domingo, 31 de julho de 2011

Uma Guerra Com Propósito

Paulo Roberto Purim


Rick Warren é atualmente o pastor que o maior número de pastores gostaria de ser. A igreja dele, a Saddleback Church em Lake Forest na Califórnia, é a comunidade evangélica mais fashion, mais badalada e, pelos padrões aceitos, mais bem-sucedida da atualidade. Todas as grandes igrejas evangélicas do Brasil sonham tornar-se uma Saddleback, e algumas estão conseguindo.

A unanimidade do sucesso de Rick Warren é, de fato, difícil de ignorar. O sáite pastors.com (fundado por Rick Warren) conta parte da história:

“Ele e sua esposa Kay deram início à igreja em sua própria casa, em janeiro de 1980, com apenas uma família. Hoje em dia, com um freqüência de 16.000 pessoas por final de semana e mais de 50.000 membros arrolados, Saddleback (...) já recebeu o título de igreja batista de crescimento mais rápido na história e de maior igreja da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos. Nos últimos anos 9.200 novos crentes foram batizados em Saddleback. A igreja deu também início a 34 igrejas-filhas, e enviou mais de 4.000 de seus membros em projetos missionários ao redor do mundo.”

Rick Warren é também o fundador da hoje onipresente franquia Igreja Com Propósito™, que tem tomado de assalto o mundo evangélico, levando Peter Drucker a premiá-lo com o título de “inventor do reavivamento perpétuo”. O livro Uma Igreja Com Propósito (publicado no Brasil pela Editora Vida) vendeu mais de um milhão de cópias em 2o idiomas, tornou-se livro de cabeceira de milhares de pastores, é adotado como livro texto em grande parte dos seminários e foi eleito um dos 100 livros cristãos que mudaram o século XX.

Um sucesso tão unânime, beirando a canonização, não deve fazer bem a ninguém. Não li Uma Igreja Com Propósito, mas devo confessar que antipatizo de cara com o conceito mercantilista de franquia, do pacote pronto indiscriminadamente aplicável, do elixir para todos os males – ainda mais quando propõe-se a atacar algo tão precioso e imponderável quanto os mecanismos que impulsionam a causa de Cristo.

No embalo da recente invasão do Iraque, Rick Warren escreveu um artigo chamado O Que a Bíblia diz Sobre a Guerra, publicado recentemente nO Jornal Batista. Este eu li, e o que li me leva a questionar tudo que sei sobre a bandeira Uma Igreja Com Propósito. Não me apresso a achar defeitos em ninguém, mas tudo que li no artigo de Warren deixou-me indignado ao ponto da fúria: a pretensão do título, a exegese rasa, a leviandade do tratamento dos temas, as absurdas conclusões, as impensáveis conseqüências.

Se não, peço do leitor paciência para percorrer o artigo comigo. A tradução e os comentários são meus. O copyright do texto original é, sem sombra de dúvida, de Rick Warren.

O que a Bíblia diz Sobre a Guerra? por Rick Warren

Romanos 12:18 diz “se possível, no que depende de vocês, vivam em paz com todos”. Creio que a Bíblia é muito prática nesse ponto. Ela diz “no que depende de vocês... enquanto for possível no que diz respeito a vocês, vivam em paz com todos”. Entretanto, acho que isso implica que às vezes é impossível viver em paz com todos. Você já conheceu alguém com quem – não importa o que você fizesse – você não conseguia se dar bem? Não importava o que você fizesse, essa pessoa não podia ser apaziguada. A Bíblia diz “se possível”. Se alguém abusasse dos meus filhos e abusasse da minha esposa, eu não teria paz com essa pessoa de forma alguma. Não creio que Deus esperasse que eu vivesse em paz com ela.


O texto de Romanos 12 é apenas o primeiro que Rick Warren usa surrealmente fora de contexto para justificar a guerra. Na passagem citada Paulo está falando de relacionamento entre pessoas, não entre nações. A “paz” que Paulo menciona aqui não é o oposto de guerra, mas apenas ausência de conflito interpessoal. A tonalidade geral da carta deixa claro Paulo não esperava que quando a “paz com todos” não fosse possível nós invadíssemos a casa de todos, abríssemos fogo contra todos, matássemos todos.

