se uma crise estrutural por uma razão simples: a oferta não cresce na mesma velocidade que a demanda. Países em desenvolvimento inserem milhões de bocas na cadeia de proteína animal, pessoas que não comiam passam a fazer mais de uma refeição por conta dos desenvolvimento econômicos de seus países, por exemplo.

O mundo está acordando para o fato de que é necessário mais apoio para a produção agropecuária. O que não significa apenas garantir mais produtividade através de tecnologia (que, se por um lado, gera mais alimentos, por outro cria uma dependência econômica onde antes não havia – como o caso dos transgênicos). Ou amenizar a guerra de subsídios. Mas também discutir que tipo de modelo será capaz de garantir a segurança alimentar para bilhões de pessoas no desenrolar deste século.

De acordo com a FAO, o aumento na produção de alimentos terá que ser da ordem de 70% para suprir uma população de 9 bilhões de pessoas em 2050. Quem vai produzir essa comida extra? Segundo as Nações Unidas, os pequenos produtores e suas famílias (que representam cerca de 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo) têm um papel fundamental, atuando com menos impacto trabalhista, social e ambiental e sustentando eles próprios que são os primeiros a passarem fome. Há muita gente querendo plantar no Brasil e em outros países, principalmente na África, onde a questão da fome tem contornos dramáticos. Só lhes falta terra, recursos, escoamento, capacitação, tecnologia.

Em outras palavras, aquele quinhão básico de oportunidade que uns têm tanto e outros nada.

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