Fonte - A Bacia das Almas
Se houvesse sobre a terra uma fé tão grande quanto é a recompensa de
fé aguardada no céu, nenhuma de vocês, amadas irmãs, desde o momento em
que conheceram o Senhor e aprenderam [a verdade] sobre sua própria
condição [isto é, a condição feminina], teria desejo por um estilo de
vestimenta vistoso demais (para não dizer vaidoso demais).
Usariam, ao contrário, vestes humildes, de modo a transmitir uma
aparência miserável, andando pelo mundo como Eva arrependida e de luto, a
fim de através de toda veste de penitência expiar de modo mais completo
aquilo que [cada uma de vocês] deriva de Eva:Você persuadiu aquele que o diabo não foi corajoso o bastante para atacar. a vergonha, quero dizer, do primeiro pecado, e a infâmia da perdição humana.
“Multiplicarei grandemente a dor da tua concepção e em dor darás à
luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.”
E vocês não sabem que são, cada uma de vocês, uma Eva? A sentença de
Deus sobre o sexo de vocês persiste nesta era; necessariamente, a culpa
persiste também.
Você, mulher, é o portão de entrada do inferno; é a descerradora da
árvore [proibida]; é a primeira desertora da lei divina. Você persuadiu
aquele que o diabo não foi corajoso o bastante para atacar. Você
destruiu, e de modo tão frívolo, a imagem de Deus, que é o homem. Como
consequência da sua deserção – isto é, a morte, – até mesmo o Filho de
Deus teve de morrer.
E você pensa ainda em adornar-se acima e além de sua túnica de pele?
Ora, imagino que se no princípio do mundo os milesianos já criassem
ovelhas, os serianos já fiassem árvores, os tirianos já tingissem, os
frígios já bordassem com a agulha e os babilônios com o tear; se pérolas
já cintilassem, se pedras de ônix já reluzissem e se o ouro já tivesse
brotado do solo; se o espelho já tivesse se tornado coisa tão comum,
então Eva, mesmo depois de expulsa do paraíso, mesmo depois de morta,
teria também cobiçado todas essas coisas.
Não mais, portanto, a mulher deve agora desejar ou conhecer, se é que
deseja voltar a viver, aquilo que quando viva não possuía nem conhecia.
Todas essas coisas são a bagagem da mulher em seu estado de condenação e
morte, instituídas como que para acentuar a pompa de seu funeral.
Tertuliano (160-220 d.C.), pai da igreja,
em Sobre a indumentária feminina
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