Fonte: A Bacia das Almas
Porque há esperança para a árvore,
que, se for cortada, ainda torne a brotar,
e que não cessem os seus renovos.
Ainda que envelheça a sua raiz na terra,
e morra o seu tronco no pó,
contudo ao cheiro das águas brotará,
e lançará ramos como uma planta nova.
O homem, porém, morre e se desfaz;
sim, rende o homem o espírito, e então onde está?
Como as águas se retiram de um lago,
e um rio se esgota e seca,
assim o homem se deita, e não se levanta;
até que não haja mais céus não acordará
nem será despertado de seu sono.
Jó 14:7-12
que, se for cortada, ainda torne a brotar,
e que não cessem os seus renovos.
Ainda que envelheça a sua raiz na terra,
e morra o seu tronco no pó,
contudo ao cheiro das águas brotará,
e lançará ramos como uma planta nova.
O homem, porém, morre e se desfaz;
sim, rende o homem o espírito, e então onde está?
Como as águas se retiram de um lago,
e um rio se esgota e seca,
assim o homem se deita, e não se levanta;
até que não haja mais céus não acordará
nem será despertado de seu sono.
Jó 14:7-12
Terra, longevidade, descendentes e uma vida feliz é o que a aliança
promete aos israelitas. Os profetas transmitem o mesmo conceito. Amós
lembra seus ouvintes que Israel estabeleceu um contrato com YHWH,
selado por um juramento. Ele está descrevendo o que se pode chamar de
uma ação judicial divina, iniciada para preservar um acordo não honrado
por uma das partes. Oséias usa a metáfora de um casamento que se
deteriorou; trata-se evidentemente de uma outra obrigação contratual
selada por um juramento. Deus contempla periodicamente a ideia A resposta que Jó recebe não é que os caminhos de Deus são inescrutáveis; isso ele já sabia.de processar o seu cônjuge adúltero e de pedir o divórcio.
É só no livro de Jó que é articulada a noção oposta, a de que seres
humanos podem legitimamente processar Deus pela falha de cumprimento de
suas obrigações contratuais. Para que esse argumento seja logicamente
convincente, não pode existir a ideia de uma vida de natureza
substancial depois da morte. Se houvesse vida de natureza substancial
depois da morte, o sofrimento de Jó não bastaria para uma ação judicial
legítima e válida contra a divindade. Se houvesse vida depois da morte,
Jó estaria justificado em dizer que está sendo falsamente acusado por
seus amigos e que sua aflição é dolorosa, mas não poderia colocar em
dúvida a justiça divina, porque o resultado não estaria completo nesta
vida. É por isso que a noção de sheol está presente no livro de Jó – não uma recompensa ou punição pós-morte, mas a mera eliminação final de almas.
[...]
O leitor contemporâneo reage muito mal ao modo como dominador Deus
aparece e silencia Jó atestando a sua insignificância. Queremos uma
resposta justa, igualitária, democrática em que todos tenham os mesmos
direitos, poderes e possibilidade de resposta. Exigimos uma resposta de
Deus ao seu tratamento inclemente da inocência de Jó. Queremos ouvir que
a família de Jó não sofreu por causa dele. Queremos saber porque Deus
permite o mal neste mundo.
Jó, no entanto, tem objetivos menos ambiciosos. O que ele quer é
apenas chamar Deus ao tribunal. Não somos capazes de apreender quão
vertiginoso é esse seu pedido: a presença de Deus enquanto Jó está vivo.
E esse vertiginoso pedido é exatamente aquilo que é concedido a Jó. A
resposta é precisamente aquela que ele tinha esperança de ter, mas não
tinha o direito de esperar. A resposta que Jó recebe não é que os
caminhos de Deus são inescrutáveis; isso ele já sabia. A resposta é que
Deus é tão misericordioso que se permite ser levado ao tribunal e
processado. Deus na verdade comparece voluntariamente ao seu próprio
tribunal a fim de dar testemunho, e mostra-se mais misericordioso do que
qualquer monarca do Oriente Médio.
A Jó é permitido ver Deus – se não diretamente, a partir do
redemoinho, – e ele não precisa sequer ascender ao céu para fazê-lo. Ao
contrário os outros viajantes celestes do antigo Oriente Médio, é Deus
que vem até Jó. Assim, embora fique aterrorizado e assombrado diante do
poder de Deus, Jó sai do tribunal justificado. E o texto sustenta que
pelo menos um inocente teve suas reinvidicações ouvidas depois de seu
sofrimento, e nesta terra. Esperamos tanta coisa mais que acabamos
perdendo de vista a afirmação que o texto faz.
Alan F. Segal, em Life After Death
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