Não consigo ainda deixar de me perguntar se nestes dias em que tão
vasta proporção da humanidade está mergulhada no materialismo, Deus não
deseja que haja homens e mulheres que entregaram-se a ele e a Cristo e
permanecem apesar disso fora da igreja.
De qualquer modo, quando penso no ato pelo qual eu entraria na igreja
como algo concreto, que pode acontecer num futuro próximo, nada me dá
mais dor do que a idéia de separar-me da imensa e desafortunada multidão
de descrentes. Tenho a necessidade essencial, creio que pode-se dizer a
vocação, de andar entre homens de todas as classes e feições,
misturando-me a eles e compartilhando de sua vida e perspectiva na
proporção que a consciência permite, mesclando-me à multidão e
desaparecendo no meio dela, para que eles se mostrem a mim como são,
removendo todos os seus disfarces diante de mim. Isso porque desejo
conhecê-los de modo a amá-los como são. Pois se eu não amá-los como são,
não será a eles que estarei amando, e meu amor será irreal.
Simone Weil, em carta de 19 de janeiro de 1942 ao padre Perrin
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