domingo, 27 de setembro de 2009

Sudão: comunidades no sul enfrentam a violência e o deslocamento, enquanto a população em Darfur ainda precisa de apoio

Enquanto na Igreja Sara Nossa Terra, o Bispo Rodovalho declara que os Filhos de Deus terão independência financeira e abundância:

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... já no Sudão homens, mulheres e crianças sofrem na pele a independência humana que nunca receberam. Que Deus é este que olha para Sara Nossa Terra e não olha para estas crianças?

Os confrontos no sul do Sudão mataram centenas de pessoas e deslocaram milhares de outras pessoas este ano. Enquanto isso, em Darfur, as operações militares diminuíram notoriamente, mas o banditismo continua aumentando. Jordi Raich Curco é chefe das operações do CICV no Sudão. Ele descreve a situação e a resposta da organização.

Como está a atual situação no sul do Sudão?

Os confrontos entre comunidades têm acontecido no sul do país há algum tempo, sobretudo em partes remotas dos estados de Jonglei e Upper Nile, em lugares como Akobo, Nasir e Pibor. A violência cobrou as vidas de pelo menos 1.200 pessoas e deslocou mais de 20 mil desde o início do ano. Os civis, principalmente mulheres e crianças, se tornam cada dia mais objeto de ataques.

A chuva chegou tarde este ano e o índice pluviométrico foi muito baixo também, dificultando ainda mais para as pessoas obrigadas a fugir dos confrontos e para os moradores das comunidades que os acolhem. As pessoas que já estavam vulneráveis enfrentam agora um sofrimento extra, já que perderam seus meios de subsistência quando foram obrigadas a abandonar seus campos. É difícil para o governo ou agências humanitárias chegarem a essas pessoas, já que a segurança é quase sempre muito volátil, a região é remota, a infraestrutura de transporte é deficiente e o terreno se torna ainda mais difícil de se negociar durante a temporada de chuvas.

O que o CICV tem feito para ajudar as pessoas afetadas pela violência no sul do Sudão?

Até o momento, o CICV tem ajudado a quase 17 mil pessoas em Akobo e Nasir e estamos enviando uma equipe de avaliação a Pibor. Essas parecem ser as três áreas mais necessitadas.

Na primeira semana de setembro, o CICV distribuiu sementes, ferramentas e kits de pesca doados pela Organização para Agricultura e Alimentos a cerca de 15 mil deslocados em Akobo, para que eles possam recuperar sua autosuficiência e alimentar suas famílias de novo.

Poucos dias depois, uma barca do CICV trouxe 22 toneladas de material de necessidade urgente como lençóis plásticos para abrigos temporários, roupas, sabão e outros utensílios domésticos de emergência. Enquanto isso, uma equipe do CICV consertava várias torneiras e uma bomba 'água para distribuir água potável a dez pontos de água na cidade.

Em Nasir, uma barca do CICV entregou sementes, equipamento de pesca e utensílios domésticos básicos a 1.500 pessoas cujas casas haviam sido queimadas durante um ataque em junho.

Os confrontos em Pibor também deslocaram comunidades e uma equipe do CICV está atualmente aí para avaliar a situação dessa população. O CICV decidirá o que precisa ser feito aí com base nos resultados apresentados por esta equipe.

O senhor pode comentar os relatórios sobre mais ataques do Exército de Resistência do Senhor próximos à fronteira com a República Democrática do Congo?

Os novos ataques e confrontos começaram em dezembro de 2008, depois de Uganda e o Exército de Resistência do Senhor não terem assinado o cessar-fogo. Os ataques atribuídos ao Exército de Resistência do Senhor tiveram como objetivos civis em quatro países: Sudão, Uganda, República Democrática do Congo e República Centro Africana. Depois de um período de relativa calma, o combate foi retomado no final de julho, com ataques a aldeias na Província Oriental da República Democrática do Congo e na fronteira da República Centro Africana com o sul do Sudão. No Sudão os ataque nas cidades de Ezo, Source Yubo e Tambura no estado de Equatoria Ocidental levaram a deslocamentos, perda de vidas e destruição de bens. De acordo com números das Nações Unidas, o combate resultou no deslocamento de mais de 66 mil sudaneses e obrigou a quase 17 mil congoleses a buscar refúgio em campos no sul do Sudão desde o início deste ano.

