domingo, 22 de maio de 2011

10 motivos para não ser cristão (mesmo sendo a coisa certa a se fazer)

Paulo Brabo

Ser cristão requer, como sugiro às vezes, estômago forte. Embora seja para todos, definitivamente não é para qualquer um.

Houve tempo em que para ser socialmente aceito no Ocidente era requisito mostrar certificado de batismo. Hoje em dia, graças aos céus, não é mais assim: ninguém mais precisa ser cristão só por ser a coisa politicamente correta a se fazer. Há porém motivos adicionais para você abandonar essa idéia de seguir consistentemente os ensinamentos de Jesus, se é que você se preocupa com essas coisas.

Selecionei dez; deve haver mais.
10 MOTIVOS PARA NÃO SER CRISTÃO
  1. PUREZA DE MOTIVOS. Algumas religiões, menos ambiciosas, exigem um comportamento exterior impecável. O cristianismo requer pureza interior de motivos, que é coisa muitas vezes mais difícil de alcançar e que talvez ninguém seja capaz de apresentar. De acordo com Jesus, não basta fazer a coisa certa, é necessário fazê-lo com a motivação correta. E, talvez pior e mais comum: basta contemplar com simpatia a maldade para ser culpado dela.
  2. DESAPEGO A COISAS MATERIAIS. Poucas coisas caracterizaram a pregação cristã desde o início mais do que um selvagem desapego a riquezas e outras distrações palpáveis. “Não ajuntem tesouros na terra”, recomendava a análise econômica de Jesus, que lembrava ainda que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu. Os primeiros cristãos acreditaram: venderam tudo que possuíam e deram aos pobres, e do que restava a cada um “ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo lhes era comum” (Atos 4:32).
  3. RENÚNCIA AO PODER. Problema semelhante está na exigência, reforçada continuamente no Novo Testamento, de humildade e da renúncia de todos privilégios, mesmo (ou especialmente) os merecidos. “Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo” (Mateus 20:25-26). Mesmo quando a humildade era vista como virtude politicamente correta e ambição como vício de caráter, poucos efetivamente se dobravam a essas duras exigências. Que dirá hoje.
  4. AMAR OS INIMIGOS. O Antigo Testamento exigia o razoável: que tratássemos nossos vizinhos com civilidade, mesmo quando não o mereciam – comportamento que garantia, com certa medida de esforço, um mínimo de coesão na sociedade. Jesus perdeu aparentemente todo o senso de proporção quando pediu que amássemos nossos inimigos e intercedessemos diante de Deus pelos que nos odeiam. De nada adianta amarmos o que nos amam, argumentava ele, porque os mais vis salafrários fazem o mesmo. Todo mundo ama quem o ama, e Jesus queria mais do que esse pacote básico: pedia singelamente que fôssemos “perfeitos como Deus é perfeito” – que fôssemos graciosos como Deus, que derrama o sol e a chuva sem distinção sobre bons e maus – sobre merecedores e cafajestes (Mateus 5:45,48). Essa sua exigência permanece tão impopular hoje quanto quando foi proferida pela primeira vez – talvez ainda mais, já que só restamos nós cafajestes e ninguém mais se dá ao trabalho de fingir-se de merecedor.
  5. PERDOAR PARA SER PERDOADO. O Pai de Jesus não é dado a barganhas, mas essa, curiosamente, ele não se esquiva em fazer. O perdão é gratuito desde que ousemos estendê-lo aos outros com a mesma disposição cavalheiresca. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:14,15). Como se vê, somos todos imperdoáveis, mas a culpa não é de Deus.
  6. PUREZA SEXUAL. O sexo não era para os judeus a neura que se tornou para os através dos cristãos, mas uma boa medida de consistência na conduta sexual sempre foi medida da experiência cristã. Com o tempo, e por motivos que não cabe discutir aqui, o pecado sexual tornou-se no discurso cristão o pecado por excelência. Hoje em dia o sexo fora do casamento é, na prática, a única conduta aberta não-tolerada numa comunidade cristã evangélica. Ambição, ganância, mentira e rancor são bem-vindos a olhos vistos, mas se for para você for acordar na cama errada ou acalentar pensamentos impuros faça como o resto de nós e não dê bandeira. A única coisa que Jesus tem a dizer sobre esses assuntos é, continuamente, “quem não tem culpa no cartório atire a primeira pedra” – e “vá e não peques mais”.