É evidente que não é possível viver em paz com todos. Jesus disse que deveríamos de fato lamentar quando temos a aprovação de todos, porque esse foi o tratamento que receberam os falsos profetas no passado. Eu mesmo, depois do que sei agora, não quero saber de viver em paz com o Rick Warren.

Importante é destacar que o texto de Romanos 12 (e o de Tiago, citado logo a seguir) estão falando do relacionamento entre pessoas. Não há como usar a terminologia e os argumentos deles para justificar uma guerra entre nações. O único modo de fazer isso é distorcendo a mensagem; usando o texto fora de contexto, como se ouve nos seminários.

A retórica de Warren, além de perigosa, é mesquinha. “Você já conheceu alguém com quem você não conseguia se dar bem?”, é a pergunta amigável que ele faz. É lógico que, para todo mundo, a resposta é sim. A conclusão lógica e necessária, pela ótica manipuladora de Warren, é que esse singelo motivo é suficiente para justificar a guerra. É quase compreensível o sofisma: se a moça do xerox se recusa a me dizer bom dia, que invadam o Iraque. Os pecadores acabam morrendo de qualquer jeito, não fará muito mal matá-los de uma vez.

O que dizer então da guerra?

Primeiro temos de analisar as verdadeiras causas da guerra.

A Bíblia diz que duas coisas causam a maior parte das guerras: egoísmo e orgulho. Tiago 4.1-2 (na versão da Bíblia de Jerusalém) diz, “De onde vêm as guerras e batalhas que há entre vocês? Não vêm precisamente dos desejos lutando dentro de vocês mesmos? Vocês querem uma coisa e não tem, por isso estão dispostos a matar. Vocês tem uma ambição que não conseguem satisfazer, então lutam para abrir caminho à força”.


Outro texto arrancado completamente do seu contexto. Agora é Tiago quem está falando de relações entre pessoas, e para reforçar a sua imagem compara conflitos de relacionamento com as “guerras” e “batalhas” que nações promovem entre si.

Warren está certo, naturalmente, em dizer que pessoas e nações lutam pelos mesmos motivos. É isso na verdade que dá força à comparação de Tiago. O problema é que na passagem citada a guerra é mencionada como efígie de um conflito lamentável, profundamente negativo, desencadeado pelos motivos mais sórdidos. Isso Warren escolhe ignorar.

“A guerra entre pessoas”, é como se Tiago estivesse dizendo, “é tão lamentável quanto a guerra entre nações, e desencadeada pelos mesmos motivos egoístas”. Warren conclui, não se sabe por onde, que Tiago está produzindo um argumento a favor da legitimidade da guerra.

Onde quer que haja uma batalha entre duas nações, uma batalha entre dois negócios, uma batalha entre empregador e empregado, sindicato e empregador, marido e mulher, pai e filho, onde quer que haja conflito, alguém (talvez ambas as partes) estão exibindo egoísmo ou orgulho. Eu quero do meu jeito. Você quer do seu. Nós entraremos em conflito.


Não me incomoda que Warren não ache desnecessário dizer o óbvio. Eu na verdade gostaria que ele tivesse expandido o seu raciocínio nesse ponto. Gostaria que ele tivesse ido mais fundo.

Ele poderia por exemplo ter escolhido esclarecer alguns pontos que me intrigam no seu raciocínio. Nesta guerra em particular, por exemplo, que papel tem o egoísmo de cada uma das partes? De que lado está o orgulho? Ele poderia ter tentado fornecer também uma resposta à velha pergunta, pode uma coisa boa ser justificada pelos motivos errados? Os fins justificam os meios? Porque os iraquianos são tão egoístas e orgulhosos? A qual das partes aplica-se a frase de Tiago “vocês querem uma coisa e não tem, por isso estão dispostos a matar?”

