sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Brasil: o celeiro (e a lata de lixo) do planeta

Blog do Sakamoto

“Uma cerimônia em Pequim celebrou os dez anos da parceria estratégica ‘Lixo por Comida’ no qual os países da região do Saara recebem o lixo produzido na China em troca da oportunidade oferecida aos cidadãos da região de vasculhar restos de alimentos nos contâiners e usarem a sucata para os mais diversos utensílios.

O Saara e a Antártida são os dois últimos grandes depósitos terrestres vagos de lixo no planeta. O custo mais baixo de despejar resíduos no deserto africano manteve uma vantagem produtiva para as empresas sediadas na China após o espaço do deserto de Gobi ter se esgotado. Na semana passada, a cidade de São Paulo fechou o mesmo acordo com a prefeitura de Gilbués, no Piauí.”

A notícia é falsa – por enquanto. Tempos atrás, fiz um post com um exercício de futurologia pensando em matérias sobre impactos ambientais possíveis de serem publicadas daqui a uns 70 anos. Alguns me chamaram de idiota pela previsão. Concordo plenamente. Chutar 70 anos foi muito.

Leiam o trecho de uma notícia publicada pelo Uol Notícias:

“O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) divulgou nesta terça-feira (17/08) a apreensão de 22 toneladas de lixo doméstico interceptados no Porto de Rio Grande (RS). O material estava em um contêiner vindo da Alemanha e com descrição de resíduo plástico industrial. Em uma fiscalização de rotina, fiscais da Receita Federal encontraram pacotes de fraldas, embalagens de alimentos e restos de ração para animais. A carga, que saiu do porto de Hamburgo, foi apreendida no último dia 3 de agosto.”

Ou, ainda, o trecho de outra, publicada na Folha de S. Paulo há pouco mais de um ano:

“A Receita Federal e o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul investigam o desembarque de 64 contêineres carregados com cerca de 1.200 toneladas de lixo tóxico, domiciliar e eletrônico nos portos de Rio Grande (RS) e Santos (SP). Na documentação entregue nas alfândegas, consta que a carga seria de polímero de etileno e de resíduos plásticos, que deveriam ser usados na indústria de reciclagem. No entanto, além de sacolas plásticas, havia papel, pilhas, seringas, banheiros químicos, cartelas vazias de remédios, camisinhas, fraldas, tecido e couro, dentre outros. Moscas e aranhas também foram encontradas nos contêineres. O que chamou a atenção é que em um dos contêineres havia um tonel com brinquedos onde estava escrito: ‘Por favor: entregue esses brinquedos para as crianças pobres do Brasil. Lavar antes de usar’.”

Já é prática recorrente países ricos se livrarem do seu lixo, seja ele doméstico, tóxico ou eletrônico, mandando-o para a periferia do planeta (onde as reclamações são ignoradas ou abafadas com dinheiro ou violência). Periferia que produz alimentos e matérias-primas e fica com o que é descartado. A Convenção de Basiléia regula o trânsito de lixo entre países para impedir aberrações. Mas, convenhamos, só é crime se você é descoberto.

Fica a dúvida: quanto tempo vai demorar até a notícia falsa se tornar o jornal velho que, ao invés de ir para o lixo, embrulha o peixe na feira? E, o pior: feira de onde? Provavelmente de algum lugar na África, Sudeste da Ásia ou América Latina.

(Em Gana, por exemplo – vídeo em inglês)



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