  7. PRATICAR A VIRTUDE. É crença fundamental do cristianismo que somos salvos da condenação não como compensação pelos nossos esforços no sentido de praticar o bem, mas pela iniciativa gratuita e infundada de Deus, que resolve nos dar de presente o que ninguém teria como fazer por merecer. Apesar disso, a ênfase na prática ultrapassada da virtude – fazer o bem sem olhar a quem – é tecla em que batem continuamente os escritores do Novo Testamento. Como se sabe, a virtude e a integridade são vistas hoje como fraqueza e vício, e é politicamente incorreto sequer mencioná-las num contexto positivo. A lei de Gérson revogou essas curiosidades da história.
  8. SEREMOS JULGADOS PELOS NOSSOS ATOS. “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mateus 16:27). Parece contradição, mas o ensino do Reino é o de que somos aceitos pela graça (isto é, não pelos nossos próprios esforços em fazer o que é certo) mas seremos julgados – pasme-se – pela nossa conduta. De um modo misterioso, basta abraçar a graça para ser aceito incondicionalmente por ela (como aconteceu a um dos ladrões na cruz); por outro lado, não basta, e o discurso de Jesus requer uma tremenda consistência na conduta pessoal. “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6:46).
  9. A INSENSATEZ DA GRAÇA. Como se os escândalos retromencionados não bastassem, há o terrível constrangimento de que para ser cristão é preciso engolir a insensatez da graça – a crença na atitude cavalheiresca e generosa pela qual Deus aceita e abraça quem nós mesmos excluiríamos e condenaríamos de imediato, irreversivelmente e com toda a convicção. Nossa tendência natural é olhar os desprezíveis com desprezo, nunca com misericórdia. Aceitar quem não merece ser aceito não é apenas terrivelmente exigente, é conduta que convida ao mais impiedoso ostracismo social. Ninguém respeita quem não se dá ao respeito, e o cristianismo exige que engulamos a peculiaríssima noção de que “a substância da nossa fé consiste na convicção de que foras-da-lei, pecadores e criminosos podem chamar Deus de Pai, e de que prostitutas podem entrar no reino de Deus antes dos religiosamente respeitáveis” (Brennan Mannigan). Ser cristão é admitir um Deus que não se dá ao respeito. Um Deus sem critério. Um Deus vulgar. Definitivamente, não é para quem tem estômago fraco.
  10. EXIGE A VIDA INTEIRA. Finalmente, ser seguidor de Jesus requer viver como ele viveu, o que não é pouco, considerando como ele terminou. “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio,” disse Jesus aos seus primeiros seguidores, e os mais espertos dentre eles logo interpretaram a sentença, corretamente, como querendo dizer “eu os envio para darem suas vidas [por quem não merece o esforço]”. Ser cristão requer, infelizmente, tudo, a vida inteira, o tempo todo e até o fim. Não há meio-termo, meias-palavras, trégua ou feriado semanal. “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33). Segundo a mensagem cristã, no entanto, não há de fato barganha maior do que perder a vida, porque “quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará” (Lucas 17:33).
Mas trata-se, convenhamos, do ensino de um sujeito idealista que dizia coisas como “ninguém tem maior amor do que dar a vida pelos seus amigos”. Se houve um mundo em que esse convite pode ter parecido menos popular, é o nosso.

Agir dessa forma, se fosse possível, seria naturalmente a coisa certa a se fazer. Mais um motivo para você não ser cristão, se não quiser pagar mico. Hoje em dia ninguém exige o impraticável dos outros ou de si mesmo. Fazer a coisa certa?

Não está mais aqui quem falou.

4 comentários:

Eliane Leite disse...

Acabei de concluir que não sou completamente cristã coisíssima nenhuma!

Lais disse...

Lembre-se de uma coisa muito importante, essa vida que vivemos é curta e passageira, e seguindo os ensinamentos de Jesus, teremos tudo: A vida Eterna!

Pati disse...

Coloquei esse post no meu blog.
A minha mãe acabou de ler e teve um ataque, dizendo que eu tava escrevendo contra o evangelho, que é pra afastar as pessoas de Jesus, etc etc etc.
Ta louca aqui.
Agora alguém me explica, que não to entendendo nada rsrs

Suênio Alves disse...

Oi Pati... talvez sua mãe não percebeu a ironia que este texto usa. Pra mim ele mostra o quanto precisamos caminhar e quão dificil é carregar esta cruz.
Muito diferente deste cristianismo american way of life que está em quase todas as igrejas que conhecemos.
abraços

Related Posts with Thumbnails