Lembro de ter lido uma história sobre Abraham Lincoln. Ele estava descendo uma rua com dois de seus filhos, que estavam ambos chorando e frustrados. Um homem que passava perguntou “o que há de errado com esses garotos?” Ele disse “Só o que está errado com o mundo. Tenho três nozes e cada um deles quer duas”.


Quando leio o que Rick Warren escreveu, usando a inevitável anedota de sermão em meio à discussão da mais séria das questões, eu é que me sinto tentado a perguntar: o que há de errado com esses garotos? Se a metáfora se aplica a duas civilizações, uma delas cristã, a quem caberia o papel de abrir mão das suas nozes? Quem deveria entregar a capa? Quem deveria andar com ele duas? De que Warren está falando? Com quem ele está falando?

É, em alguma circunstância, correto lutar?

Sim! Há circunstâncias em que esse é o menor de dois males. Há ocasiões em quem é apropriado e ocasiões em que não é apropriado. Eclesiastes 3.8 diz “há tempo de guerra e tempo de paz”. A Bíblia é muito realista. Algumas vezes a guerra é a coisa certa.


Eclesiastes 3 também diz que há tempo de matar e tempo de atirar pedras, e eu tive vontade de apedrejar o Rick Warren, com primeira pedra e tudo, quando li o que ele acaba de dizer. O que ele diz e sugere aqui é imperdoável vindo de qualquer um; vindo de um líder cristão com a estatura e a influência dele, é abominável.

Não, minha gente. Se resta em alguém ainda alguma dúvida, deixe-me deixar logo claro: em ocasião alguma a guerra é a coisa certa. Nunca a guerra é a coisa certa. Jamais. E a Bíblia em lugar algum diz o contrário.

A poesia existencialista de Eclesiastes não está justificando a guerra, muito menos o amor. O autor do livro de Eclesiastes (basta ler o capítulo todo) é um mero observador, distanciado e quase cético, da realidade. Ele não emite julgamento nenhum, apenas conclui pela observação que tudo se repete, que não há nada de novo debaixo do sol. A paz sucede a guerra, a guerra sucede a paz, o ódio sucede o amor, o amor sucede o ódio e assim sempre tem sido.

Nisso ele está muito certo. Não há nada de novo debaixo do sol. As nações continuam encontrando todo tipo de justificativa para a guerra. Continuam encontrando apoio nos lugares mais inesperados.

A Bíblia é, sim, muito realista. Ela deixa claro que as pessoas são julgadas pelos seus atos. Ela adverte que todo ato tem consequências. Ela não hesita em ensinar que só o tolo se apressa em responder “sim” à pergunta “é correto lutar?”

A Bíblia é muito realista a esse respeito. Há muitos, muitos exemplos na Bíblia em que Deus ordena uma guerra; onde Deus diz “vão à guerra!” Quando vocês olha para os grandes heróis da fé de Hebreus 11 – Josué, Davi, Gideão, Sansão – esses caras foram todos guerreiros.


Não preciso enfatizar a irresponsabilidade que é dispensar um assunto tão complexo nesse único e apressado parágrafo. Fato inegável: Deus de fato ordenou guerras. Fato inegável: apenas Deus (como Jó aprendeu arduamente) não precisa apresentar justificativas para o que faz. Deus ordenou que Abraão sacrificasse Isaque, e isso não justifica o assassinato do filho de ninguém. As leis do Pentateuco estabelecem leis que regem o relacionamento entre servos e senhores, e isso não justifica a escravidão.

Deus também estabeleceu que os profetas que falassem besteira em seu nome fossem apedrejados até a morte. Isso eu gostaria que ainda estivesse valendo.

Quando estuda o ministério de Jesus você vê que ele nunca disse a um soldado romano para abandonar o exército. Se Jesus tivesse sido um pacifista integral cada vez que visse um soldado ele teria dito “Deixe o exército! Venha me seguir”. Mas ele nunca disse que era moralmente errado que eles servissem o exército. Na verdade, em Mateus 24.6 ele disse que sempre haveria guerras até que o Príncipe da Paz voltasse.