Os ataques separaram famílias e o CICV está rastreando os parentes de mais de cem crianças congolesas refugiadas, algumas das quais a organização reuniu com suas famílias na República Democrática do Congo. As equipes do CICV consertaram as bombas d'água e outras fontes de água para refugiados congoleses em Sakure, Sangua e Gangura, e recursos semelhantes para deslocados sudaneses em Ezo e Naandi. Em Makpandu, o CICV doou uma bomba d'água submergível para o ACNUR e perfurou três poços artesianos em Maridi. O CICV também distribuiu utensílios domésticos essenciais para famílias deslocadas nessas áreas.

Como o CICV vê essa situação em Darfur? É verdade que o conflito terminou, como algumas organizações têm declarado?

Ainda não houve um acordo de cessar-fogo ou de paz entre as partes beligerantes. Isso significa que ainda existe um conflito armado não-internacional não resolvido. No entanto, o nível de violência armada e o número de grandes operações militares diminuíram notoriamente se comparado a 2003 e 2004. Houve sinais de encorajamento, como a participação do CICV na entrega de 60 prisioneiros, que estavam detidos pelo Movimento Justiça e Igualdade, ao governo sudanês. Estão sendo realizadas negociações em vários países e esperamos que isso traga paz a Darfur.

Dito isso, têm ocorrido vários confrontos armados em Darfur este ano, que resultaram em novos deslocamentos da população. O aumento no índice de banditismo é motivo de crescente preocupação. As pessoas na região sofrem mais, porém as agencies de socorro também são afetadas. Até o momento, houve quatro sequestros de pessoal humanitários e alguns ainda estão em andamento. Não podemos nos esquecer de que essas pessoas vieram a Darfur para ajudar as pessoas afetadas pelo conflito.

Apesar dos perigos, o CICV continua com seu trabalho em Darfur?

O Sudão continua sendo a maior operação do CICV no mundo. Conseguimos muitas coisas, apesar dos problemas de segurança e de acesso. Além de prestar assistência emergencial pós-conflito armado, o CICV ajuda as comunidades remotas a manterem seus meios de subsistência tradicionais. Este ano, 400 mil pessoas receberam sementes e ferramentas antes da temporada de chuvas para poderem plantar sua própria produção. Também começamos um projeto de multiplicação de sementes em cooperação com institutos de pesquisa agrícola em três cidades. Em áreas remotas nômades de Darfur, continuamos organizando a vacinação de até 850 mil cabeças de gado contras cinco doenças principais.

Outra prioridade é dar às pessoas acesso à água potável em partes remotas da região, onde nossas equipes de água e saneamento estão renovando e fazendo a manutenção de pontos de água rurais e urbanos para atender mais de um quarto de milhão de pessoas e treinando comitês locais de água. Também prestamos cuidados sanitários para mais de 90 mil pessoas em dez centros de saúde primários apoiados pelos CICV em áreas remotas, onde tais serviços não estão disponíveis devido à falta de segurança e outros problemas. Com o apoio dos voluntários do Crescente Vermelho sudanês, continuamos fornecendo água, saneamento e um centro de saúde para mais de 131 mil deslocados no campo de Gereida. Com o apoio da Cruz Vermelha britânica e a australiana, estamos cuidando de crianças desnutridas por meio de um programa de alimentação terapêutica no centro de nutrição.

O CICV também está recolhendo e distribuindo centenas de Mensagens Cruz Vermelha com notícias familiares em Darfur.

O mais importante é mencionar que o CICV também monitora alegações de violação ao Direito Internacional Humanitário e compartilha suas descobertas com todas as partes envolvidas no conflito. Ao mesmo tempo, lembramos a todos envolvidos de suas obrigações poupar os civis durante os conflitos armados.

Fonte: Cruz Vermelha

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