sábado, 26 de setembro de 2009

Deus e o homem, parceiros de um trato: A Liberdade

"Questiona-se a razão de Deus não dizer: "Eu sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó" mas disse: "Eu sou o Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó." A resposta a é que esta esposição sistemática indica que duas pessoas não tem o mesmo Deus, que Deus é sempre uma experiência pessoal para cada ser humano."
Pag. 145

"O homem cria a si mesmo no processo histórico que começou com seu primeiro ato de liberdade - a liberdade da desobediência - de dizer não. Esta corrupção é inerente à própria natureza da existência humana. Somente passando pelo processo de alienação o homem consegue superá-lo e alcançar uma nova harmonia.
Pag. 134, 135

A interpretação cristã, tanto dos atos humanos de desobediência como da sua "queda", obscureceu o significado claro da história. O texto bíblico nem mesmo menciona a palavra "pecado". Tendo sido expulso do Jardim do Édem, ele começa a sua vida de independência; seu primeiro ato de desobediência é o princípio da história humana, porque é o início da liberdade do homem.
Pág. 44


Na verdade,se o homem adorar apenas um ídolo e não muitos, ainda assim seria um ídolo e não Deus. De fato, convenhamos, com que freqüência o culto a Deus não é nada além do que o culto a um ídolo disfarçado no Deus da Bíblia, não é verdade?

A compreensão do que um ídolo é, começa com o entendimento do que Deus não é. Deus, como o seu supremo valor, não é homem, estado, instituição, natureza, poder, possessão, poder sexual ou algum artefato feito pelo homem. As afirmações "Amo a Deus", "Sigo a Deus", "Quero me tornar semelhante a Deus" - significa antes de tudo "Não amo, não sigo e não imito a ídolos".

Um ídolo representa o objeto central da paixão humana(...) .

Os homens transfere suas paixões e virtudes para o ídolo. Quanto mais ele empobrece maior e mais forte se tornou o ídolo. O ídolo é a forma alienada da experiência humana de si mesmo. No culto ao ídolo, o homem cultua a si mesmo. (...) perde sua totalidade como ser humano e para de crescer. Ele é dependente do ídolo, uma vez submetido a ele, encontra a sombra, não a essência de si mesmo.

O ídolo é uma coisa, não é vivo. Deus, ao contrario é vivo. (...)O homem tentando ser como Deus, é um sistema aberto, assemelhando-se a Deus; o homem submetido aos ídolos é um sistema fechado transformado numa coisa. (...)A contradição entre a idolatria e o reconhecimento de Deus é em última análise, aquela que existe entre o amor á morte e o amor a vida.
Pág. 72-74

O Deus "vivo" não pode ter nome.

O âmago da essência de um ídolo é que ele tem um nome; todas as coisas têm nome por serem completas no tempo e no espaço. Para os judeus, acostumados ao conceito da idolatria, um Deus que não tem nome é uma contradição em si mesmo. (...) Apenas ídolos podem ter nomes, porque são coisas. O Deus "vivo" não pode ter nome.

(...) A proibição bíblica de qualquer tipo de representação divina, e contra o uso do nome de Deus em vão, significa que alguém pode falar com Deus em oração, relacionar-se com Deus, mas não pode falar a respeito de Deus a fim de que não transforme Deus em um ídolo.
Pág. 56

Porém o ponto decisivo aqui é o fato de Deus fazer uma aliança(berit), simbolizada pelo arco-íris com Noé e seus descendentes. (...)Com a conclusão da aliança, Deus deixa de ser o legislador absoluto. Ele e o homem tornam-se parceiros de um trato.(...) É importante salientar que a primeira aliança é aquela entre Deus e a humanidade, não entre Deus e os homens.
Pág. 46, 47

"O ídolo é a forma alienada da experiência humana de si mesmo. No culto ao ídolo, o homem cultua a si mesmo."

Como homem que sou
Tenho em comum,
O ver, o ouvir,
O comer, o beber,
Com todos os animais.
Mas como pessoa, sou exclusivo.

Sou meu e de ninguém mais
De nenhum outro homem,
Nem mesmo de um anjo ou de Deus,
Pois sou de Deus a imagem.

Erick Fromm - O Antigo Testamento - Uma Interpretação Radical

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