Nada do que Rick Warren escreve nesse artigo deixou-me tão indignado quanto este parágrafo. Aqui, senhoras e senhoras, ele está falando de Jesus. Ninguém mexe com Jesus e fica impune. Jesus é o cara. Ele é o Senhor. Ele é perfeito. Ele é justo. Jesus, que quando insultado não abriu a sua boca. Jesus, por cujas pisaduras nós fomos sarados. Jesus, que disse a Pilatos “o meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo meus servos estariam lutando neste momento para que eu não fosse entregue aos da Judéia”. Envolvê-lo, usá-lo nessa discussão é para lá de sórdido. É para lá de pecaminoso. É satânico.

Não sei o que acho mais abominável no raciocínio que Warren desenvolve nessas linhas lamentáveis. É possível que seja a pachorra com que ele sugere que o Príncipe da Paz pode talvez não ser um pacifista. Talvez seja a insensata sugestão de que, como haverá guerras até que Jesus volte, as guerras são justificáveis. Não é difícil justificar o pecado usando o mesmo raciocínio capenga.

Jesus disse que sempre haverá pobres, por isso não preciso fazer nada a respeito. A Bíblia diz que todos pecaram, por isso não fique me olhando com essa cara. Jesus disse que o amor de muitos esfriará, talvez seja por isso que o amor de Rick Warren, e o meu, estão esfriando.

Admiro (no mau sentido) a coragem de Rick Warren em argumentar com esse “Jesus nunca disse que era moralmente errado que...” Isto é, literalmente, demais. O autor de Uma Igreja Com Propósito orienta que fundamentemos nossos julgamentos naquilo que Jesus não disse. Certamente é mais fácil do que viver pelo que ele disse.

Desnecessário lembrar que Jesus nunca disse que era moralmente errado um monte de coisas. Jesus nunca disse expressamente que é errado beber, fumar, usar drogas, devastar florestas, exterminar espécies, produzir clones, falsificar dinheiro, dançar, comer demais, subornar, masturbar-se, chantagear, fraudar eleições, cometer estelionato, aborto, estupro, pedofilia, lançar bombas nucleares, invadir países, homem usar brinco. Algumas dessas coisas, fica claro pelo que ele disse, são erradas. Moralmente erradas. Intrinsecamente erradas. Não justifica que ele nunca tenha se pronunciado oficialmente a respeito. Estou convicto de que a guerra é uma das coisas intrinsecamente erradas que a posição de Jesus condena.

Na verdade, não importa. O que Jesus disse expressamente é que é moralmente errado distorcer o sentido da Escritura para justificar uma agenda pessoal (ou, pior, institucional).

Para Jesus todas as escolhas são pessoais. Tecnicamente, para Jesus, um país não tem como entrar em guerra. Não haveria nem como discutir isso com ele. Entidades artificiais como “países”, “nações”, “reinos” não tinham existência real na ótica dele. Eram mera metáfora para o que ele se propunha fazer. “A que posso comparar o reino de Deus?” era uma pergunta que ele se fazia sempre, e era difícil achar uma comparação que as pessoas pudessem entender. Para Jesus só havia pessoas, pessoas fazendo escolhas, escolhas pelas quais eram responsáveis. Todo o resto, ilusão que ele não se demorava em ignorar.

É por isso que Jesus não condenava (pelo que sabemos) instituições como o exército romano, o império romano ou a adoração de ídolos. Ele tinha mais com o que se preocupar, e mais o que fazer. O seu foco era tremendamente outro. Dizer que Jesus aprovava o exército como instituição porque nunca mandou que um soldado romano abandonasse a farda é o mesmo que dizer que ele aprovava o paganismo porque nunca mandou um romano quebrar um ídolo.

É bobo. É mesquinho. É injusto para com todos, especialmente para com Jesus.

Desnecessário lembrar que no tempo de Jesus todos os judeus, por convicções religiosas, não serviam o exército. Hoje, e por lealdade a Jesus, ignoro quantos fazem o mesmo.

Então, será que Jesus era um pacifista? Acho que não era NÃO! Por duas vezes no Novo Testamento ele limpou o templo à força. A Bíblia diz que ele fez um açoite, entrou e limpou o templo. Ele não pediu com educação, “minha gente, por favorzinho, saiam daqui?” Ele forçou-os a sair.


Warren conclui que Jesus não era pacifista porque usou de meios violentos para expulsar os vendedores do templo. Com a mesma sobriedade, e com quase o mesmo raciocínio, ele poderia ter concluído que Jesus não estava sendo motivado pelo amor quando fez isso. A questão é, mais uma vez, confundir uma iniciativa individual ( e portanto única), motivada pelo amor, com uma iniciativa institucional (injustificável já por ser institucional) motivada (como ele admite) por egoísmo e orgulho. A não ser que ele queira que acreditemos que os Estados Unidos estão punindo o Iraque como um pai castiga o filho, uma relação do tipo “está doendo mais em mim do que em você”.

Talvez, se eu estivesse perto o suficiente da igreja de Saddleback, eu devesse arrancar a chicotadas o Rick Warren de lá, com um açoite que eu mesmo teria o maior prazer em fazer. Talvez valesse até a passagem de avião.

Só não o faço, no fim das contas, porque acredito em apenas dois templos: o de Jerusalém, que foi demolido e era metáfora do verdadeiro, e o do Espírito Santo, no qual não se entra com açoite. A única pessoa que se pode expulsar de lá de dentro é o próprio Espírito Santo, e ninguém precisa de ajuda de fora para fazer isso.

Deus não julga os atos das nações, só os atos das pessoas. As nações não tem iniciativa, não tem motivos, não tem escolha, não podem ser culpadas de omissão – não têm existência real. As pessoas têm. Para Deus só existem pessoas.

* * *

Até aqui acompanhei o texto de Warren parágrafo por parágrafo.

Eu havia me disposto a cobrir o artigo todo, mas depois de um certo ponto fiquei enojado e cansado demais para continuar. Worn out, como dizem os americanos. Quero e preciso lutar em outras arenas. Os interessados poderão lamentar o texto na íntegra na internet ou nO Jornal Batista.

Bastará que eu resuma o terreno que faltava cobrir. Para Warren a guerra é, sim, justificável quando se trata de “preservar a liberdade”, “proteger pessoas inocentes” e “impedir a propagação do mal”. E, mérito seu, ele tem fé suficiente para acreditar que a matança da guerra seja capaz de fazer essas coisas.

Ele revela que um dia o mundo terá paz permanente, mas apenas quando Jesus Cristo voltar.

À pergunta “esta é a guerra final?” ele responde com enigmáticas maiúsculas “NÓS NÃO SABEMOS, mas pode ser”.

Mais interessante é a sessão final, em que Warren se pergunta “como deveríamos nós, como cristãos, reagir à guerra?” As quatro respostas que ele sugere quase não me surpreendem: primeiro, devemos orar; segundo, devemos confiar em Deus; terceiro, devemos buscar a paz (não entre as nações, ele se apressa em deixar claro, mas em círculos mais inferiores como a igreja e a família); e quarto, apoiar uns aos outros.

Ou seja, a reação que Warren propõe é nenhuma reação. Ele quer que usemos a tática de despistamento que Tiago lamenta no segundo capítulo de sua carta: “se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” Ele quer que nos façamos de desentendidos e ignoremos que algo sério está acontecendo. Há uma guerra em andamento? Não tema, meu irmão, estou orando a respeito!Há inocentes morrendo? Não se preocupe, confio que Deus está no controle! Estou em paz com Deus! Estou apoiando as tropas!

Minha sentença: Rick Warren é mais culpado do que qualquer iraquiano fanático que esconde bananas de C4 debaixo da túnica; é mais culpado que qualquer americano que está nesse momento puxando o gatilho para matar alguém. Pior do que fazer a guerra é justificá-la sentado numa poltrona confortável na frente de um laptop. Tratar de cauterizar a consciência de todos, inclusive a sua própria; esconder a sujeira debaixo do tapete, da vista de quase todos, e conseguir dormir depois disso.

Em última instância, a guerra se trata da dura decisão de matar pessoas. Matar gente, seres humanos. Guerra é matar gente. Cabe a cada um desenvolver suas próprias justificativas para fazer isso.

O que a Bíblia diz sobre a guerra é não matarás.

O que a Bíblia diz sobre a guerra é bem-aventurados os pacificadores.

O que a Bíblia diz sobre a guerra é houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes tranqueiras.

Ora, achou-se nela um sábio pobre, que livrou a cidade pela sua sabedoria; contudo ninguém se lembrou mais daquele homem pobre.

Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força; todavia a sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas.

As palavras dos sábios ouvidas em silêncio valem mais do que o clamor de quem governa entre os tolos.

Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra; mas um só pecador faz grande dano ao bem.

Eclesiastes 9.14-18


Resposta de Josh Warren, filho de Rick Warren:

Saudações, Paulo,

Li o seu artigo sobre o artigo do meu pai a respeito da guerra. Não sei realmente o que dizer, sinto que você veja as coisas dessa forma. Conheço o meu pai e conheço o coração dele e o seu amor pelos pastores e pelas pessoas que sofrem ao redor do mundo. Quero encorajá-lo a ler Uma Igreja Com Propósito; eu enviarei de bom grado uma cópia gratuita se você quiser antes de tomar sua decisão final. Obrigado pela sua opinião, embora muitas das palavras e declarações que você fez foram pessoalmente insultuosas e injustas.

Que Deus abençoe você e o seu ministério. Por favor me avise se você quiser uma cópia gratuita, tenho até mesmo em português se você quiser.

Bençãos,

Josh Warren
pastors.com

Resposta à resposta de Josh Warren:

Josh,

Obrigado por sua resposta bondosa e pacífica. Por favor, acredite, não tenho nada pessoal contra o seu pai ou contra os Estados Unidos.

Tenho muitos, muitos amigos entre os cristãos americanos, e alguns dos meus heróis pessoais são na verdade americanos – alguns deles lutaram na Segunda Guerra Mundial. Não duvido da sinceridade do amor do seu pai, da humildade dele, da sua devoção ou da sua preocupação com os que sofrem. Por favor não duvide da minha. Minha indignação é apenas contra o uso das Escrituras para justificar uma guerra não provocada. Não preciso comparar a invasão do Iraque às Cruzadas, ou a democratização do Iraque à conversão forçada; sei que o assunto é muito mais complicado que isso. Mas o seu pai, mais do que qualquer um, deveria ter tido isso em mente antes de se pronunciar a respeito de um tema tão delicado. Rick Warren, o bondoso e maravilhoso ser humano que você conhece, é admirado demais, e a esta altura você já deve ter percebido você mesmo que ser admirado é uma benção mista, um terrível privilégio. Ele não pode se dar ao luxo de expressar sua opinião superficialmente. É injusto, mas é o preço da notoriedade involuntária.

Eu teria de ter permanecido quieto se seu pai tivesse dado a opinião dele sem citar passagens selecionadas da Escritura para justificar o seu ponto de vista. O que minha exegese fez foi apenas demonstrar que as coisas não são tão simples quanto da forma que seu pai as colocou. Eu mesmo não estou livre de self-righteousness [arrogância decorrente de pretensa superioridade moral], como a excessiva vaidade da minha retórica comprova além de qualquer dúvida. Tudo é apenas sério demais, e a guerra é devastadora demais.

De qualquer modo, basta para mim saber que você leu. Agora é mais fácil para mim voltar a amar vocês.

Voltemos a nos concentrar no amor e na paz. Tentemos torná-los possíveis novamente.

“Quando for possível...”

Que Deus abençoe vocês todos nessa mais confusa e cansativa das horas. Que Deus abençoe o que resta dos nossos ministérios que permanece intocado pela nossa vaidade.

Paz,

Paulo

Ei, tenho acesso a uma cópia de Uma Igreja Com Propósito. Posso até chegar a ler um dia desses.


Paulo Roberto Purim, de Curitiba.
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